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25/08/2009 16:56
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Receitas e segredos da verdadeira culinria campeira

O assunto que quero abordar hoje é sobre os segredos da culinária campeira gaúcha, reconhecida mundialmente por seu sabor inigualável. Para tanto, vou revelar duas de minhas receitas inéditas e, paralelamente, dar dicas sobre o que se deve e o que não se deve fazer durante a preparação dos alimentos. De antemão peço desculpas por não conseguir ser conciso. Minha mãe acha que fiquei assim porque engolia chicletes quando era pequeno, mas os detalhes são fundamentais para o sucesso de cada receita. Vamos à primeira!

Tatu recheado com garnizé sacaneado e butiá

Ingredientes: um tatu, um garnizé pequeno, uma linguiça, 21 butiás, um litro de cachaça de alambique, uma xícara de açúcar, sal, um dente de alho, uma cebola, limão, tempero verde e uma rolha.

Como fazer: vá ao mato e mate um tatu de aproximadamente três quilos. Corte a cabeça do tatu, descasque o tatu e guarde o casco para fazer um arranjo de mesa. Em uma bandeja, tempere o tatu com o sal, cebola cortada em rodelas, o alho picado fino, o limão e o tempero verde. Faça o mesmo com o garnizé, não esquecendo de tirar as penas, a cabeça, o tripório e os pés. Pegue os butiás e coloque em um litro de cachaça juntamente com o açúcar e guarde para consumir em 21 dias (um dia para cada butiá curtir). Pegue o garnizé e enfie a linguiça dentro dele (daí vem o termo sacaneado do título). Coloque o garnizé dentro do tatu e feche o tatu com uma agulha de costurar saco, deixando uma pequena abertura na parte de trás do tatu. Nesta pequena abertura, coloque a rolha, que tem que entrar bem justa. Coloque o tatu envolto em papel laminado e leve para assar em forno regulado para 210 graus e meio. Depois de uma hora e meia retire o laminado e leve novamente ao forno. O tatu estará pronto quando a rolha pular do fiofó, igual aqueles termostatos que vêm enfiado no peito dos perus de Natal e que avisam quando está pronto.
Segredos: coloque o casco do tatu próximo a um formigueiro de formigas azedinhas (ou ardedeiras) para que elas comam o resto da carne que sobrou, de modo que não fique fedendo tipo carniça. Não utilize rolha de champanhe, pois o plástico pode largar gosto no assado. Se não tiver rolha, utilize um pedaço de cabo de vassoura.
Dica: Se preferir, utilize três sabiás ou três pombas-rolas no lugar no garnizé. Para esta opção, utilize salsichas.
Atenção: Evite acidentes e jamais aponte o fiofó do tatu para o vidro do forno, pois nunca se sabe com que pressão a rolha sairá.


Paleta de capivara recheada com coração,
fígado e moela de marrecão e Fanta Uva


Ingredientes: uma paleta de capivara, 30 corações de marrecão, um cachorro, um gato velho, um apito para chamar marrecão, uma Fanta Uva litrão, cachaça de alambique, gelo, limão, sal, um dente de alho, meio quilo de criba, uma cebola, tomate, vinagre e cassetinhos (dois por pessoa).

Como fazer: pegue o cachorro e vá ao mato caçar uma capivara de 70 quilos. Mate a capivara. Separe a paleta que pegou menos chumbo e guarde o resto no freezer. Deixe o cachorro amarrado em casa e vá caçar os marrecões, chamando-os pelo apito (aquele tipo fiu iu iu). Mate os marrecões atirando no meio do bando. Coreie os bichos e corte as extremidades com uma machadinha (hoje eu estou sádico pra caramba). Separe os corações, os fígados (que muitos conhecem por figo), as moelas e guarde o resto no freezer. Dê as tripas para o cachorro comer e cuide para que o gato velho não roube os miúdos. Desosse a paleta da capivara. Tempere com todos os temperos, menos a Fanta Uva e o alambique. Enquanto a carne da capivara marina, pegue um copo de samba, coloque 1/3 de cachaça de alambique, duas pedras de gelo e preencha com Fanta Uva. Tome a mistura moderadamente em golotaços de 1/8. Abra a paleta como se fosse um bifão, mas sem separá-los e coloque dentro os corações, as moelas, os “figos” e o criba. Costure com uma agulha de costurar saco. Leve ao forno médio por uma hora e meia envolto em papel laminado. Retire o laminado e leve de volta para dourar. Chame o cachorro e dê um pedaço para ele experimentar. Se ele se recusar, chame o gato velho. Se eles brigarem pelo pedaço é porque ficou bom e seu cachorro gosta de se fazer de fresco.

Segredos
: esta receita está em fase experimental e ainda não a fiz na prática porque me roubaram o apito de chamar marrecão. Se alguém souber quem roubou, favor avisar pelo e-mail aí de cima.

Dica
: Você pode substituir os miúdos de marrecão por miúdos de tucano ou arara-azul.

Atenção
: o tomate e o vinagre são para fazer uma salada, caso a receita não vingue. A salada acompanha os cassetinhos.

Espero que tenham gostado. Elogios e sugestões podem ser enviados para o e-mail aí de cima. Reclamações, favor enviar diretamente para a direção. Tenham todos um bom apetite.