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25/08/2009 16:56
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Lembranas de 1991

Em julho de 1991, quando o amigo Marco Antônio Mallmann me convidou para integrar a equipe da Folha de Candelária, pensei que estaria ganhando mais um emprego. Um tanto jovem, com 25 anos apenas, desempenhava minhas funções de operador de áudio na rádio Princesa e também era assessor de imprensa da prefeitura de Cerro Branco.
No pequeno expediente do semanário figurava o Marco como editor-chefe e o imberbe Fausto Wagner como redator. Então, conclui-se que a equipe de redatores dobrou de tamanho com minha chegada. A primeira matéria de que participei foi feita em parceria com o Fausto, garimpando ex-colonos na vila Ewaldo Prass para um especial do Dia do Colono e do Motorista. Até hoje fico pensando se fomos nós quem escrevemos o parágrafo que finalizava o texto, relatando a dor da frustração dessa gente castigada pela má-sorte: “Um sentimento que certamente ela partilha com milhares de outros agricultores que têm com a terra uma profunda relação, fazendo brotar vida de um chão nem sempre generoso”. Será que o Marco não modificou alguma coisa? Aquilo me soou tão bem para gente tão “verde” no ofício.
Assim como a história daqueles colonos, precisamos entender também que não existe profissão perfeita e que nunca estaremos isentos de situações adversas. Isto ocorre também na redação de um jornal. Em determinados momentos os ventos sopram ao contrário. Aguardamos um elogio e recebemos uma crítica. Queremos avançar e fazer tudo perfeito e a pressa muitas vezes nos impede. Por vezes, é preciso abrir mão de empreendimentos e postergar projetos com o objetivo maior de manter a integridade do barco. Muitas vezes, por decisão própria, precisamos lançar mão de nossas cargas particulares e, brigando contra a tempestade, lançar fora todo o peso em excesso para se dedicar inteiramente à missão de informar. Como acredito que a maldade muitas vezes não está no ato de quem faz, mas quase sempre no coração de quem interpreta de forma adversa ao fim proposto, resta nos redimirmos quando erramos e perdoar os que nos julgam mal.
Não pretendo incorrer em demagogia ou mesmo auto-elogio, mas, se tive a honra de ser convidado pelo Marco a integrar esta equipe, certamente alguma coisa boa ele enxergou em mim. Talvez ele não tenha mesmo modificado coisa alguma naquele primeiro texto. Claro que não! Ele não faria isso e, se o fizesse, teria avisado. Marco sempre foi para mim referência de retidão, caráter e profissionalismo; e serei eternamente grato a ele. De julho de 1991 até agora se passaram 17 anos, mas a ansiedade da juventude que envolvia meus sentidos permanece incólume, talvez uma herança não-genética deixada pelo fundador da Folha. O que parece ter aumentado foi a sabedoria para aproveitar situações de ventos a favor e tentar avançar o máximo possível na busca da felicidade.
No primeiro parágrafo considerei que tinha ganhado mais um emprego, mas observei o erro a tempo de corrigi-lo. Foi um destes enganos aprazíveis da vida, por isso reconheço que ganhei muito mais do que um emprego; ganhei irmãos e lições de vida que somente o ofício do jornalismo proporciona e que certamente me valerão pelo resto da vida. Obrigado pela oportunidade, Marco, e que as luzes que resplandeciam de teus ideais continuem nos iluminando para tocar este barco chamado Folha de Candelária.

Luís Roberto Alves
Março de 2008