Por: Michele Freitas
O Salão da Linha Facão e seus 127 anos de história
Entre trabalho, danças e tradições, o antigo prédio erguido em 1898 resiste como símbolo da herança dos colonos e do espírito comunitário que moldou a região
Na localidade de Linha Facão, interior de Candelária, um
prédio centenário se impõe como testemunha silenciosa da bravura e fé dos colonos
que desbravaram a região. Com 127 anos de existência, o antigo salão comercial,
construído em 1898, recebeu incontáveis bailes e festas. Hoje, permanece de pé
sob cuidados do casal Claudete Lativia Thom Mueller, 75 anos, e Celso José
Mueller, 77, ambos agricultores.
O casarão foi herdado por Claudete após o falecimento de seu pai, no ano de 1999. Anos antes, ele havia adquirido o imóvel de uma imobiliária. Segundo Celso, apesar de ter sido construído no século 19, o primeiro registro oficial em cartório foi somente em 1905. O comerciante Lothar Schtaileker foi o primeiro a movimentar o local, transformando-o em um entreposto fundamental para os moradores da região.
Na época em que carroças e cavaleiros cruzavam os
caminhos de chão batido, o comércio servia como ponto de troca de produtos
coloniais, como queijo, banha, milho, feijão, que seguiam rumo à cidade de Rio
Pardo e, de lá, alcançavam o restante do país por trem e barco.
O prédio servia também como pouso para viajantes e palco
para histórias compartilhadas em rodas improvisadas. Segundo Celso, moradores
mais velhos contam que, à noite, o local se transformava em ponto de encontro,
sob a luz fraca das lamparinas, com a conversa correndo solta.
Com o passar das décadas, o antigo comércio se
reinventou, passou por reformas pontuais como a troca das janelas, respeitando
sempre o design original. Tornou-se
salão de bailes e palco de festas memoráveis, especialmente durante as
tradicionais Festas do Colono, que marcaram gerações com danças, risos e
abraços. A última grande celebração foi realizada nos anos 1990, mas o espírito
das comemorações ainda paira no ambiente, preservado na estrutura original que
resiste ao tempo.
O antigo salão da Linha Facão é mais do que barro,
madeira e telha: é herança viva de uma gente que cultivou tradições, construiu
identidade e deixou raízes profundas no solo que escolheu como lar. No Dia do Colono, a homenagem
vai além da lavoura, celebra-se também os espaços que foram palco de vivências,
trabalho e celebrações. E entre tantos outros, o Salão da Linha Facão segue
firme como guardião da memória de um povo que nunca se esqueceu de onde veio.