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25/08/2009 16:56
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Nem tudo que brilha ? ovo!

Pouca gente sabe, aliás, ninguém sabia até hoje, mas está ficando impossível de manter este segredo, por isso vou fazer uma revelação: durante as horas de folga eu faço “bicos” como paranormal. Sim, há alguns anos descobri que tenho poderes extrasensoriais e estou pensando para breve assumir de vez minha condição de guru. Já dizia aquela pessoa, o Ivo Pessoa, naquela musiquinha de “O Profeta”, “se um dom especial é dado pra alguém, é pra ajudar o bem na luta contra o mal”, então resolvi colocar os meus poderes em prática para ajudar a humanidade. A coisa vai englobar assuntos de toda a ordem, como sexo, dinheiro, mulheres, homens, traição, doenças sexualmente transmissíveis, cachaça, intoxicação, mau-olhado, olho-gordo, quebrante, etc... tudo, enfim.
Porém, vai aqui o primeiro alerta: como todas as pessoas especiais, quando baixa o bruxo em mim ninguém me reconhece; meu semblante fica com uma cara de cachorro que comeu pinto e as orelhas ficam esticadas tipo um fuca de porta aberta; também babo muito, fuço no nariz, faço bolinhas de tatu e troco os erres por gês, tipo assim. “O gato goeu a gopa do guei”, tão ligados? Por isto não se assustem ao me enxergarem assim meio estranho. Deve ser o efeito do chá de cogumelo que tomo em preparação às sessões. Diferentemente de outros pretensos gurus, não vou me prevalecer sobre o estado frágil das pessoas que buscarem minha ajuda, por isso, para não deixar ninguém mal, vou fazer que nem o pessoal que oferece empréstimo para os aposentados e lançar a moda do carnezinho (que uns chamam de carneirinho). Assim, apesar de cobrar um montão, o juro fica bem escondidinho nas módicas prestações. Na semana passada já fui em uma costureira e mandei fazer um peitoral, um éfode, um manto, uma túnica bordada, uma mitra e um cinto. Quem quiser saber o que é isto, que veja em Êxodo 28, 4. Tá tudinho lá, com a exceção da cor, que em vez de azul será abóbora nanica. Uma grande joalheria da cidade já encomendou das minas da África um pingente de diamante que irei usar colado com Super Bonder na testa. O diferencial entre mim e a concorrência ficará por conta dos calçados. Em vez de sandálias usarei congas azul com branco para dar um ar mais futurístico. Com todo este aparato sacerdotal, quero deixar bem claro que o que estou fazendo não é nada relacionado à criação de uma nova religião, uma vez que não irei cobrar anuidade de ninguém. Usou, pagou. E pronto.
Claro que pretendo obter benesses, uma vez que a atividade é filantrópica, e quero ver o pessoal da prefeitura me cobrar ISSQN, já que vou trabalhar com poderes extranaturais e isto não é de qualquer natureza. Aliás, acho que vou ter sérios problemas com eles, porque se os camelôs podem se instalar nas calçadas e ficar com os carros ocupando os estacionamentos do centro, quero o mesmo tratamento. O mesmo uma ova, eu quero é uma tenda bem no meio da Pereira Rego na esquina com a Andrade Neves; e já podem ir dando um jeito de tirar aquele poste dali.
Como todo mestre que se preza, já mantive contato com as rádios da cidade e se o negócio der certo e os fiéis colaborarem, irei manter programas nas duas emissoras; o espaço será de uma hora em cada. Isto também é uma realização pessoal, porque eu tenho uma paixão verdadeira por rádios, principalmente quando escuto o pessoal ler as cartas enviadas por pessoas com codinomes tipo “Cueca Furada do Roncador”, “Morena do Canhadão Grande”, “Borboleta Sem Poste Pra Sentar” e “Virgem Solitária do Pau-a-Pique”. A linguagem utilizada será a mesma que se ouve por aí, a do tipo português assassinado, que funciona mais ou menos assim: “Atravéis das onda da rádia queremos saldar a todos nossos caríssimos ouvinte.... e fiquem todos ligado, que ao final do pograma estaremos unido em oração pedindo as mais ricas bênça”. Uia. A coluna Chocolate & Pimenta está com os dias contados, e quando fui dar a notícia à direção da empresa, eles deixaram escapar um sorrisinho de satisfação, uma vez que dá pra botar um baita anúncio aqui na página 5 ao invés deste monte de besteira. Quando revelei que apenas iria mudar de nome, impressionantemente os semblantes voltaram ao ar de indignação. Já ao propor pagar pelo espaço, eles novamente ficaram felizes. Num rasgo de inspiração, cheguei à conclusão que “Fé de mais ou fé de menos” é um ótimo nome para começar a mídia impressa.
Só tenho dúvida no nome artístico que irei usar, mas obrigatoriamente terá que ter 13 letras para render uma justa homenagem ao mais famoso dos zumbis, o Zagallo. Para finalizar, vou aproveitar este restinho da coluna para lançar em primeira mão a campanha “Teje fé, dinheiro e muié”. Quem mandar uma carta ou e-mail primeiro, ganhará gratuitamente grátis a primeira consulta com dicas para romper as barreiras que o atravancam e colocá-lo de vez no mar da felicidade. E lembrem-se: “Não acredite em falsos profetas, pois nem tudo que brilha é ovo!”. Fé, ermãos.