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25/08/2009 16:56
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Antigos natais em Candel?ria

Conversar com pessoas sobre os antigos natais provoca geralmente a mesma reação: olhares de saudosismo que, por vezes, marejam a visão, seguidos de comentários idênticos: “Ah, naquele tempo era muito mais bonito! Tinha um outro clima! Hoje os natais quase não têm mais graça”.
Dentre os natais relembrados, os que merecem destaque foram os vivenciados pelos alunos da antiga Escola Sinodal, principalmente nos seus primeiros anos de funcionamento no novo prédio, (1934 - 1939), quando ainda não havia a perseguição aos alemães.
Na escola, conviviam cerca de 200 alunos internos, os quais se transformavam em uma grande família, pois muitos, oriundos até de outros países, reviam seus pais apenas nas férias. E para recepcionar os pais todos os finais de ano, quando estes buscavam seus filhos, ocorria o grande acontecimento, durante o dia todo. Alguns alunos entoavam hinos natalinos, outros representavam peças teatrais de temas cristãos, num ambiente ao ar livre, onde um palco era montado, ornamentado com flores e ramagens de palmeiras e coqueiros. “Era um momento único que nos marcou para sempre, pela mistura de alegria e tristeza. Alegria por revermos nossos pais e irmãos de sangue; tristeza, porque passaríamos longos dias longe daqueles pais (professores e funcionários) e irmãos (colegas) adotados, com os quais tínhamos tido tão belos momentos de alegria compartilhados ao longo do ano. Como era lindo! Todos numa confraternização conforme nos ensinou Cristo. Era uma festa em que não havia brigas, nem bêbados”, relembra Renata Lúcia Tornquist.
Também nas famílias o ambiente era mágico, desde o início do advento. Mais numerosas por natureza, era um encontro de gerações e parentescos hoje quase des-considerados.
Uma tradição, trazida da Alemanha pelos imigrantes, era a da guirlanda de mesa, a qual continha quatro velas. As velas eram acesas sucessivamente a cada domingo, iniciando no primeiro do advento. “Ao escurecer, as famílias se reuniam. Entoavam cantigas alemãs ao som de instrumentos. E aí se acendia a primeira vela”, relata dona Nelda Petry Benemann. Vera Beurmann conta que sua mãe (Elvira) tocava cítara; seu pai (Elemar Hintz), violino; a tia Nelda, cítara e o tio Nicolau, violão.” Como havia poucas casas ainda, Dona Nelda contou que, “de repente, durante as cantigas, surgia o Papai Noel no potreiro ao lado”. “Ela não entrava nas casas”, complementa Vera. “Apenas jogava nozes por uma janela da sala, estrategicamente entreaberta. Era uma delícia! Quando as nozes começaram a ficar muito caras, Papai Noel passou a jogar balas. Mas a emoção era a mesma.”
Um presente comum, no Dia de Natal, eram as roupas novas. Também já havia os brinquedos. As crianças, no entanto, não sabiam o que iriam ganhar. Bem diferente dos dias atuais, quando crianças acompanham seus pais na hora da compra e, apertando freneticamente botões, exigem, por vezes aos berros, o que desejam receber. Antes de 1960, quando não se ganhava bem o que se sonhara o ano todo, ninguém fazia drama por isso. Os brinquedos eram mais escassos e o que vinha, vinha bem. Tinha o seu encanto!

Marli Marlene Hintz
pesquisadora e escritora,
autora de Retalhos de Candelária, da pré-história à colonização européia