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25/08/2009 16:56
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Tudo como era antes

“Tudo estava igual como era antes, quase nada se modificou, acho que só eu mesmo mudei, e voltei. Eu voltei, agora pra ficar, pro caqui, caqui é o meu lugar”... Ao som do imortal Roberto Carlos, homenageando esta fruta também indispensável, o colunista retoma seus trabalhos fazendo jus às cifras e às gordas gorjetas enviadas por milhares de leitores a cada dia. Parte do meu cérebro esteve em férias nas últimas semanas, o que justifica a não-publicação da coluna. Também o calor do verão, somado às notícias trágicas, têm influido diretamente na minha vontade de escrever.

Apenas um adeus
Sim, dentro do meu peito pulsa um coração bastante chateado com a gama de notícias ruins que têm ocorrido nestas duas últimas semanas, como as mortes do Mikito, do Chiquinho, do Rafael, do Mauro e do Jair. Passo longe do senso comum e, mais do que platidude, considero retardo mental tirar proveito de tragédias como estas e ir além de externar meus sentimentos de pesar às famílias das vítimas, mas a vida segue o rumo. Inevitavelmente para quem fica, nem tudo ficará como era antes, porém ir além destas palavras seria hipocrisia de minha parte. Fica o adeus!

Nem tudo como era antes
Faz tempo, eu sei, mas nem tanto tempo assim. E é só o tempo que dá margem para discorrer sobre assuntos como o próximo, sugerido por uma amiga e leitora que me questionou dia desses ao levarmos nossos filhos à escola. Perguntou ela: o que aconteceu com os bailes de debutantes? Pois eu não sei se é por falta de dinheiro dos pais ou por precocidade das filhas que os bailes de debutantes simplesmente sumiram do mapa. Mas que eram bonitos estes bailes, ah, eram, sim. Pelo menos uma vez por ano os meninos usava smokings e as meninas, lindos vestidos longos ao serem apresentadas à sociedade. Vez por outra a gente se via observado por casais de mais idade com sorrisos simpáticos. Os pimpões estufavam o peito, decerto orgulhosos pelas vestimentas impecáveis. Um drink que outro no charmoso balcão ou à mesa decorada do clube durava quase que meio baile, não por falta de dinheiro, mas porque o consumo de bebida não era tão desenfreado como é hoje. E como era tão fácil de convidar uma menina para dançar. Valsa, alguns passos de bolero, um pra cá, dois pra lá em outro ritmo e todo mundo dançava. A orquestra sempre colaborava e não me lembro de nenhuma briga nos bailes de debutantes. Acredito que ainda hoje todo pai que tem uma filha mulher sonha em levá-la a um baile de debutantes. Não, não é nem um ataque de misantropia contemporânea ou coisa assim. A juventude está assolada pelo excesso de informações e o consumismo desenfreado e os pais têm cada vez menos tempo para tentar pôr freio a certos excesso. Em razão disso, há de se convir que programas sadios e alternativos comecem a ser inseridos neste menu, uma vez que é justamente nesta fase que o caráter dos jovens é moldado. Hoje, a apresentação à sociedade é um batismo num cálice, digo, numa lata de cerveja, e depois outra, e mais outra, para, ao fim, todos assistirem à cena deplorável de seres bêbados cambaleantes pelas ruas, e isso na precocidade de seus 11, 12, 13 anos de idade. A música, principalmente o funk, que muitos têm como expressão corporal, não passa de uma apologia ao sexo, ou não é a ele que as letras e os passos nos remetem? As brigas estão mais comuns, só que penderam para outro lado e são bem piores do que sair no soco. São bem mais públicas também, pois dá pra ver o resultado em scraps no Orkut no dia seguinte. “Ah, migah, naum fica trist acim. Ele naum ti mereci! Deicha q ele fik com a vagaba”. No outro dia a “migah” que mandou o recado é quem dorme com o cara. E assim vai. Não sei se tenho este direito, mas com o propósito de resgatar pelo menos um pouco do que era bonito e puro, faço um pedido à direção do Clube Rio Branco e aos pais de moças com idade para debutar: dá para ao menos tentar fazer um baile destes? Não acho que o mundo e os conceitos vão mudar com isso, mas gostaria muito de estar enganado. Sabe o que é, é que eu não sei dançar funk...