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Geral 04/07/2025 14:52
Por: Odete Jochims

Albino Lenz: o primeiro prefeito

  No centenário de Candelária, a Folha faz um resgate de uma preciosidade de seu arquivo. No primeiro ano do jornal, em 1986, no especial dos 61 anos de Candelária, o jornalista Marco Mallmann entrevistou o primeiro prefeito de Candelária, Albino Lenz, então com 87 anos. Além de pioneiro, dos 15 prefeitos que Candelária teve, Lenz foi quem mais ficou à frente do Executivo: um total 22 anos e 9 meses em quatro mandatos distintos. Na conversa, tratou da emancipação política, da avenida principal, da situação precária da administração municipal em sua origem, do traçado da cidade e dos períodos difíceis da Segunda Guerra Mundial

  ...] Aos 87 anos, o Coronel Albino Lenz recorda com clareza dos distantes dias em que foi nomeado o primeiro intendente do recém emancipado município de Candelária. Corria o ano de 1925 e Albino Lenz era então um jovem agropecuarista. “Eu fui nomeado intendente provisório durante quatro meses. Em 15 de novembro daquele ano, fui eleito. Mas o começo não foi nada fácil, as dificuldades eram muito grandes. Candelária era um distrito de Rio Pardo, e muito pouco recebia. Quando assumi a Prefeitura, o único patrimônio que recebemos de Rio Pardo foi uma carrocinha com uma junta de animais. Os móveis da Prefeitura tive que comprar do bolso”. Ele confessa que recebeu com surpresa sua indicação. “Eu nem era eleitor daqui, apenas tinha meu estabelecimento. Mas fiquei surpreso porque não tinha uma ação direta junto à emancipação”.
   [...] Diz que houve duas campanhas no então distrito de Candelária pela emancipação. A primeira, em 1917, “em que os promotores visavam mais interesses pessoais e por isso não deu certo”. A segunda, de 1924, “desembocou na emancipação do ano seguinte”. A alusão do nome Pereira Rego, na época prefeito de Rio Pardo, revela que, a princípio, fora contra a emancipação. “Mas depois ele concordou. Acontece que o movimento de emancipação era duplo e queriam transformar Candelária e Sobradinho num só município. Porém não houve acordo, porque cada um queria ter a sede. E depois, com o município emancipado, em gratidão pela boa vontade dele, deram o nome da rua principal de Avenida Pereira Rego. Só que de ‘avenida’ não tinha nada”. 
  [...] “A Avenida Pereira Rego de hoje chamava-se Rua do Comércio. Chamavam de rua, mas não passava de uma estrada. A primeira compostura dessa estrada exigia 200 metros cúbicos de cascalho só para fechar os buracos. Tirava-se tatu do meio da rua, e quando chovia era uma lagoa só. Hoje, ninguém acredita nisso”. 
  O Coronel Albino parece fascinado em buscar, do fundo de sua memória, a história do município. “O transporte era todo feito com carroças puxadas a boi. Havia quatro automóveis na cidade, e a Prefeitura não tinha nenhum. Naquela época, a cidade possuía 120 moradias, a metade de material e a outra de chalés. A população era de mais ou menos 600 habitantes”. 
  O primeiro prefeito do município [...] lembra bem das dificuldades da época. “Nosso primeiro serviço foi de traçar as ruas, porque só havia uma. Existiam apenas estradinhas de chácaras com porteira, que davam para a rua principal. Felizmente, quase todos os proprietários cederam os terrenos para abrir as ruas. Com isso, poupei uma imensidade de dinheiro em desapropriação. Além disso, competia-nos zelar, apesar do município ser pequeno e os recursos mínimos, pelas nossas estradas de ligação com Santa Cruz, Bexiga (para Rio Pardo), Sobradinho e Cachoeira (por Cerro Branco). Todo o trabalho de composição era feito a braço. A primeira patrola eu comprei muito mais tarde, em outro mandato”. Ao todo, o Coronel Albino Lenz esteve à frente do Executivo de Candelária por mais de 20 anos. E ele acompanhou uma das épocas mais difíceis do município [...]. “Tivemos um período de estagnação, durante a Segunda Guerra Mundial, quando não recebemos recurso algum. 
Nessa época, de 1936 a 1945, eu fui o prefeito. E tive que aparar muitos golpes. Todos que tinham nome alemão eram perseguidos pelo estado, pelo chefe de polícia e pelo delegado. Era proibido falar alemão. Se encontrassem alguém falando, prendiam. Numa ocasião, fui a Porto Alegre solicitar recursos para o município e o responsável pela liberação da verba me perguntou como eu deixava que a população falasse alemão se era considerado um crime de lesa-pátria. Respondi a ele que eu mesmo falava alemão em meu gabinete, porque quem paga os impostos são os colonos. E ponderei que falar uma língua é sinal de cultura, e não de lesa pátria. Ele acabou me dando razão, disse até que ia ajudar, mas não ajudou nada. "

Por : Arthur Lersch Mallmann