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25/08/2009 16:56
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Candelria: entre o campo e a cidade, uma trajetria de 84 anos

Ao longo dos 84 anos da emancipação política e administrativa de Candelária, muitas sementes foram lançadas e muitos sonhos foram acalentados. Isto prova que a busca pelo desenvolvimento desta terra sempre foi uma constante. A determinação dos primeiros imigrantes, que deixaram como legado o seu trabalho, demonstra o compromisso firmado para alcançar o progresso. Perseverantes, não desistiram de seus ideais e enfrentaram todas as dificuldades para garantir a posse do seu pedaço de chão. Afinal, eles sabiam que dali sairia o seu sustento e, sobretudo, sua independência. Mais do que isso, conquistariam a dignidade da sua família.
Este histórico remonta à povoação germânica, iniciada em meados de 1857 pelo português Antônio Borges. Segundo a autora do livro “Retalhos de Candelária”, Marli Marlene Hintz, esta data consta na ata de uma Assembléia da Província. Conforme ela, este documento mostra que a povoação teria sido originada na margem direita do rio Pardo. Foi Borges quem fundou a colônia Rio-pardense, então pertencente ao distrito Santa Cruz, no município de Rio Pardo. Em Candelária, a povoação germânica teve início pelas localidades da Linha do Rio, Linha Alta e Linha Facão.
Mais tarde, entre os anos de 1864 e 1866, João Kochenborger, que morava em Rio Pardo, comprou uma grande área de terras e a denominou de Colônia Germânia. “Uma parte desta área abrangia parte da cidade de Cachoeira e outra o distrito Costa da Serra - hoje Candelária”, destaca Marli.
Os primeiros capítulos desta história podem ser assim resumidos. Borges e Kochenborger eram agentes colonizadores e adquiriram grandes áreas de terras do governo da Província, que foram divididas em colônias com cerca de 70 hectares, cada. Estas frações eram vendidas aos imigrantes interessados a um custo muito elevado - algo em torno de 5 mil réis. Já que maioria deles era extremamente pobre e não tinha condições de pagar pela terra, acabava forçada a trabalhar e entregar parte (ou toda) da produção para quitar a dívida até conseguir definitivamente a escritura. Isto levava, em média, 10 anos. “O colonizador só obtinha a posse da terra depois de 10 anos de muito trabalho e sacrifício”, acrescenta a escritora.
A vinda destes imigrantes para o Rio Grande do Sul foi motivada porque a Europa estava empobrecida pelas guerras que devastavam as lavouras. Paralelo a isso, iniciava o processo de industrialização, através do qual a mão-de-obra dos operários foi substituída pelas máquinas. “As pessoas estavam sem emprego e não tinham preparo para ingressar em outro trabalho. Com isso, eram facilmente convencidas pelas promessas do governo do Império, que lhes garantia a doação de terras, insumos e equipamentos para vir ao Brasil”, conta. Na verdade, esta era uma maneira forçada de atrair mão-de-obra. Quem fazia o agenciamento destas famílias era Johann Anton Von Schaef-fer, designado como agente dos afazeres políticos do Brasil.
Os imigrantes que chegavam ao Brasil eram instalados provisoriamente pelo governo da Província. Os que vinham para a região ficavam em Rio Pardo e depois eram levados para Rio Pardinho. “Ali eles ficavam esquecidos e, aos poucos, percebiam que não receberiam ajuda do governo. Então saiam em busca de alguma propriedade para comprar e se sujeitavam a esse critério de ir trabalhando na terra até pagá-la com a colheita”, finaliza.