Por: Odete Jochims
Albino Lenz: o primeiro prefeito
No centenário de Candelária, a Folha
faz um resgate de uma preciosidade
de seu arquivo. No primeiro ano do
jornal, em 1986, no especial dos 61
anos de Candelária, o jornalista
Marco Mallmann entrevistou o
primeiro prefeito de Candelária,
Albino Lenz, então com 87 anos.
Além de pioneiro, dos 15 prefeitos
que Candelária teve, Lenz foi quem
mais ficou à frente do Executivo: um
total 22 anos e 9 meses em quatro
mandatos distintos. Na conversa,
tratou da emancipação política, da
avenida principal, da situação
precária da administração municipal
em sua origem, do traçado da cidade
e dos períodos difíceis da Segunda
Guerra Mundial
...] Aos 87 anos, o Coronel Albino
Lenz recorda com clareza dos distantes dias em que foi nomeado
o primeiro intendente do recém
emancipado município de Candelária.
Corria o ano de 1925 e Albino Lenz era
então um jovem agropecuarista. “Eu fui
nomeado intendente provisório durante quatro meses. Em 15 de novembro
daquele ano, fui eleito. Mas o começo
não foi nada fácil, as dificuldades eram
muito grandes. Candelária era um distrito de Rio Pardo, e muito pouco recebia. Quando assumi a Prefeitura, o único patrimônio que recebemos de Rio Pardo foi uma carrocinha com uma junta de animais. Os móveis da Prefeitura
tive que comprar do bolso”. Ele confessa que recebeu com surpresa sua indicação. “Eu nem era eleitor daqui, apenas tinha meu estabelecimento. Mas fiquei surpreso porque não tinha uma
ação direta junto à emancipação”.
[...] Diz que houve duas campanhas no
então distrito de Candelária pela emancipação. A primeira, em 1917, “em que
os promotores visavam mais interesses
pessoais e por isso não deu certo”. A segunda, de 1924, “desembocou na emancipação do ano seguinte”. A alusão do
nome Pereira Rego, na época prefeito
de Rio Pardo, revela que, a princípio, fora
contra a emancipação. “Mas depois ele
concordou. Acontece que o movimento
de emancipação era duplo e queriam
transformar Candelária e Sobradinho
num só município. Porém não houve
acordo, porque cada um queria ter a
sede. E depois, com o município emancipado, em gratidão pela boa vontade
dele, deram o nome da rua principal de
Avenida Pereira Rego. Só que de ‘avenida’ não tinha nada”.
[...] “A Avenida Pereira Rego de hoje
chamava-se Rua do Comércio. Chamavam de rua, mas não passava de uma
estrada. A primeira compostura dessa
estrada exigia 200 metros cúbicos de
cascalho só para fechar os buracos. Tirava-se tatu do meio da rua, e quando
chovia era uma lagoa só. Hoje, ninguém
acredita nisso”.
O Coronel Albino parece fascinado
em buscar, do fundo de sua memória, a
história do município. “O transporte era
todo feito com carroças puxadas a boi.
Havia quatro automóveis na cidade, e a
Prefeitura não tinha nenhum. Naquela
época, a cidade possuía 120 moradias, a
metade de material e a outra de chalés. A
população era de mais ou menos 600
habitantes”.
O primeiro prefeito do município [...]
lembra bem das dificuldades da época.
“Nosso primeiro serviço foi de traçar as
ruas, porque só havia uma. Existiam apenas estradinhas de chácaras com porteira, que davam para a rua principal. Felizmente, quase todos os proprietários
cederam os terrenos para abrir as ruas.
Com isso, poupei uma imensidade de
dinheiro em desapropriação. Além disso, competia-nos zelar, apesar do município ser pequeno e os recursos mínimos, pelas nossas estradas de ligação
com Santa Cruz, Bexiga (para Rio Pardo), Sobradinho e Cachoeira (por Cerro Branco). Todo o trabalho de composição era feito a braço. A primeira patrola eu comprei muito mais tarde, em outro mandato”. Ao todo, o Coronel Albino
Lenz esteve à frente do Executivo de
Candelária por mais de 20 anos. E ele
acompanhou uma das épocas mais difíceis do município [...]. “Tivemos um
período de estagnação, durante a Segunda Guerra Mundial, quando não recebemos recurso algum.
Nessa época, de
1936 a 1945, eu fui o prefeito. E tive que
aparar muitos golpes. Todos que tinham
nome alemão eram perseguidos pelo
estado, pelo chefe de polícia e pelo delegado. Era proibido falar alemão. Se encontrassem alguém falando, prendiam.
Numa ocasião, fui a Porto Alegre solicitar recursos para o município e o responsável pela liberação da verba me
perguntou como eu deixava que a população falasse alemão se era considerado
um crime de lesa-pátria. Respondi a ele
que eu mesmo falava alemão em meu
gabinete, porque quem paga os impostos são os colonos. E ponderei que falar
uma língua é sinal de cultura, e não de
lesa pátria. Ele acabou me dando razão,
disse até que ia ajudar, mas não ajudou nada. "
Por : Arthur Lersch Mallmann