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O que leva uma pessoa a tirar a pr?pria vida?
Somente esta semana em Candelária foram duas mortes por suicídio e mais uma possível tentativa na praça Alberto B. da Silveira de um homem que teria tentado se matar com veneno utilizado em lavouras. Nos últimos cinco anos foram 23 casos registrados no município. Episódios que se somam a outras estatísticas preocupantes. Segundo a Organização Mundial da Saúde, somente no ano de 2000 um milhão de pessoas estiveram em risco de cometer suicídio no mundo. No Brasil, dados dão conta de que 4,9 pessoas a cada 100 mil morrem desta forma, sendo o Rio Grande do Sul o estado que mais merece atenção, com 11 registros para cada 100 mil habitantes.
Conforme a psicóloga Graziele Mahl, da secretaria municipal de Assistência Social e Habitação, o suicídio é uma das dez maiores causas de morte em todos os países, merecendo atenção especial de todos. Os transtornos que mais desencadeiam óbitos neste sentido são, principalmente, transtornos de personalidade, transtornos de humor (como a depressão) e problemas emocionais. Os motivos desencadeantes podem ser, ainda, as causas ideológicas, os motivos religiosos, a vergonha, a culpa, a ruína financeira, as doenças do corpo e da mente, a solidão, o medo do futuro, as perdas amorosas, enfim, a perda das relações objetais, e até mesmo o suicídio como uma forma de querer continuar existindo no desejo do outro ou advindo do desejo desse outro.
IMPORTANTE – O suicídio é considerado um sério problema de saúde pública, segundo explica Graziela. Neste sentido, merece atenção especial de todos, já que o impacto psicológico e social que causa nas famílias e na sociedade é imensurável. “É importante prestar atenção nos transtornos, pois todos devem ser tratados para evitar o risco de suicídio”, pondera. Além disso, ela ressalta que é preciso atenção especial a tentativas anteriores de suicídio, já que por si só a ameaça é um sinal de alerta. “Devemos descobrir o que essa comunicação esconde. Qualquer gesto suicida deve ser levado a sério”, explica.
Tratamento
Conforme a OMS, uma proporção substancial de pessoas que cometem o suicídio morrem sem nunca serem vistos por um profissional de saúde. Segundo a psicóloga Graziela Mahl, identificar, avaliar e manejar pacientes com risco de suicídio é uma importante tarefa para os profissionais de saúde, pois isso é fundamental na presença do suicídio. A combinação de medicação e psicoterapia, através de uma aliança terapêutica consistente, constitui um dos fatores de sucesso no tratamento, sendo a internação hospitalar necessária em alguns casos. “Além disso, o apoio familiar e de pessoas próximas, como colegas de trabalho e amigos, é essencial para o tratamento de pessoas com risco de suicídio”, aconselha.
Casos em Candelária
Informações levantadas pela Folha apontam que nos últimos cinco anos 23 pessoas cometeram o suicídio em Candelária. A maior incidência ocorre sempre de outubro a março, com índices mais elevados em janeiro e fevereiro. Em 2003 foram quatro mortes por suicídio, ocorrências também repetidas em 2004. Já em 2005, foram cinco morte suicidas e seis óbitos no ano passado. Em 2007, já foram quatro casos de suicídio no município.
O suicídio sob a visão da fé
A reportagem da Folha conversou com representantes de diferentes crenças para ver como cada segmento trata a questão do suicídio. Veja abaixo a opinião de católicos, luteranos e espíritas.
ESPÍRITAS - Para os espíritas, o suicídio é uma fuga daquele que entende não suportar a carga da vida e tenta se livrar dela. Segundo Carlos Rodrigues, na origem evolutiva do espírito a conservação da vida lhe é impressa de forma profunda. “Para recusar o viver somente um forte desequilíbrio”, justifica. Ele ainda explica que o que acontecerá ao suicida dependerá da forma e circunstância que o levaram ao ato. “A responsabilidade será de acordo com o grau de consciência”, defende. No entanto, ele pondera que o suicídio é desperdício de preciosa oportunidade na escola terrena. “O suicida retarda sua jornada de ascensão e angelitude”, explica.
CATÓLICOS - Segundo o padre Loreno Konzen, da Igreja Católica Nossa Senhora da Candelária, no passado o catolicismo tinha certo preconceito contra os suicidas. No entanto, depois do Conselho Vaticano II, realizado entre os anos de 1962 e 1965, e com maior compreensão da psicologia, as coisas mudaram. “Temos mais entendimento sobre o assunto e percebemos que não se pode logo julgar as pessoas”, argumenta. Ele ainda pondera que, diferentemente do passado, a igreja ora pelos cidadãos que atentaram contra a própria vida e realiza os atos fúnebres. No entanto, ressalta que suicídio contradiz a inclinação natural do ser humano a conservar e perpetuar a própria vida e que cabe ao suicida acertar suas contas com Deus.
LUTERANOS - Segundo o pastor Ismar Pinz, a Igreja Luterana crê e ensina que a morte é um momento de definição e que aqueles que morreram em Cristo serão salvos. “Os que morreram longe de Cristo serão condenados, pois não há salvação longe de Jesus (At 4.12)”, diz. Ele ressalta que o perdão e a salvação conquistados por Jesus se tornam das pessoas mediante sua fé e que, em relação ao suicídio, teoricamente se interpreta que o cristão perdeu a fé, perdeu a esperança e, por conseqüência, estava longe de Cristo, sendo assim condenado. “No entanto, o julgamento não pertence a nós seres humanos, mas sim a Deus”, argumenta. Ismar ainda explica que antigamente não se faziam cerimônias de sepultamentos de suicidas nas igrejas luteranas. “Hoje fazemos, pois temos a clareza de que as palavras das cerimônias são de consolo e alerta aos vivos e não aos mortos”, conclui.