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25/08/2009 16:56
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Conversas de bar

A campanha eleitoral já iniciou, e como todo mundo sabe, ultimamente as coisas não andam se decidindo no voto, como deveria, e, sim, na justiça. Desde a eleição passada se arrastou nos tribunais uma causa de uma coligação contra a outra que terminou agora há pouco acabou dando em nada, mas de muito serviu para correria tanto de um lado quanto de outro. Com as novas regras eleitorais, a imprensa escrita, apesar de menos “policiada” do que a falada, também tem que “pisar em ovos”, porque se sair do trilho a multa é pesada que nem pastel de batata e gente para fazer denúncia e futricar é o que não falta.
E foi para não deixar de falar em política sem correr risco de interpelações judiciais que o colunista resolveu criar o “Conversas de Bar”. O “Conversas de Bar” será uma espécie de joint venture da coluna Chocolate & Pimenta, criada para esta não perder sua personalidade jurídica e assim ficar livre de ações que visem macular sua célebre história. É mais ou menos nos moldes do que acontece em Brasília, uma espécie de “imunidade colunar”, só que sem tanta desfaçatez, entenderam?
Os personagens, criados após três anos de estudo, serão quatro: Ray Munddo (pronuncia Raimundo), Gum Mercindo (pronuncia-se Gumercindo), o Fuinha (que ninguém sabe exatamente o nome, porque o apelido virou nome) e Virso (o budegueiro). Eles abordarão, cada um sob seu prisma, o mundo maravilhoso da política, como por exemplo a plataforma eleitoral dos candidatos, que prometem que vão trabalhar para o povo, junto com o povo, mas evidentemente pensando na graninha gorda a que têm direito todo final de mês.
As conversas acontecem sempre no Bar do Virso, um simpático local no interior de um pequeno município, onde ainda se pode encontrar lingüiça, pão-de-mel, querosene, guaraná em garrafa, arroz e feijão a granel e aquela balança com a agulha torta para o lado direito, e mesinhas guarnecidas com cadeiras de palha verdes, laranjas e azuis, baralhos ensebados e um balcão com cosméticos e perfumes tipo Extrato Ara e Amor Gaúcho, ah, e uma patente sem porta aos fundos, que serve só para o pessoal mijar. E como o assunto é conversa, vamos ao primeiro colóquio; não reparem muito no português e na gramática, pois é um papo bem informal mesmo.
Ray: – Buenas, indiada! Começaram as política de novo, né? Aliás, vocês já viram que pruns candidato os otro são tudo ruim e só ele que é bão? Me dá uma losna, Virso.
Gum: – Pois é, índio véio. O pobrema é que num ano eles tão junto no mesmo parco e é só ganharem a eleição que já começa as briga e aí mais ninguém presta. Eu vô querê um butiá, Virso! Sem bitra.
Ray: – Eu acho que isso tudo acontece pru causa das tal de coligação. Deusdi que começou este troço dos partido se amuntuá pra ganhá um votinho aqui e outro ali só pra garantir um empreguinho pro fio na prefeitura que iniciô a sem-vergonhice. O cara se candidata, não faz o número do pé de votação e depois fica lá escorando as parede da prefeitura e coçando o saco.
Gum: – Impreguinho uma pinóia, tem gente que mal consegue assiná o nome e ganha quagi dois mil por mêis; e o que é pióri, ainda fiquem se gambando que são chefe disso ou chefe daquilo, enquanto gente que tem estudo fica aí se virando pra sustentá a família. O que tu acha, Fuinha?
Fuinha: – Por isso que eu vô vendê meu voto. E ainda não vou votá em quem me deu o dinheiro, eles que vão se afumentá. Se podem ser sem-vergonha de querê comprá a gente, a gente tem que sê mais sem-vergonha e não honrá co a palavra. Gruda uma cabriúva aí, Virso.
Ray: – E tu te lembra em qual vereador tu votou na outra eleição?
Fuinha: – Pior que não. Além do mais, do que interessa em saber, se a maioria tá lá só pra pedir cascaio e bico de luz na frente da casa?
Gum: – Nisso tu tem razão. Será que eles percisam ganhar tanto e ainda gastar na rádia e no jornal só pra pedir cascaio e bico de luz. Não seria mais fácil falar isso pro prefeito ou pro secretário?
Ray: – Daí é que vocês se enganam. Se ele não fizer isso e cantarolar pela rádia não vai tá mostrando serviço, daí ninguém vota nele na próxima eleição. Por falá nisso, arguém de vocêis dois ficô sabendo da última sessão?
Gum: – Não!
Fuinha: – Não também! Não tão mais transmitindo.
Ray: – Pois então fiquem sabendo que foi na terça de manhã e que durô menos de cinco minuto. Se não tem pubricidade ninguém fala nada, se ninguém fala nada não tem o que repercutir, sem repercussão a coisa não funciona, se não funciona... bom, deixa pra lá, quanto deu, Virso?
Gum: – É, fecha a conta que por hoje chega.
Fuinha: – Pra mim tu anota!