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O jeito de cada um fazer
Deveria ser assim, mas não é. Deveria ser apenas a escolha entre propostas divergentes e candidatos do mesmo gabarito moral ou entre propostas parecidas e candidatos de comportamentos distintos. No limite, seria a escolha dos eleitores entre candidatos diferentes e de propostas antagônicas.
Deveria haver um período destinado à apresentação dos planos de cada candidato, dos projetos propostos, do jeito de realizar, dos resultados aguardados, das probabilidades de dar certo. E, simultaneamente, de exposição da imagem do candidato proponente, da citação dos feitos que lhe dão sustentação, da sua trajetória de vida que lhe empresta confiança ou suspeição. E depois, uma ou duas semanas de silêncio para a população meditar e o eleitor ponderar. Alguns dias de reflexão, o tempo necessário e suficiente para uma decisão madura, tomada independente dos atropelos da campanha.
Deveria ser assim, mas não é. A apresentação de propostas vira guerra e a exposição das imagens quase sempre se transforma em baixaria. Tem candidato sem preparo, que bota no banco de reservas o bom senso e manda fardar o absurdo. Fardar e entrar em campo. Tem candidato desprovido de caráter, que coloca na reserva as propostas e manda entrar em campo os ataques pessoais. E pensa que, denegrindo a imagem do oponente, ilumina sua própria reputação. Puro equívoco. Quanto mais luz, mais afloram seus defeitos. Bom seria, aos indignos, bom seria um pleito na obscuridade que oculta as mazelas, bom seria uma eleição na penumbra que turva os vícios.
Pior ainda. Nessa guerra suja, tem candidato que nem mesmo dispõe em seu vocabulário de termos depreciativos para atacar seu oponente. Então, impulsionado pelo afã de se impor a qualquer custo, grita seu desespero aos quatro ventos. Nunca ninguém lhe disse, e por isso não sabe, que berrar alto não resolve. Que alto deve ser o teor da proposta e não o tom da voz
E se algum guru de araque lhe disse, algum dia, que preparar armadilhas na calada da noite para imputar a culpa a quem não deve é uma forma válida para captar votos, o guru de araque mentiu. Ele quis lhe passar como solução o longo caminho curto, quando o certo era lhe ensinar o curto caminho longo. O caminho do trabalho e austeridade, aquele que sempre prevalece sobre o caminho da esperteza barata.
Não deveria ser assim, mas é. Só que, no dia da eleição, um manto silencioso e eivado de bom senso cobre os recintos eleitorais e desperta o espírito cívico que jaz adormecido na consciência do eleitor. Os erros se anulam e os equívocos se equilibram, aflorando a vontade da maioria.
Deveria ser assim, e assim o é.
Edemar Mainardi
Engenheiro Civil