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25/08/2009 16:56
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Lies polticas

Existe um ditado popular muito conhecido que diz: “Quem não deve não teme”. Sempre acreditei nesta regra de convivência, que evidencia e valoriza acima de tudo a consciência da pessoa. No entanto, descobri recentemente que o referido ditado encerra uma verdade apenas relativa. Confesso que relutei muito em tornar pública a minha percepção a respeito de um assunto que me fez experimentar sentimentos que eu, até então, desconhecia. Porém, em nome do que entendo ser um dos principais atributos do ser humano, a dignidade, quero expressar neste texto algumas dessas impressões. Uma delas é a profunda decepção com o pensamento e o comportamento de algumas pessoas em relação ao exercício da política.
Através da obra O príncipe, o pensador italiano Maquiavel revolucionou os conceitos de política da sua época. Nesta obra, o autor dá lições de como conquistar e manter-se no poder a qualquer preço. “Os fins justificam os meios” é a frase mais conhecida do filósofo nascido em 1469, cujos ensinamentos inspiraram um adjetivo. “Maquiavélico” se diz da pessoa que age com perfídia, dolo ou má-fé. Constatei que em Candelária há bons discípulos das lições de Maquiavel, pelo menos no que se refere à conduta política. Com o pretexto de apurar supostas irregularidades na secretaria de que sou titular desde o início de 2005, foi instalada na Câmara Municipal de Candelária uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Até aí não há reparo algum, pois fiscalizar as ações do Executivo é uma das atribuições dos vereadores. O problema está na forma como foi conduzida essa CPI, seus procedimentos e suas conclusões.
Matéria veiculada nesta edição da Folha apresenta um contraponto a um relatório que se perrmitiu ir muito além das funções habituais de uma CPI. Ao invés de apenas apurar eventuais irregularidades cometidas, o texto aprovado sugere condenações às pessoas citadas. E o faz sem qualquer direito a defesa e com base em interpretações completamente equivocadas de procedimentos que, conforme ficou provado, ao invés de prejudicar o interesse público, objetivaram apenas favorecê-lo. O relatório, em suas 43 páginas, registra, por exemplo, a falta de inscrições da categoria master de um certame, cujas equipes foram isentas do pagamento. A acusação mais grave, porém, diz respeito a um cheque com o valor de uma inscrição que, segundo sugere o relatório, teria sido desviado. Como foi mostrado que essa importância não foi usada para nenhum interesse pessoal, tendo sido efetivamente depositada na tesouraria da prefeitura, ficam bem caracterizados dois aspectos básicos sobre o procedimento e a motivação principal dessa CPI. O primeiro diz respeito ao exaustivo esforço empreendido para encontrar evidências de atos ilícitos e de desvio de recursos, nem que para isso fosse necessário “fabricar” fatos. E o outro evidencia e denuncia a flagrante má-fé, a vontade de denegrir, a todo e qualquer custo, a honra de pessoas com o único propósito de obter dividendos de natureza política.
Acredito numa forma muito diferente de fazer política; aquela que é exercida com ética, responsabilidade e, eventualmente, pela divergência de opiniões. Defendo, fundamentalmente, uma política em que o interesse público sempre se sobreponha ao individual. Pois, afinal, esta é sua finalidade. Todavia, há quem pense de outro modo e, em nome da ambição e do desejo de poder, prefira destruir ao invés de construir. Sabemos que isso remonta à história da humanidade, entendida aqui como civilização. (Pode-se mesmo questionar se não estaria havendo uma certa inversão, ou seja: fazer uso da política para beneficiar-se a si próprio. Mas isso neste momento não vem ao caso). E como o papel e o microfone aceitam tudo, foi permitido ao atual presidente da Câmara, vereador André Rohde, declarar ter ficado provado o envolvimento de pessoas que teriam se apropriado e embolsado dinheiro do povo. Não há uma prova sequer - concreta ou abstrata, esclareça-se - dessa denúncia caluniosa e injuriosa, apesar de todo o esforço empreendido durante a CPI. Resta agora buscar-se a reparação na justiça pelos danos causados. Contudo, enquanto isso, permanecem no ar as acusações infundadas, repetidas exaustivamente por órgãos de imprensa também interessados em colher dividendos dos danos morais causados, sem qualquer preocupação quanto à verdade dos fatos. Talvez agora o leitor compreenda a restrição feita ao ditado do início do texto.
Pessoalmente, tenho a convicção, já comprovada pela realidade de fatos anteriores e pelo próprio curso da História, de que os seguidores de Maquiavel, cedo ou tarde, invariavelmente acabam aprendendo também o significado de uma célebre frase de Abraham Lincoln, presidente americano nascido em 1809, considerado um dos inspiradores da moderna democracia: “Pode-se enganar a alguns durante muito tempo; pode-se enganar a muitos durante algum tempo; mas não se pode enganar a todos durante todo o tempo”.
Jorge Mallmann
Secretário municipal de Desenvolvimento
Econômico e Cultural