Logo Folha de Candelária
Geral 15/10/2020 15:24
Por: Redação

A missão do professor exige alma, coração e conhecimento

Professora das séries iniciais fala sobre o desafio de ensinar em meio à pandemia do novo coronavírus

  • Entre as atividades realizadas, o drive thru para distribuição de material
  • Juliana Braga com a filha Gabriela

Muito se fala a respeito da importância do papel do professor na construção de uma sociedade. A data de 15 de outubro, dedicada a homenagear este profissional, se por um lado é uma forma de reconhecimento, por outro não dá conta de falar sobre os constantes desafios que o exercício do ensino impõe. Pelo fato de a sociedade estar em constante evolução, as formas de ensinar exigem dos professores uma constante reinvenção, tanto de si mesmos como das maneiras de conduzir seu trabalho. Nesta pandemia do novo coronavírus, não foi diferente. E se para os professores dos anos mais adiantados já foi difícil atender às exigências impostas por essa situação, para os educadores das séries iniciais o desafio foi ainda maior. Vejamos por quê.

Quem fala sobre essa questão é a professora Wanessa Braga, que leciona na Escola Rio Branco. Segundo Wanessa, é usual, na educação infantil, usar muito a interação, através de brincadeiras, acolhimento, sendo fundamental também contatos mais diretos, como afagos, para que as crianças se sintam realmente acolhidas. Com a pandemia, todas essas formas de linguagem não foram mais possíveis. Ao contrário: com todos alarmados pela gravidade da situação, as aulas foram interrompidas de um dia para o outro. De acordo com a professora, como a pandemia se instaurou no início do ano, em alguns casos não foi possível sequer conquistar os alunos, por eles se encontrarem ainda em fase de adaptação à escola. E de repente, de uma hora para outra, todos tiveram que permanecer em suas casas. Diante disso, mais uma vez, os professores se viram na necessidade de se reinventar – dessa vez para mandar atividades para os alunos fazerem em suas casas, juntamente com seus pais.

Wanessa hoje vê esse período como uma espécie de recomeço. Passados vários meses, ela está em condições de avaliar o quanto os professores da educação infantil cresceram com a experiência, tanto para o exercício da educação quanto como pessoas. Wanessa ressalta que não era hábito elaborar atividades para serem feitas em casa, pois a antiga realidade era estar com as crianças, brincar com elas, fazendo com que elas passassem a ver a escola como seu segundo lar. E tudo isso ficou comprometido. Conforme Wanessa, toda a afetividade usada em sala de aula precisou ser repensada e redirecionada. E isso foi feito, segundo ela, com muito esforço, e também com muito carinho. Segundo a professora, durante toda a pandemia, a escola desenvolveu um forte vínculo com as famílias dos alunos, ligação que define como sendo “maravilhosa”. Tendo atingido esse ideal, nenhum dia foi perdido na educação dos pequenos, ao longo de toda a pandemia.

E assim, diante das novas imposições, a escola teve pleno êxito em reconstruir, literalmente, essa afetividade. Isso foi feito também para que as crianças não perdessem o vínculo com a escola, ao mesmo tempo fortalecendo os laços familiares. Nesse sentido, conforme determinação da secretaria municipal de Educação, foram elaboradas atividades para cada mês, com tarefas que estimulassem a curiosidade e vontade de aprender por parte dos alunos. Entre as atividades, a partir dos meses de abril e maio, foram feitas visitas às casas dos alunos, com transporte disponibilizado pela secretaria de Educação, denominada “Visita mágica”. Posteriormente, foi realizado um drive thru, em frente à escola, para entrega de materiais, com a participação de quase todas as famílias: “Foi uma manhã especial”, descreve Wanessa. Houve ainda as vídeo-aulas, entre outras atividades, com uma surpresa reservada para o Dia da Criança, dia 12 próximo.

A professora Juliana Feldmann Braga, professora dos anos iniciais e mãe da aluna Gabriela, de 5 anos, afirma que, mesmo que a filha tenha sentido falta dos colegas e da professora, a Escola Rio Branco se notabilizou pela maneira como soube se organizar quanto ao planejamento das atividades, mantendo o vínculo entre as turmas. Além disso, conforme ressalta, a escola não se limitou ao mero planejamento de atividades, mas criou momentos e estratégias de aproximação, superando a barreira da distância. Ela exemplifica citando o drive thru, as vídeo-chamadas semanais e o compartilhamento de atividades através de redes sociais. Destaca ainda o fato de os exercícios envolverem a ludicidade e a fantasia, fundamentais por se tratar do ensino a crianças – embora, na sua opinião, nada substitua a aula presencial.

Sobre o Dia do Professor, Wanessa se emociona ao falar sobre a data e de seu trabalho, respondendo à pergunta citando o educador Paulo Freire, que, segundo ela, a define: não se pode falar sobre educação sem falar em amor. De acordo com seu modo de ver, o professor exerce uma função privilegiada. Afirma que o dia 15 de outubro é uma data que gosta muito de comemorar, pelo fato de ela se dedicar “com alma, coração e conhecimento” ao que faz. Tanto que não se imagina realizando outra atividade. Como aspecto essencial para ser professor, destaca o amor: “Isso não muda nunca. E ele vem de dentro”, finaliza.