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25/08/2009 16:56
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Os moradores do centro e a falta de sossego

De um lado, jovens interessados em mostrar a capacidade e o volume dos equipamentos de som de seus carros. De outro, os moradores do centro que querem exercitar o sagrado direito ao repouso noturno. A proximidade entre essas duas vontades diferentes gera inevitáveis conflitos. Porém, a contrariedade e o desconforto se manifesta apenas em um dos lados. O lado dos que estão em suas casas e sofrem com os efeitos dessa convivência indesejada.
É certo dizer-se que este não é um problema exclusivo da cidade de Candelária. Seja como for, as queixas em relação aos abusos cometidos são cada vez mais constantes e convincentes. Há quem confesse que torce para chover nos finais de semana, única circunstância garantidora do sossego. Porém, o final do inverno e a chegada das estações mais quentes indicam meses difíceis pela frente. A reportagem da Folha colheu alguns depoimentos para ilustrar o grau de dificuldade de quem se vê obrigado a conviver com os excessos alheios.
DESAFOROS - Moradora da Av. Pereira Rego há 60 anos, Ilse Ziemann, de 78 anos, lamenta que perdeu completamente o direito ao sossego. Nem mesmo a idade avançada e os inúmeros apelos parecem surtir efeito. “Não consigo nem assistir televisão”, conta a aposentada, que teve que colocar escoras de papel nas janelas e portas em razão da trepidação causada pelo barulho da rua. Ela diz que já cansou de falar, mas que seguidamente ouve desaforos. “Já mandaram até eu me mudar. No fim da minha vida será que vou ter que sair da minha casa?”. Mas entre tantas situações constrangedoras, nenhuma incomodou tanto Ilse como uma cena vivida último domingo. Ao abrir a porta da frente, um jovem do outro lado da rua, escutando um som com o volume bastante alto, fez piadinhas para ela e, em seguida, baixou as calças e mostrou o traseiro. “Não sei mais o que fazer, nem a quem recorrer”, lamenta.
PISTA DE CORRIDA - Um morador da Avenida Pereira Rego que prefere não se identificar por medo de represálias afirma estar cansado. Ele conta que tem procurado apoio da prefeitura e da polícia, mas observa que não está tendo resultado. “Até ovo já jogaram na minha casa”, queixa-se. Segundo conta, muitas vezes a polícia já foi chamada, mas de nada adianta. “Quando a viatura se aproxima a gurizada baixa o volume, mas quando sai aumentam o som dos carros novamente”, revela. Ele ainda explica que, mesmo quando a BM pede para que as pessoas saiam, a perturbação continua. “Os baderneiros fazem da Pereira Rego uma pista de corrida e em provocação aos moradores aceleram os carros. Será que estão perdendo a cabeça? O respeito já perderam faz tempo”, pondera. Ele ainda sugere à polícia para que saia do quartel e estacione na esquina da Pereira Rego com a Bento Gonçalves ao menos nos finais de semana e vésperas de feriado.
O advogado Amílcar Kaercher diz que perto de sua residência, situada na frente da praça, o barulho parou um pouco nos últimos tempos, mas que em algumas noites o som alto ainda predomina no meio da madrugada. “A convivência é horrível; o barulho da rua chega a trepidar os vidros da casa”, conta, revelando que por duas vezes já teve que trocar as vidraças. Kaercher ainda conta que por várias vezes já teve que intervir, levantar da cama durante a noite e pedir para que jovens baixassem o volume do som.
A discussão não é nova e, ocasionalmente, é mencionada por autoridades. Verifica-se, no entanto, diante dos relatos ouvidos, que é chegada a hora de se estudar medidas mais eficazes contra os evidentes excessos e abusos cometidos nas noites candelarienses. É pacífico nas normas de convivência que a liberdade ou o direito de uma pessoa pode ir até onde fere o de outra.