Por:
Um momento, por favor...
– Alô.
– Alô! Aqui é o Luís Roberto, da Folha de Candelária, tudo bem? Eu gostaria de falar com o gerente.
– Um momento.
Pim pim pim pim pim pim pim pim pim, pim pim pim pim, pim pim pim pin.....
– O gerente não pode atender agora.
– Certo. Posso deixar um recado?
– Fala.
– Por favor, peça para ele retornar a ligação, quando puder? O telefone é o 3743 1809 ou o 2784.
– Óquêi!
– Obrigado.
Tu, tu, tu, tu.
Que me perdoem as telefonistas bem-educadas, mas não poderia me furtar de falar novamente sobre este assunto que é a educação ao telefone. Será que é tão difícil para algumas pessoas serem simpáticas ao telefone? Será que os problemas pessoais têm de acompanhá-las até no emprego? Se o salário de telefonista não é bom, por que algumas pessoas não procuram outro emprego? Não, não é bem o texto acima que me incomoda quando ligo para algum lugar, mas o tom de voz que é utilizado.
Analisem comigo a primeira frase da telefonista (que é uma frase apesar de ter apenas uma palavra): “– Alô”. Ora, funcionárias que atendem ao telefone dizendo um alô murcho fazem uma anti-propaganda da loja (ou repartição, ou o escambau). Talvez elas não saibam, mas são os clientes que pagam seu salário. Quando sou mal atendido por telefone, parece-me que a empresa não precisa de mim e minha vingança é bem simples: não compro lá, e se compro, passo a deixar de comprar. Seria ótimo que os proprietários de certos estabelecimentos observassem mais de perto o comportamento de seus funcionários, puxando as orelhas e ensinando a atender bem os clientes, mesmo que por telefone. Custa dizer um sonoro bom dia, custa?
Com 100% de incremento (já tem duas palvaras), a segunda frase, “Um momento” é uma mostra da evolução verbal da interlocutora. Porém, esse “um momento.” com um ponto final e não um ponto de exclamação é quase uma ordem; é como se a moça, em um tom superior, estivesse falando com um subalterno qualquer e mandando-o esperar. “Vou verificar se ele está e pode lhe atender. Aguarde um momento, por favor!”, soaria muito melhor.
Prosseguindo, o diálogo nos mostra a frase “O gerente não pode atender agora.”. O que veio acompanhado de um ponto final poderia ter ganho a doce companhia de um ponto de interrogação ao final, como este singelo, porém belo, exemplo: “O senhor gostaria de deixar recado?”. Mas não, a moçoila fez questão de gerar um novo pedido, como se eu precisasse tanto assim de seus favores. E quando pedi para deixar recado, lá veio ela com uma nova ordem: “Fala”. Aí dá vontade uma de perguntar: “Mãe, tu tá trabalhando de telefonista?”. Sim, porque só minha mãe (ainda) manda eu falar, e muito lá de vez em quando.
Não vou comentar o “ok” americanizado ao invés do “pois não” e a falta de educação da moça que bateu o telefone na minha cara antes de eu desligar e mesmo me despedir. Eu que liguei, eu que me despeço e desligo. Esta é a ordem das coisas ao telefone e de tantas outras coisas nessa vida. Não quero criar polêmica e nem sei se isso vai adiantar para alguma coisa, afinal, diferença cultural e limitação são coisas bem distintas. Porém, acredito que o respeito deve andar de braços dados com as duas.