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25/08/2009 16:56
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As duas faces da moeda

1 - CARA – O Senado da República está passando por uma prova de fogo. As acusações contra os Senadores brotam de todos os jornais, de todos os canais de televisão, de todas as rádios do Brasil. É o vexame dos atos secretos, a farra das passagens aéreas, o escândalo do mordomo que recebe doze mil por mês em Brasília e presta assistência a uma governadora em um Estado distante, o balofo número de diretores com salários mais balofos ainda, etc, etc. Neste contexto desonroso, evaporou-se o comedimento dos excelentíssimos senhores representantes dos estados da federação. A compostura foi pro ralo e acabou a protocolar prudência no trato. Nos pronunciamentos de suas excelências já nos deparamos com termos deprimentes como “ladrões, patifes, canalhas’ e outros quase impublicáveis. Já não se vota projeto de lei e nem sequer as malfadadas Medidas Provisórias são agora votadas. Parou tudo. Os Senadores, perplexos e de olhos esbugalhados, apenas defendem-se das acusações da mídia. O Senado, que deveria dar exemplo de serenidade, virou um  “salve-se-quem-puder”.  A bem da verdade, as irregularidades denunciadas são de envergonhar gigolô barato e fazer corar o rosto de prostitutas da Voluntários. E no meio desse corre-corre ridículo, onde senhores idosos se esquivam de golpes em briga de foice, os mesmos rostos lustrosos que ontem prenunciavam vivência à tripa forra ficaram foscos e agasalham olhos baços. O brilho sumiu na poeira do conflito.
Ante um olhar meticuloso constata-se que é hora de escapulir, não de legislar. As funções primárias, nestes casos, seqüestram as funções secundárias e impõem-se soberanas.
Este panorama desanimador nos conduz a refletir sobre a outra face da moeda.

2 – COROA – Até duas semanas atrás a atenção da mídia brasileira focava o Senado e a incipiente CPI da Petrobrás que se formava. A oposição captou assinaturas suficientes para formar a comissão e investigar procedimentos tidos e havidos como escabrosos, dentro da nossa maior estatal. Dizia-se, à boca-pequena, que do exagero que se paga pelo litro de gasolina, está-se acumulando recursos para financiar a campanha oficial do ano que vem. Dizia-se que as jazidas de petróleo no pré-sal são tão fantásticas que a simples promessa de concessão de exploração está sendo capaz de render fundos para eleger presidente qualquer brucutu.
Essas informações, devidamente dissecadas pelos estrategistas, fizeram crescer os olhos das aves de rapina. Ligou-se a luz amarela dando sinal de alerta. Com CPI da Petrobrás indo a fundo e escancarando as falcatruas imaginadas, adeus benesses do pré-sal. E sem as dádivas do pré-sal, adeus continuidade no poder. Uma coisa atrapalha a outra.
O que fazer então? Abre-se a “caixa-preta”, guardada a sete chaves justamente para essas emergências, e detonam-se os petulantes que se interpõem no caminho. Com os senadores fragilizados, adeus CPI .
É possível isso? Pode ser, tudo é possível. Afinal, as moedas têm duas faces, a cara e a coroa.

Edemar Mainardi
Engenheiro Civil