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Rural 27/06/2024 17:17
Por: Charles Silva

Projeto dá início a restauração das margens do Rio Pardo e Botucaraí

Ação tem como objetivo a recuperação emergencial das lavouras afetadas pela enchente, permitindo o cultivo da próxima safra

  • Quatro equipes estão atuando na Costa do Rio, Linha Passa Sete, Linha Facão e no Rio Botucaraí, na divisa do município

Preocupados com os efeitos da crise climática a médio e longo prazo, especialmente nas áreas rurais, entidades e especialistas do município, vinculados ao setor agrícola, formaram um grupo de trabalho e desenvolveram um ambicioso e complexo projeto para a recuperação das lavouras e áreas de pastagem mais afetadas pela enchente em Candelária. A primeira ação deste trabalho, que busca viabilizar o plantio da próxima safra e garantir a sustentabilidade econômica da região, teve início na última segunda-feira, 24, quando empresas privadas contratadas através do Sindicato Rural, um dos parceiros da ação, deram início à restauração das margens assoreadas do Rio Pardo.

Segundo o engenheiro agrônomo do Escritório de Planejamento Agrícola e Consultoria de Candelária (Agrican), Adalton Siqueira, esta primeira etapa do projeto envolve o fechamento das "vazantes", locais onde a correnteza do rio destruiu o barranco e a vegetação, criando canais que permitem à água invadir livremente as lavouras e estradas. “É impossível pensar na reconstrução das áreas produtivas sem fechar estas vazantes. Nestas áreas, basta uma pequena quantidade de chuva para inviabilizar ou destruir qualquer atividade produtiva”, relatou.

Quatro equipes estão mobilizadas neste trabalho: na Linha do Rio, Linha Passa Sete, Linha Facão e junto ao Rio Botucaraí, na divisa do município. Conforme Adalton, estes locais foram os mais prejudicados pelas vazantes, afetando cerca de 100 produtores. “À medida que esta etapa do trabalho evoluir, aí sim os produtores que tiverem condições poderão começar a trabalhar a terra para os novos cultivos. É importante dizer que não se trata de desassorear os rios. Nossa atuação será focada na reconstrução dos barrancos destruídos pela água, para evitar que ela invada as lavouras com facilidade”, explicou.

Conforme estimativas do grupo, formado por José Emmel (Sindicato Rural), Sanderlei Pereira (Emater), Adalton Siqueira, Luciano Siqueira e Erny Kudrna (engenheiros agrônomos), Enio Coelho (Irga) e Alex Wegner (secretaria municipal de Agricultura) com apoio do professor Enio Marchezan (UFSM) e de João Ortiz Porto, especialista em hidrologia, dezenas de produtores não conseguirão retomar a atividade nas lavouras destruídas pela enchente sem um grande investimento do setor público e privado nas áreas afetadas, comprometendo sua capacidade de garantir seu próprio sustento, além de afetar duramente a economia de Candelária, muito dependente do setor agrícola.

 

Custos do Projeto devem se aproximar dos R$ 10 Milhões

O trabalho foi iniciado graças ao recurso de R$ 700 mil repassado pela Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja) para o Sindicato Rural de Candelária, que também firmou parceria com a prefeitura de Candelária para auxiliar nos esforços do grupo. Contudo, conforme Adalton, o valor não é suficiente para realizar a completa reconstrução das vazantes. “Estima-se que o projeto tenha um custo total de aproximadamente R$ 10 milhões, contemplando cinco etapas distintas que irão dar maior segurança para os produtores rurais de Candelária frente à possibilidade de sofrerem com eventos climáticos adversos”.

Conforme o planejamento do grupo, após a primeira etapa, poderão ter início ações mais concretas voltadas à recuperação dos solos das lavouras, que ficaram prejudicadas de diferentes maneiras. Em alguns locais, o Rio Pardo depositou grossas camadas de areia; em outros, longas faixas de cascalhos. Algumas lavouras tiveram o solo cultivável completamente levado pela correnteza e muitas áreas ficaram cobertas de grandes árvores arrancadas pela enxurrada. Para solucionar estes problemas, o projeto prevê a disponibilização de máquinas pesadas em cada propriedade atingida.

Um terceiro momento deste projeto deverá contemplar os produtores com calcário, adubo e demais insumos necessários para correção do solo cultivável, propiciando que estes agricultores retomem seu ganha-pão. Considerando a segurança das comunidades próximas às margens do Rio Pardo, o projeto também explora ações para minimizar perdas em caso de um novo desastre climático. São elas a construção de áreas elevadas nas propriedades rurais, propiciando abrigo a animais e a proteção de veículos e demais equipamentos, assim como a criação de estradas alternativas para que os moradores possam sair rapidamente de áreas atingidas pelas enchentes.

Além disso, o grupo de trabalho também avalia a realização de intervenções na Rebentona, onde as lavouras, principalmente de arroz, tiveram os condutos de irrigação e escoamento obstruídos, e nas áreas da Serra, onde diversas áreas férteis foram soterradas por deslizamentos. Contudo, depende do recebimento de novos recursos, seja do setor privado ou do Governo Estadual e Federal. “Estamos lutando para viabilizar dinheiro para levar o projeto até o fim. Nos reunimos com diversas entidades ligadas à agricultura, assim como entidades governamentais. Recebemos muitas promessas, contudo, por ora nenhum valor foi disponibilizado. É preciso agilidade para evitar que estas famílias percam seu sustento. É hora de agir”, concluiu.