Por:
Caldo de Galinha
Na TV, a gente vê manifestações e pode avaliar as tendências. É assim na moda, no linguajar e nos posicionamentos políticos.
Vi, outro dia, numa manifestação de rua intitulada “CANSEI”, um grupo de cidadãos reclamando por mais seriedade no trato das coisas públicas. Os cartazes e as faixas externavam o que vai pela alma do nosso povo. “Corruptos na Cadeia”, dizia um cartaz; “Exigimos Seriedade”, pregava um outro; “Agora Chega”, berrava uma enorme faixa conduzida por jovens estudantes.
“Agora Chega” simboliza o fim da tolerância. Significa um grito de repúdio da sociedade a tudo isso que está aí, agredindo as pessoas de bem.
Depois do “Agora Chega”, desse alerta que mostra o limite da nossa tolerância e adverte as autoridades de que não dá mais para suportar tamanho descalabro, o risco que se corre é o da sociedade deixar de lado os avisos e partir para a ação.
O Brasil está repleto de consciências sentindo que “agora chega”. Do filósofo ao apedeuta, do poeta ao brutamontes, do sábio ao idiota, todos se deram conta, cansaram e agora postulam mudanças.
Enquanto as manifestações restringirem-se a faixas, cartazes, passeatas e palavras de ordem, enquanto o desagrado se balizar por discursos impelidos por esse “agora-cheguismo” expresso nas ruas, o tecido social não se rompe. Aperta de um lado, afrouxa do outro e o tecido vai resistindo. O risco todo, nesse estágio de perplexidade, é o clima carburante e propício à explosão que envolve a nação. Se alguém acender um fósforo, as emoções contidas rebentam em súbita e ruidosa violência, colocando em choque as organizações e em risco a própria estrutura nacional.
Já “cansados”, alguns extremistas apregoam uma atitude radical como solução. Defendem um “terra-arrasada” nos valores morais, um rapão nos conceitos, nas normas em vigor e nos princípios que regem a sociedade. Propõem, os radicais, incendiar tudo e, sobre as cinzas ainda quentes, construir uma outra estrutura social, completamente nova e sem os vícios que maculam os conceitos vigentes.
É um ponto de vista, claro que é. Mas será essa a melhor alternativa? Se, no conflito inequívoco da construção forçada da nova ordem, a gente perder um filho, um irmão ou o pai, não terá sido um custo exagerado? Será que não existem outros meios, algum mecanismo mais civilizado, para se chegar a um novo ordenamento?
Mais devagar com o andor que o santo é de barro. Ser niilista é bonito no papel, na teoria, na doutrina filosófica. Na prática, recomenda-se cautela e caldo de galinha, que não fazem mal a ninguém, nem mesmo aos extremistas de plantão.
Por Edemar Mainardi - Engenheiro Civil