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25/08/2009 16:56
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Os nascimentos antes de Cristo

A palavra Natal, em nenhum momento, é mencionado na Bíblia. Nem, tampouco, está entre as comemorações instituídas por Deus, no Antigo Testamento. Também Cristo nada determinou aos seus discípulos com referência ao seu nascimento, mas apenas ao Seu sacrifício, ordenando-lhes que celebrassem Sua morte, durante a última ceia: “E, tomando o pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós.” (Lucas 22:19).
Para os seguidores de Deus, tanto na Antigüidade como na época de Cristo, o nascimento de uma pessoa não merecia qualquer registro ou destaque. Talvez até porque os que nasciam, dentre o povo de Deus, tinham uma vida árdua e de sofrimento, escravidão e perseguição, onde os escolhidos eram levados a suportar provações físicas e psicológicas todos os dias. Para eles, não havia liberdade. E as únicas duas datas, mencionadas nas Escrituras, relacionadas a aniversários, tem a ver com orgias, mortes e execuções: “No terceiro dia, que era aniversário de nascimento do Faraó, deu este um banquete a todos os seus servos; e, no meio destes, reabilitou o copeiro-chefe e condenou o padeiro-chefe. Ao copeiro-chefe reintegrou no seu cargo, no qual dava o copo na mão do Faraó; mas ao padeiro-chefe enforcou, como José havia interpretado” (Gênesis 40, 20-22). A outra passagem bíblica afirma: “E, chegando um dia favorável, em que Herodes no seu aniversário natalício dera um banquete aos seus dignitários, aos oficiais militares e aos principais da Galiléia, entrou a filha de Herodias e, dançando, agradou a Herodes e aos seus convivas. Então, disse o rei à jovem: Pede-me o que quiseres, e eu to darei. E jurou-lhe: Se pedires mesmo que seja a metade do meu reino, eu ta darei. Saindo ela, perguntou a sua mãe: Que pedirei? Esta respondeu: A cabeça de João Batista. No mesmo instante, voltando apressadamente para junto do rei, disse: Quero que, sem demora, me dês num prato a cabeça de João Batista. Entristeceu-se profundamente o rei; mas, por causa do juramento e dos que estavam com ele à mesa, não lha quis negar. E, enviando logo o executor, mandou que lhe trouxessem a cabeça de João Batista.”.
Portanto, a noção de aniversário, entre os povos antigos, refere-se sempre a pagãos e idólatras, sem qualquer vínculo cristão. Possivelmente, esta seja uma das razões pelas quais nem o nascimento do próprio Cristo foi data assinalada pelos seus discípulos, mantendo apenas, como únicas informações, que uma estrela brilhou para os reis magos: “E perguntavam: Onde está o recém-nascido Rei dos judeus? Porque vimos a sua estrela no Oriente e vimos para adorá-lo” (Marcos 2, 2), e que pastores guardavam seus rebanhos nos campos: “Ora, havia naquela mesma região pastores que estavam no campo, e guardavam os seus rebanhos, durante as vigílias da noite” (Lucas 2, 8). Assim, tinha importância, para os seguidores de Deus, o nascimento de Cristo em si, e não a data específica do acontecimento.

Marli Marlene Hintz
pesquisadora e escritora,
autora de Retalhos de Candelária,
da pré-história à colonização européia