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25/08/2009 16:56
Por:

Crimes e causas

* Por Alberto Afonso Landa Camargo
Coronel RR da Brigada Militar, professor

O argumento anterior a justificar as barreiras policiais era porque o “crime anda sobre rodas”, dado a presunção de que a maioria dos criminosos usa automóveis para seus delitos. O novo argumento a justificá-las agora gira em torno da hipótese de que o consumo de bebidas alcoólicas induz ao crime. Como as barreiras continuam a se prestar ao ataque aos automóveis e os estabelecimentos que comercializam álcool sofrem o aumento da fiscalização, é de se presumir que o crime que “anda sobre rodas”, antes, passa por restaurantes, bares e botecos. Uma crença indiscutível, dada a declaração governamental de que “a população percebeu que tem segurança, graças à técnica de barreiras policiais georreferenciadas”.
Apesar da pompa da citação, barreiras definidas conforme o desenvolvimento estatístico de crimes nunca foram uma “técnica”, mas medida meramente paliativa que indica que a prevenção falhou. Já foi dito por experts que “ações de grande aparato e força aplicadas em função do aumento criminal são indicativos de que a polícia falhou na sua missão primordial de prevenir”. Estas ações sempre foram feitas com a finalidade de atacar pontualmente determinado problema. O resultado disto é apenas a migração do crime, que deixa de ocorrer no ponto reforçado para deslocar-se a outro, ficando as estatísticas criminais inalteradas, ou, até, aumentadas. Enquanto uma comunidade elogia a medida, outra acaba sofrendo suas conseqüências. E ainda temos que ouvir eufóricas manifestações tentando induzir-nos à conclusão de que há uma “nova técnica” policial de indubitável sucesso. Nada mais indicativo de candidato que ainda transita por palanques eleitorais e alardeia soluções milagrosas, que, confrontadas com a realidade, não oferecem resultados práticos, eis que segurança é algo concreto e não uma construção metafórica que só persiste na idéia de uma falsa sensação.
E enquanto o crime mascara-se de rodas de automóveis fingindo alimentar-se em bares e restaurantes, ele, na verdade, sutilmente se alimenta e desenvolve de equivocadas políticas sociais e da corrupção nos bastidores do poder, aumentando as desigualdades. A polícia, por vez fazendo o que pode, até inventando eufemismos sobre comportamento criminal, contrasta com outros setores que o alimentam e agem como se não tivessem responsabilidades e tudo dependesse só das polícias.