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25/08/2009 16:56
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Candelria e seus modelos de diversificao

A participação do Brasil na Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco, tratado internacional da Organização Mundial da Saúde para a redução do consumo de cigarros e de outros produtos derivados do tabaco, ainda gera certo desconforto nos fumicultores. Mesmo antes da adesão do país ao pacto, os produtores já estavam em polvorosa, temerosos em relação aos possíveis impactos negativos das determinações na economia agrícola. Com a iminência da substituição gradativa das lavouras de fumo, a regra desde 2005 é diversificar.
Uma das ferramentas para este processo é o Programa de Diversificação de Atividades e Alternativas ao Cultivo do Tabaco, elaborado pela Emater/RS – Ascar, com recursos do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e parceria da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Fetag) e Afubra. Em Candelária, o projeto contempla três propriedades, que desde o ano passado estão envolvidas com fruticultura, olericultura e pomar de subsistência. Na semana passada o técnico agrícola Sanderlei Pereira realizou visitas técnicas às três famílias nas localidades de Roncador, Travessão Schoenfeldt e Data do Ribeiro. A reportagem da Folha acompanhou tudo de perto e conta os detalhes nesta reportagem.
RONCADOR - A primeira parada foi na propriedade de Ivo Garcia da Rosa, no Roncador, que em agosto de 2007 plantou mais de 500 mudas de pessegueiros em uma área de meio hectare. O produtor, que ainda cultiva fumo, milho e feijão, conta que seus planos já estão bem traçados e que, aos poucos, pretende substituir o fumo, investindo em áreas maiores na fruticultura. Se tudo ocorrer como o planejado, em 2009 ele já deve colher os primeiros pêssegos da espécie Eldorado, que servem tanto para mesa como para conservas. No auge da produtividade, em cerca de três anos, o produtor deve colher 12 mil kg/ha, que atualmente estão sendo comercializados no mercado a R$ 1,20 o quilo.
TRAVESSÃO - Já no Travessão Schoenfeldt a família Gewehr está empolgada com os resultados da lavoura irrigada de pepino, que impulsionou um projeto já em andamento, a Agroindústria Apecan, que está há sete anos no mercado. A olericultura, segundo Sanderlei, é uma garantia para as propriedades, uma vez que no verão a matéria-prima geralmente é escassa devido à falta de água. Isso não preocupa mais os Gewehr. Instalada em novembro do ano passado, a lavoura dos produtores já rendeu 1.500 kg de pepino, uma produção aproximada de 4.500 vidros de conserva. “Já estamos na segunda colheita”, conta Neli Gewehr, ressaltando, orgulhosa, que o volume de venda na feira ecológica aumentou 30%. Mesmo ainda trabalhando com o fumo, a intenção destes empresários do campo é aumentar a área irrigada. “Com certeza, é um negócio que dá certo”, afiança Neli.
DATA DO RIBEIRO - Enquanto isso, na localidade de Data do Ribeiro, a fartura na propriedade de Ari Machado chama a atenção e deixa mais alegres a família e também os vizinhos, que seguidamente são presenteados com os produtos colhidos da lavoura. Dentro do projeto da Emater, a pequena propriedade foi beneficiada com o uso de cisternas, que garantem horta e pomar sempre generosos. A chuva que cai não vai embora, mas, através de calhas dos telhados da casa e do galpão, é recolhida e armazenada em um buraco com capacidade para 100 mil litros. É a garantia de irrigação para a produção e uma mesa mais abundante em uma região do município que seguidamente sofre com a seca.

O projeto

O Programa de Diversificação de Atividades e Alternativas ao Cultivo do Tabaco tem o objetivo de instalar e acompanhar Unidades de Experimentação Participativa (UEPS) em diferentes agroecossistemas no intuito de avaliar sistemas de produção e propor alternativas para a cultura do fumo. O projeto contempla 34 municípios no Estado, sendo 14 no Vale do Rio Pardo. Em Candelária, foi instalada uma UEPS em cada linha do programa, olericultura comercial, fruticultura comercial e horta e pomar de subsistência com irrigação.
Os candelarienses atendidos receberam recursos a fundo perdido para a aquisição dos materiais necessários, desembolsando apenas pequenos valores de contrapartida. Também participaram de cursos específicos para sua área de trabalho e de uma excursão à Ceasa, em Porto Alegre. Os instrutores do projeto também se especializaram em cursos e viagens, como a excursão feita à cidade Argentina de Leandro Alem, oportunidade em que conheceram uma cooperativa de produtores de tabaco que produzem frutas e chás como alternativa de diversificação.

Novidades

Na sexta-feira da semana passada, 4, as entidades envolvidas estiveram reunidas na sede da Afubra em Santa Cruz do Sul para avaliar o andamento do projeto. Segundo Sanderlei Pereira, que participou do encontro, uma das metas para 2008 é fazer dias de campo nas unidades atendidas para mostrar e divulgar o trabalho aos fumicultores.