Por: Odete Jochims
Saúde mental de vítimas das enchentes preocupa especialistas
As imagens devastadoras que marcaram o mês de maio ainda ecoam na mente dos gaúchos. Casas submersas, famílias deslocadas e a incerteza sobre o futuro geraram um trauma coletivo que exige atenção e cuidados redobrados. Entre casas destruídas e sonhos adiados, a dor da perda se entrelaça com a garra da superação. É nesse cenário desafiador que a saúde mental se torna crucial para reconstruir vidas e trilhar um futuro promissor.
Conforme o psiquiatra Fernando Uberti, vice-presidente do Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) e coordenador de Políticas Públicas da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), a crise atual é ainda mais grave do que a que foi vivenciada durante a pandemia da covid-19. “Agora temos a imprevisibilidade e o fator muito forte da perda material, da sua casa, um local não só patrimonial, mas também afetivo. Na pandemia, se aguardava uma normalidade externa, mas todo mundo estava em suas casas. Esta é uma situação muito mais ampla, afetando a vida de todo em um ainda nível mais básico”, afirmou em entrevista ao jornal Zero Hora.
De acordo com Cristiane Pradella, psicóloga e coordenadora do Centro de atenção Psicossocial (CAPS) de Candelária, é fundamental compreender que as reações emocionais à tragédia são diversas e naturais. Negação, apatia, desorientação, ansiedade, medo e até mesmo euforia passageira são algumas das emoções que podem surgir nesse momento e devem ser trabalhadas para que se possa seguir em frente. “Sentir as perdas e vivenciar o luto é um processo natural e necessário para seguir em frente. Nessas horas é preciso estar atento aos próprios sentimentos e aos comportamentos daqueles que nos rodeiam. Pois casos de depressão e ansiedade tendem a se agravar. Favorecendo, inclusive, o surgimento de casos de Estresse Pós-Traumático”, relatou.
Para Pradella, durante os primeiros desafios impostos pela enchentes e deslizamentos, quando a preocupação estava diretamente ligada a ser manter seguros e salvar suas coisas, as pessoas não tiveram tempo para considerar o futuro e tudo que envolverá está retomada. No entanto, com o passar dos dias, estes pensamentos e sentimentos vão ficando mais acentuados e podem causar problemas. Neste momento, é comum que as pessoas precisem falar sobre o que vivenciaram. Para isso, o ideal é que se busque apoio profissional.
Nestes casos, quem enfrenta tais dificuldades pode procurar apoio na sua Unidade de Básica de Saúde, onde receberão encaminhamento. Além dos serviços de saúde que já eram oferecidos em Candelária, o município está viabilizando a contratação emergencial de profissionais da área da saúde mental e assistência social. Somando-se a isso, por meio de um projeto liderado pela psicóloga candelariense Luciana Huff, que atualmente vive no Rio de Janeiro, uma equipe de mais de 100 psicólogos está sendo disponibilizada para atendimentos psicológicos online, através de vídeo-chamadas.