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25/08/2009 16:56
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Prolapso de vlvula mitral - Qual o significado deste diagnstico no laudo do ecocardiograma?

Você sente uma ansiedade, o coração dispara, até parece que vai  sair pela boca, o   peito aperta, as mãos ficam frias e úmidas, o fôlego fica curto. Você vai ao médico pensando no pior, ele faz um eletrocardiograma (ECG) onde se percebe uma “mínima alteraçãozinha”, então ele lhe solicita um ecocardiograma a cores e na conclusão está lá- “Prolapso de Válvula Mitral” (PVM). Pronto, você sabia que tinha algo errado e a ansiedade da espera até levar o resultado para o seu médico só faz com que os sintomas se tornem ainda mais fortes e você pensa- “ será que vou ter um infarto?”. Mas, ao contrário do que você supunha, ele lhe acalma e diz que o que você tem é “apenas um PVM”, não tem perigo e a vida pode prosseguir normal. Esta cena repete-se no mundo todo, sabe-se que pelo menos 5% da população tem PVM. Na maioria dos casos. é de causa desconhecida ou tem componente genético.
A válvula mitral é como uma janela veneziana com dois componentes, chamados de folhetos, que abrem e fecham para o sangue passar do átrio esquerdo (AE) para o ventrículo esquerdo (VE) e para, a partir daí, se dirigir para o restante do corpo. Nas pessoas portadoras de PVM, um ou ambos os folhetos são demasiadamente longos, e o fechamento uniforme não acontece, permitindo às vezes que quantidades variáveis de sangue escapem de volta do VE para o AE (insuficiência mitral).
A maioria dos casos de PVM não precisa de um tratamento específico, já que o seu caráter é fundamentalmente benigno. Esta condição pode, então, passar desapercebida, ou seja costuma ser assintomática na grande maioria dos portadores, muitas vezes sendo um achado ocasional durante um exame de check-up. Em outros casos, pode ser associada a sintomas muito parecidos com os de ansiedade; sabe-se que PVM e alterações emocionais são comumente associados e que a própria ansiedade pode precipitar ou piorar os sintomas do PVM. Em outras situações, podem até ocorrer algumas arritmias cardíacas (batimentos irregulares do coração), que podem ser detectadas pelo ECG, Holter (gravação contínua de todos os batimentos cardíacos) ou Teste Ergométrico.
Raramente surgem complicações relacionadas ao PVM. É comum o médico dizer: “Você vai morrer com isto e não disso”. No entanto, em pessoas nas quais a válvula já sofreu algum tipo de desgaste, a chamada degeneração mixomatosa, torna-se essencial a tomada de medidas preventivas contra uma complicação rara mas muito perigosa que é a endocardite infecciosa (termo usado para definir infecção de alguma válvula cardíaca).
A necessidade ou não de tratamento vai depender da presença ou não de sintomas ou complicações. A palavra do médico é sempre útil, não somente para definir o que está acontecendo, como também para orientar sobre certos hábitos de vida que poderiam ser repensados e assim beneficiar a qualidade de vida que está sendo prejudicada pela sucessão de episódios associados ao PVM. O trabalho conjunto entre o médico e o paciente continua sendo o melhor remédio para que a eventual sensação cardíaca ligada ao diagnóstico benigno da válvula mitral não acarrete indevidamente a impressão de doença. Ao mesmo tempo em que não deve ser subestimada como apenas um componente de transtorno de ansiedade ou “nervos”, e sim encarada como uma entidade benigna mas que necessita acompanhamento regular.

Dra. Leonora Scherer - CRM 21 972
Especialista em Cardiologia e Ecocardiografia pela SBC e AMB