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25/08/2009 16:56
Por:

O ?ndio sabido

Estava um índio indolentemente sentado à beira do rio, pescando, quando chegou um homem branco. Foi chegando de mansinho, parou a certa distância e se pôs a observar. Viu o índio pôr isca no anzol calmamente, depois atirá-lo na água, olhar sonhadoramente para os círculos que se formavam e desapareciam na corrente e, fincar a vara na margem barrenta do rio, espreguiçar-se, recostar-se e esperar pacientemente. Viu o ligeiro movimento da linha, depois mais rápido, mais rápido - até atrair a atenção do índio. Viu o índio curvar-se para a vara, segurá-la, observar o vaivém da linha cada vez mais rápido, cada vez mais forte, e de repente, num pânico movimento brusco, felino, viril, sacar das águas um belo peixe de uns dois quilos.
E quando viu o índio comer o peixe, jogar fora a vara para o lado e espichar-se na relva, acercou-se:
– Como? Não vai pescar mais?
– Não.
– Por quê?
– Já comi. Agora, descansar.
– Mas você pescou um peixe e tanto num instante ...
– Pesquei.
– Podia pescar outros ...
– Pra quê?
– Podia salgar e guardar para depois ..
– Depois eu pesco de novo.
– Mas podia pescar muito mais ...
– Pra quê?
– Podia salgar e vender os peixes ...
– E o que eu ia fazer com o dinheiro ?
– Comprar mais varas, mais anzóis e pagar uns garotinhos pra pescar.
– Pra quê?
– Poderia pescar muito mais peixes ...
– E que ia fazer com tanto peixe?
– Vender, claro. Ganharia muito dinheiro.
– Pra quê?
– Comprar barcos, molinetes, e pescar lá no meio do rio. Pescaria peixes muito maiores, e venderia, e ganharia mais dinheiro, e compraria mais barcos, redes, arpões e contrataria mais pescadores e...
– Pra quê?
– Poderia até pescar no mar - e pescar muito mais peixes, e camarões, e baleias, e...
– Pra quê?
– Ganharia muito dinheiro. Montaria um frigorífico, uma indústria, ficaria riquíssimo...
– E...
– E então poderia pôr todo mundo trabalhando para você e ficar deitado o resto da vida, descansando, gozando a vida, apreciando a natureza ...
– Bom... isto já estou fazendo agora.
E virou-se para o lado e dormiu ...

Autor desconhecido