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Geral 11/06/2020 10:27
Por: Odete Jochims

Em tempos de pandemia: o batismo de fogo de jovens profissionais da saúde

Pesquisador, médicos e técnica em enfermagem formados a pouco tempo falam de suas experiências em exercer a profissão em meio à crise do coronavírus

  • Murilo: desafio em um cenário único
  • Carla: momento de se cuidar e de respeitar
  • Alice: adaptação em meio às dificuldades
  • Joel: pesquisar como os vírus se disseminam e afetam a saúde das pessoas

A chamada linha de frente no combate ao novo coronavírus é exercida pelos profissionais da área de saúde. Enquanto grande parte da população do mundo, voluntariamente ou não, se resguardava em casa para não correr riscos de contaminação, médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e outros profissionais da área de saúde precisaram tratar, cuidar e diagnosticar as pessoas infectadas ou suspeitas da doença. Se para os profissionais com alguma experiência esta missão tornou-se difícil, para novatos e recém-formados tornou-se ainda mais desafiadora. A Folha contatou alguns candelariense estreantes na profissão para repercutir com seus leitores esse verdadeiro batismo de fogo em meio à pandemia do coronavírus.

JOEL HENRIQUE ELLWANGER

Com 31 anos, Joel Henrique Ellwanger é filho de Gustavo Joel Ellwanger e Denise Ellwanger. Formado em nutrição e em ciências biológicas pela Unisc, é mestre em biologia celular e molecular pela UFRGS e doutor em genética e biologia molecular, também pela UFRGS. Atualmente trabalha como pesquisador em nível de pós-doutorado no Laboratório de Imunobiologtia e Imunogenética do Departamento de Genética da UFRGS, que é o local com maior tradição nesta área no país. Neste período de pandemia, Joel integra uma equipe de pesquisadores convocada pela UFRGS para ajudar na análise e diagnóstico da Covid-19 das amostras enviadas ao Laboratório Central de Saúde Pública do Estado (Lacen).

A escolha da profissão“Durante minha primeira graduação, em Nutrição, me envolvi com diversas atividades de pesquisa na área de biologia celular e molecular. Essa experiência me mostrou que queria dedicar minha carreira inteiramente à pesquisa nesta área, com foco especialmente em estudos no campo da Biologia, onde pudesse integrar questões envolvendo humanos, outros animais, meio ambiente e patógenos. Então ingressei no curso de Ciências Biológicas, me formei novamente, e fui para a UFRGS para me especializar. Me sinto realizado estudando como os diferentes vírus se disseminam nas populações a afetam a saúde humana.”

O batismo em meio à pandemia“Durante o meu doutorado, lidei com patógenos bastante perigosos, entre eles o HIV. Trabalhei em ambientes com diferentes riscos biológicos, tendo adquirido experiência no Hospital de Clínicas de Porto Alegre e em diferentes laboratórios no Brasil e na França. Dessa forma, trabalhar com o novo coronavírus não é algo que me assusta, desde que as normas de biossegurança sejam seguidas de forma rígida.” (confira no site/face da Folha a entrevista completa com o pesquisador Joel Henrique Ellwanger, na qual ele fala mais sobre a experiência e a responsabilidade de trabalhar em uma área científica que trabalha para melhorar a saúde e a vida das pessoas no mundo)."

MURILO HALBERSTADT BESKOW

Com 27 anos, Murilo é filho de Moisés Beskow e Magda Halberstadt Beskow. Cursou o ensino fundamental e médio no Colégio Medianeira e formou-se em Medicina pela Univates. Após trabalhar no PAM central de Candelária, atualmente faz residência médica em traumatologia e ortopedia no Hospital Universitário da Ulbra em Canoas.

A escolha da profissão - “É uma pergunta simples, mas bem difícil de ser respondida. A medicina nos coloca em contato direto com as pessoas, suas histórias, suas complexidades. Sempre tive afeição por ajudar as pessoas; sou curioso, gosto de ler e estudare encontrei a profissão certa na medicina. A medicina também me abre um leque grande de oportunidades.”

O batismo em meio à pandemia “É um desafio e tanto, ainda mais para quem está começando na profissão. É, sem dúvidas, um cenário único. Estar na ‘linha de frente’ em uma doença um tanto desconhecida, sem um tratamento efetivo, tendo como a melhor forma de combate o isolamento social. Mas, tenho certeza de que logo isso tudo vai passar e que guardaremos somente as melhores lembranças desse período.”

ALICE DE MORAES BAIER

Com 25 anos, Alice é filha de Adriana Portella de Moraes Baier e Samuel Baier. Formada em medicina pela Unisc, atualmente está fazendo residência em medicina interna no Hospital Conceição, em Porto Alegre, com previsão de término em 2021.

A escolha da profissão - “A escolha de fazer Medicina começou na minha infância. Sempre fui muito curiosa em relação ao funcionamento do corpo humano e aliado a isso, veio a vontade de prezar pela vida e pelo alívio do sofrimento e da dor.”

O batismo em meio à pandemia - “Para nós, médicos recém-formados, enfrentar o primeiro ano de trabalho diante de uma pandemia mundial é desafiador. Estamos vivendo uma experiência única, lutando contra um vírus cuja única forma de prevenção é o isolamento social. E ainda assim, não podemos esquecer que as outras doenças continuam existindo, e temos que nos adaptar tanto por questão de infraestrutura como também pela falta de profissionais. Mas o que está acontecendo no cenário mundial é também uma motivação. Quando nos formamos em Medicina, não escolhemos cuidar de doenças, e sim de pessoas. Aprendemos a aliviar a dor do corpo e também da mente. É uma exigência muito grande, mas que, por fim, é recompensadora.”

CARLA POLLY

Com 23 anos, Carla Polly é filha de Carlos Alberto Polly e Rosenara de Fátima Pollý. Cursou o ensino fundamental e médio da Escola Lepage, formando-se como técnica em enfermagem pela Unisc. Exerce sua atividade profissional há três meses na Pró-Vida.

A escolha da profissão“Desde de criança o fato de poder ajudar, acolher e cuidar das pessoas me despertava muito. Eu sabia da minha capacidade de poder realizar essas tarefas e que essa profissão exigia muito tudo isso. Então fui em busca do que eu acreditava.”

O batismo em meio à pandemia “Confesso que está sendo um período bem desafiador, em que existe muita cobrança dos profissionais da saúde. Mas também é um período de muito aprendizado. Estou me sentindo muito útil em poder ajudar as pessoas atuando na linha de frente no meio dessa pandemia. Estamos vivendo um momento muito delicado e que traz muito pânico e desconhecimento para as pessoas, pois não temos qualquer referência de tempo e de melhora para tudo isso. Então é momento de se cuidar, de se ajudar, de entender, de respeitar e, principalmente, de não julgar. Infelizmente, todos nós estamos expostos a esse vírus. Então, peço menos julgamentos e mais compreensão da população, pois vários profissionais, especialmente os da saúde como nós, estamos mais vulneráveis para sermos contaminados por este vírus.”