Logo Folha de Candelária
25/08/2009 16:56
Por:

Canaviais que adoam paladares

A Folha retoma hoje, 7, a publicação normal da série “Riquezas da Nossa Terra”. Na edição do último dia 26 foi repetida, por equívoco, a matéria sobre ovinocultura que havia sido lançada no mês de março. A proposta de diversificação que será apresentada a seguir ainda reúne poucos adeptos em Candelária. Trata-se do plantio de cana para produção comercial de melado ou cachaça. Em situação contrária está o cultivo de hortaliças (divulgado na terça, 23), que se apresenta como um mercado em expansão no município. O leitor conferiu que o cultivo, totalmente ecológico, é feito por pelo menos 13 famílias, assistidas pela Emater, que se dedicam à produção em grande escala através da Associação de Feirantes Ecológicos (Afecan).
Segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE - 2007), em Candelária cerca de 500 hectares são cultivados com cana. O rendimento médio anual gira em torno de 20 mil quilos por hectare, o equivalente a 10 mil toneladas. De acordo com o técnico agrícola e extensionista da Emater, Sanderlei Pereira, grande parte dos canaviais existentes no município são antigos. “São plantações que foram renovadas e se multiplicaram ao longo dos anos”, explica. “Do total plantado, 70% são da variedade roxa e 30% da branca”, acrescenta. É justamente nesta época (entre março e julho) que a planta está na fase de maturação, ou seja, apresenta maior concentração de açúcar. Entretanto, a produção de melado ou cachaça pode ser feita o ano todo, desde que os cortes sejam programados.
É exatamente isto que produtores como Ari Hennig, do Alto Passa Sete, fazem para garantir a produtividade e abastecer seus consumidores. Com oito hectares de cana cultivados, ele consegue manter o ciclo completo de produção. “Dá para colher o ano todo porque se vai cortando conforme o desenvolvimento da lavoura. Estes oito hectares garantem o ciclo do ano todo”, adianta. Ao todo, são cerca de 10 variedades de cana. Em entrevista à Folha, Ari disse que começou a investir nos canaviais em meados de 1996. “Até então eu plantava fumo e criava alguns porcos, mas não dava conta do serviço porque minha esposa (Amélia) trabalhava fora. Decidi apostar na cana porque é uma planta perene e que se desenvolve sem ter que mexer muito na terra. É só plantar, que renova por conta”, revela. “No começo pensei em construir um alambique, mas por desconhecer o modo de produção e pela falta de equipamentos, optei pelo melado, que já sabia como fazer”, acrescenta. Depois de seis anos, em 2002, Ari e Amélia incrementaram significativamente a produção com a construção de uma Agroindústria - a Rodeio da Figueira, hoje conhecida em toda região. “A gente queria aumentar a produção e oferecer um produto com identificação, qualidade e higiene”, garante Amélia. “Para conquistar novos mercados era preciso apresentar o nosso produto, a nossa marca e ter uma procedência”, ressalta Ari. Foi então que começaram a ser utilizadas embalagens e rótulos específicos. Atualmente, são comercializados potes de 400 e 700 gramas e baldes de dois quilos.

CURIOSIDADE - De acordo com Amélia Hennig, até alguns anos muitos consumidores preferiam comprar melado em grande quantidade para manter em estoque. “Algumas pessoas achavam que a gente fazia melado uma vez por ano e por isso compravam em maior quantidade para guardar em casa. Só que não tem essa necessidade. Melado pode ser comprado sempre”, afirma. O prazo de validade é calculado em 180 dias (seis meses), mas pode durar bem mais de acordo com as condições em que for mantido.

ATRAÇÃO - Recentemente, ainda em 2007, a Agroindústria de Melado Rodeio da Figueira foi incluída na Rota Turística Caminho dos Tropeiros e virou atração para visitantes de várias regiões. Um dos benefícios, já identificados pelos proprietários, é a divulgação do produto. “Aos poucos vai divulgando porque uma pessoa vem e comenta com a outra e assim vai”, reforça Amélia. O melado é fornecido para mercados de Candelária, Cachoeira, Santa Cruz, Sobradinho, Arroio do Tigre e Segredo.

Dedicação para superar as dificuldades
Embora a cana seja uma planta de fácil cultivo, a atividade comercial tem seus entraves. Na avaliação de Ari Hennig, um dos principais empecilhos é a busca constante por novos mercados. “Com melado é diferente, tem que estar sempre buscando mercado e, além disso, só se vende quando o produto está em falta. Enquanto há estoque, eles não compram; só na hora que precisam mesmo”, diz. Ele também cita os custos de deslocamento, o tempo não-trabalhado (quando se está na estrada) e a estabilidade dos preços. “Estamos vendendo praticamente pelo mesmo preço de três anos atrás, quando o produto não tinha a mesma rotulagem e embalagem de hoje”, assegura.
Para manter a produção atual de dois mil quilos (mensal), a família Hennig se dedica à atividade. “Tem que ter gosto pelo que se faz senão o trabalho não anda”, resume Amélia. Esta resistência também é característica dos canaviais, visto que a planta só apresenta sensibilidade à geada. “É melhor de ser cultivada em microclimas, ou seja, em lugares próximos a rios, arroios e encostas de morros, onde a incidência da geada não é tão forte”, explica o técnico agrícola e extensionista da Emater, Sanderlei Pereira.

VARIEDADES - De acordo com ele, a Emater tem trabalhado com o objetivo de diversificar os canaviais. No ano passado foram implantadas 10 novas variedades nas propriedades de Ari e Cláudio Hennig (seu irmão). As mudas foram trazidas de São Paulo e da região noroeste do Rio Grande do Sul (Porto Xavier e Santo Antônio da Patrulha), onde se concentram grandes produtores de álcool. “Se pretende fazer uma avaliação destas espécies para identificar o índice de produtividade e, a partir daí, confirmar se há viabilidade de manter o cultivo aqui na nossa região”, finaliza.