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25/08/2009 16:56
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Uma nova motorista, aos 70 anos

Tudo começa do zero, certo? Depende. O correto seria dizer que para iniciar uma caminhada é necessário um primeiro passo, seja com que idade for, já que a vida não impõe prazo para realizar aspirações. Com Dona Nilva Jost Richter, isto não foi diferente. Aos 70 anos – ela nasceu na véspera do Natal do ano de 1936 – ela acompanhou a modernização dos carros sempre do banco do carona. Seu marido, o taxista aposentado Valdo Richter, era quem a levava para as compras e, juntos, cuidavam da chácara que possuem na localidade de Rincão dos Barreiros. Uma destas objeções da vida acabou tirando da “praça” o conhecido “Valdinho”, que, acometido de uma isquemia, resultou com seqüelas que deixaram comprometidos os movimentos dos braços e do pé que tanto pisou no acelerador.
Vendo o carro estacionado na garagem e a chácara jogada literalmente às traças, a neta Sabrine sugeriu à avó que deixasse do papel de caroneira e passasse ao banco esquerdo da frente do carro. Como Dona Nilva não nasceu para ser uma mera espectadora do tempo, aguardando que as coisas por si só aconteçam, aceitou a sugestão da neta e lá foi ela para o Centro de Formação de Condutores dar início ao processo teórico para obter a carteira de motorista. A hora da sesta foi trocada pelas apostilas e o sono da noite ficou diminuto em razão dos estudos, mas valeu à pena: 26 acertos nas 30 questões da prova a habilitaram para as aulas de direção e, depois, ao teste prático. – Fiquei surpresa quanto recebi o resultado, pois me informaram que alguns dos jovens que fizeram as aulas comigo não conseguiram passar no teste – ressaltou a simpática bisavó.
A parte seguinte não foi das mais fáceis, mas para atingir seu objetivo, ela se dedicou ao máximo, se esforçando no limite para vencer as barreiras que o tempo impôs. Foram quatro as provas de direção até que a permissão para digirir surgisse como um troféu para Dona Nilva, que nunca se descuidou do zelo e cuidado com o marido e dos seus afazeres domésticos. Certamente, o dia 12 de março de 2007 – data em que Dona Nilva recebeu a permissão – propiciou uma destas boas sensações da vida, a sensação da superação. Com ela voltaram os passeios à chácara, as voltas pela cidade e, segundo a neta, o fim da desculpa de não poder ir aos almoços de família nos finais de semana. E nada melhor do que o exemplo desta nova motorista de 70 anos para comprovar que o equilíbrio, a dedicação, a calma e a atitude são os ingredientes principais na busca da realização.