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25/08/2009 16:56
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Uma hist?ria que se escreve h? 21 anos

Era tempo de mudanças. Se, por um lado, os brasileiros mal começavam a compreender o significado do fim de uma ditadura, por outro ensaiavam os primeiros passos na eleição direta de seus governantes. Um aprendizado lento que, ainda hoje, deixa em aberto muitos questionamentos, entre eles a dúvida sobre se o povo aprendeu a escolher bem seus mandatários. Essas transformações incluíam ainda o chamado Plano Cruzado, no qual o presidente conclamava o país inteiro a formar o exército de “fiscais do Sarney”, verificando a tabela de preços na hora das compras, numa tentativa de conter a alta da inflação. A opinião pública dividia-se, basicamente, em dois sentimentos: o ceticismo e a cautela dos que precisam ver para crer. Eram poucos, mas é preciso dizer que havia também os esperançosos. Pessoas que acreditam em algo antes mesmo de colocá-la em prática ou que crêem, simplesmente, na força de um ideal. Uma fé cega e, ao mesmo tempo, suficientemente ingênua para evitar que se desista de uma idéia diante de dificuldades.

Foi nesse momento tão conturbado vivido pelo país que os rumos de uma família uniram-se de modo indissolúvel à história de Candelária. Vindos de Venâncio Aires, Roque Mallmann, sua esposa Rosa Nilse e os filhos Marco, Jorge e Luciano vieram com a finalidade de colocar em prática um sonho longamente acalentado e rigorosamente planejado. Não é novidade para ninguém que esse sonho era um jornal e já se chamava Folha de Candelária antes mesmo que a primeira edição chegasse aos pontos de venda. Os candelarienses mostraram opiniões divididas, o que era normal para uma cidade que já tivera três jornais, dos quais dois eram ainda bastante recentes. E, na noite de 18 de março de 1986, um grande público presenciou o lançamento da primeira edição. A manchete, dirigida a um município de economia essencialmente agrícola, sintetizava as expectativas de milhares de trabalhadores da zona rural: Depois da seca, a esperança na safrinha. E o público correspondeu plenamente a esse enunciado de otimismo, pois, já naquela noite, muitos assinantes se aliaram a essa jornada, muitos deles leitores fiéis até hoje.
E Candelária passou a ler sua própria história em cada edição do jornal: viraram notícia o panorama político, os campeonatos de futebol, as colunas assinadas, os acontecimentos sociais, a crônica policial. A exaltação dos pontos turísticos e dos acontecimentos históricos sempre foi um dos princípios básicos do jornalista Marco Mallmann. E o passado também teve destaque na Folha. Ressurgiram assim lendas e episódios sobre o monge João Maria d’Agostini, a redução Jesus-Maria, a Estrada do Botucaraí, lendas misteriosas sobre tesouros escondidos, a colonização alemã, a emancipação e tudo o que fez a história de uma comunidade e formou um povo. Talvez pareça presunção, mas é possível dizer que os candelarienses passaram a conhecer e a valorizar mais o seu passado e seu município através das páginas do jornal.
E eis que 21 anos se passaram. São reais todos aqueles clichês sobre a fugacidade do tempo. O Plano Cruzado malogrou, assim como diversas outras tentativas de melhorar a economia do país. E o povo continua procurando aprender a eleger o candidato ideal. Um dia, certamente, isso se realizará. E sobre a Folha, muitos são os fatos que aconteceram desde aquela noite de estréia. Não se trata apenas dos avanços tecnológicos que transformaram a forma de fazer o jornal. Houve muitas pessoas especiais que, com seu trabalho, ajudaram a escrever o periódico, todas elas à sua maneira, deixando a sua marca pessoal. Seriam muitos nomes a mencionar. E haveria também muitos fatos a ressaltar, se houvesse espaço e tempo. Roque e Marco, infelizmente, nos deixaram cedo, cedo demais, mas o seu legado está nas mãos de quem lê agora este texto, e assim deverá continuar. Sim, esse sonho permaneceu vivo, graças a você, leitor. Ainda se pode dizer que a inegável contribuição de Marco Antônio nos acontecimentos culturais do município foi reconhecida através da rua que leva o seu nome, além da casa de cultura da cidade.
O que mais se poderia dizer? Que todo o tempo é precioso, nunca se pode esquecer. E para você, leitor, desejamos sempre, nas terças e nas sextas-feiras, ou em qualquer dia, uma boa leitura. Até a próxima edição! E, mais uma vez, um bom dia para você.
(Por Luciano Mallmann)