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Geral 25/07/2025 09:29
Por: Michele Freitas

O Salão da Linha Facão e seus 127 anos de história

Entre trabalho, danças e tradições, o antigo prédio erguido em 1898 resiste como símbolo da herança dos colonos e do espírito comunitário que moldou a região

Na localidade de Linha Facão, interior de Candelária, um prédio centenário se impõe como testemunha silenciosa da bravura e fé dos colonos que desbravaram a região. Com 127 anos de existência, o antigo salão comercial, construído em 1898, recebeu incontáveis bailes e festas. Hoje, permanece de pé sob cuidados do casal Claudete Lativia Thom Mueller, 75 anos, e Celso José Mueller, 77, ambos agricultores.

O casarão foi herdado por Claudete após o falecimento de seu pai, no ano de 1999. Anos antes, ele havia adquirido o imóvel de uma imobiliária. Segundo Celso, apesar de ter sido construído no século 19, o primeiro registro oficial em cartório foi somente em 1905. O comerciante Lothar Schtaileker foi o primeiro a movimentar o local, transformando-o em um entreposto fundamental para os moradores da região.

Na época em que carroças e cavaleiros cruzavam os caminhos de chão batido, o comércio servia como ponto de troca de produtos coloniais, como queijo, banha, milho, feijão, que seguiam rumo à cidade de Rio Pardo e, de lá, alcançavam o restante do país por trem e barco.

O prédio servia também como pouso para viajantes e palco para histórias compartilhadas em rodas improvisadas. Segundo Celso, moradores mais velhos contam que, à noite, o local se transformava em ponto de encontro, sob a luz fraca das lamparinas, com a conversa correndo solta.

Com o passar das décadas, o antigo comércio se reinventou, passou por reformas pontuais como a troca das janelas, respeitando sempre o design original.  Tornou-se salão de bailes e palco de festas memoráveis, especialmente durante as tradicionais Festas do Colono, que marcaram gerações com danças, risos e abraços. A última grande celebração foi realizada nos anos 1990, mas o espírito das comemorações ainda paira no ambiente, preservado na estrutura original que resiste ao tempo.

O antigo salão da Linha Facão é mais do que barro, madeira e telha: é herança viva de uma gente que cultivou tradições, construiu identidade e deixou raízes profundas no solo que escolheu como lar.  No Dia do Colono, a homenagem vai além da lavoura, celebra-se também os espaços que foram palco de vivências, trabalho e celebrações. E entre tantos outros, o Salão da Linha Facão segue firme como guardião da memória de um povo que nunca se esqueceu de onde veio.