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Requiem aeternam dona eis
De todas as histórias que pude compartilhar com vocês neste espaço, creiam, esta é absolutamente a mais dolorosa para mim. Perder a mãe é um sentimento incapaz de relatar; não porque faltam palavras, mas porque nenhuma, ou o conjunto delas, poderia traduzir uma vida. Não faço isso para buscar comiseração, mas para desopilar e, principalmente, refletir sobre a graça e o privilégio de ter sido filho de dona Dorilda e, ainda, sobretudo, para refletir o quanto somos pequenos diante de Deus, e por muitas vezes, dos homens. A história que terminou com seu falecimento, no dia 30 de julho, no Hospital Universitário da Universidade Regional da Campanha, em Bagé, iniciou a cerca de um mês. Minha mãe vinha se queixando de dores estomacais e buscamos incessantemente um diagnóstico. Foi uma via-sacra de consultas, exames e e remédios, mas nada aplacava a dor. A suspeita de cálculos na vesícula só foi confirmada por um exame de ultrassom feito aqui, em Candelária. Porém, antes da intervenção cirúrgica, o médico recomendou que exames do coração também fossem realizados. A suspeita de complicações cardíacas foi confirmada e somou-se ao problema dos cálculos, por isso, a cardiologista não recomendou que se fizesse a cirurgia aqui. A alternativa seria buscar um hospital dotado com Unidade de Tratamento Intensivo, para que, caso alguma complicação surgisse, houvesse recursos condizentes com a realidade do problema. O tempo passou, depois de uma semana internada no hospital e com a saúde já bastante debilitada, minha mãe já não apresentava forças para se submeter à cirurgia; pelo menos eu achava isso, mas não foi o que aconteceu. Enquanto esperávamos uma vaga no lugar que fosse, determinada por um sistema denominado Central de Leitos, na sexta-feira, dia 18, surgiu a esperança de levá-la a Santa Maria. Na segunda-feira, 20, a extremamente competente Jaira Diehl, da secretaria da Saúde, a quem, juntamente com a Fabiana e o Fernando, serei eternamente grato pelo esforço, não desgrudou do telefone até o caso fosse resolvido. A notícia de que um paciente de uma cidade mais próxima teria tomado a vaga para Santa Maria foi como um balde de água fria, mas havia uma segunda opção, de levar a mãe para Bagé, a aproximadamente 300 quilômetros daqui. Na viagem, nos acompanharam o médico José Vasconcellos, a técnica em enfermagem Catiane e o motorista Gelson, da secretaria da Saúde, todos de igual presteza e a quem também devo este agradecimento público. Às 13h, a mãe já dava entrada na UTI do Hospital Universitário, sob os cuidados de uma competente equipe. Como o quadro era extremamente grave, no dia 22, pela manhã, o cirurgião Elias Kalil determinou que a cirurgia fosse realizada imediatamente, às 13h do mesmo dia. E foi o que aconteceu. Bagé estava extremamente fria naquela semana. Eu, com algumas peças de roupa, muita esperança e um tempo fugaz e implacável me consumindo por dentro, fui abrigado na casa de amigos, o Sr. Alberi e Dna. Dolores Butzker. Eu já tinha suspeitas, mas lá confirmei que anjos moram aqui na terra, acreditem. Tratado igual como filho, foram eles, a filha Adriane, o genro Alexandre e as netas Jéssica e Vivian, que aplacaram em muito minha angústia e o sofrimento. Espero um dia poder retribuir de alguma forma feliz por tudo o que fizeram por mim.
A cirurgia terminou por volta das 17h. Ao sair, Dr. Elias informou que tudo correra perfeitamente, assim como eu havia pedido a Deus, horas antes, na capelinha do Hospital. Porém, uma interrogação ficou no ar. Disse ele que havia a suspeita de haver algum tipo de tumor no pâncreas, mas que somente uma tomografia poderia confirmar ou descartar a hipótese. Sem perder as esperanças, disse para mim mesmo: um problema de cada vez; o primeiro passo foi dado e é assim que tem que ser. Momentos depois, entrei na UTI e vi a mãe entubada e ligada àquela infinidade de aparelhos para monitorar pressão, batimentos cardíacos, respiração, estas coisas. Na sexta-feira, a icterícia característica das disfunções biliares já estava desaparecendo e foi realizada a tomografia. O final de semana foi auspicioso, com evidentes sinais de melhora e já sem os tubos de oxigênio. Na segunda-feira, dia 27, já estava sentada na cama, e se alimentando por via oral. Até então, eram marcas e marcas de picadas de agulha que levavam alimento através do soro. A terça-feira foi um dia muito feliz. Eu estava certo de que em breve estaríamos voltando e retomando nossas vidas junto à família, que só tinha notícias por telefone e, acredito, todos estavam mais ansiosos do que eu, que acompanhei tudo de perto. À noite, passei a boa nova a todos e fui dormir cedo para acordar também cedo e comemorar a convalescença com a mãe no primeiro horário de visitas. Pouco antes das 10h30 da quarta-feira, dia 29, o cardiologista Gilberto Costa Gomes, médico responsável pelo atendimento levou-me uma ótima notícia: a suspeita de carcinoma de pâncreas havia sido descartada pelo radiologista. Mas tal qual um monitor cardíaco, os picos de notícias boas se misturavam à realidade nem tão boa assim. Minha mãe não queria se alimentar, não se mostrava disposta e, para complicar, a equipe não conseguia achar veias para conduzir o tratamento venífluo. À tarde, alternando momentos de lucidez e de breves delírios, a vi viva pela última vez. Exatamente aos 33 minutos do dia 30, meu telefone tocou e um enfermeiro pedia minha presença no Hospital. Eles não me chamariam por nada e fui na certeza de ter que ouvir o pior. Ao chegar, a confirmação: “Fizemos tudo o que podíamos, mas infelizmente ela foi a óbito”, disse ele.
Ao lado de seu Alberi, peguei o telefone e tratei de fazer o que era preciso. Às 5 da madrugada o carro da Funerária Freitas – empresa a qual agradeço imensamente pela eficiência da equipe, especialmente ao Marcos –, já estava a postos em Bagé para trazermos a mãe à sua terra. Me despedi dos amigos de Bagé e durante o dia recebemos o carinho de familiares e amigos; prefiro não citar nomes para não incorrer no erro de esquecer alguém. Às 16h30, meu amigo Pastor Júlio Bauer nos dirigia palavras de consolo e, ao entardecer daquele melancólico dia 30, nos despedimos de dona Dorilda, que agora descansa em paz junto ao meu pai.
Agora, o barco da vida segue seu rumo, diante da certeza de que fiz tudo o que estava ao meu alcance para, se não aplacar o sofrimento, pelo menos demonstrar meu carinho e gratidão de filho. Se Deus quis assim, sou muito pequeno para contestar suas razões, e certamente ele as deve ter. Porém uma dúvida vai me acompanhar para sempre: será que alguém não poderia ter feito algo mais? Acredito que esta resposta nunca será obtida. E não me resta nada senão pedir a Deus para dar à minha mãe o descanso eterno e a paz de espírito aos que merecem. Valeu muito, dona Dorilda! Obrigado!
A cirurgia terminou por volta das 17h. Ao sair, Dr. Elias informou que tudo correra perfeitamente, assim como eu havia pedido a Deus, horas antes, na capelinha do Hospital. Porém, uma interrogação ficou no ar. Disse ele que havia a suspeita de haver algum tipo de tumor no pâncreas, mas que somente uma tomografia poderia confirmar ou descartar a hipótese. Sem perder as esperanças, disse para mim mesmo: um problema de cada vez; o primeiro passo foi dado e é assim que tem que ser. Momentos depois, entrei na UTI e vi a mãe entubada e ligada àquela infinidade de aparelhos para monitorar pressão, batimentos cardíacos, respiração, estas coisas. Na sexta-feira, a icterícia característica das disfunções biliares já estava desaparecendo e foi realizada a tomografia. O final de semana foi auspicioso, com evidentes sinais de melhora e já sem os tubos de oxigênio. Na segunda-feira, dia 27, já estava sentada na cama, e se alimentando por via oral. Até então, eram marcas e marcas de picadas de agulha que levavam alimento através do soro. A terça-feira foi um dia muito feliz. Eu estava certo de que em breve estaríamos voltando e retomando nossas vidas junto à família, que só tinha notícias por telefone e, acredito, todos estavam mais ansiosos do que eu, que acompanhei tudo de perto. À noite, passei a boa nova a todos e fui dormir cedo para acordar também cedo e comemorar a convalescença com a mãe no primeiro horário de visitas. Pouco antes das 10h30 da quarta-feira, dia 29, o cardiologista Gilberto Costa Gomes, médico responsável pelo atendimento levou-me uma ótima notícia: a suspeita de carcinoma de pâncreas havia sido descartada pelo radiologista. Mas tal qual um monitor cardíaco, os picos de notícias boas se misturavam à realidade nem tão boa assim. Minha mãe não queria se alimentar, não se mostrava disposta e, para complicar, a equipe não conseguia achar veias para conduzir o tratamento venífluo. À tarde, alternando momentos de lucidez e de breves delírios, a vi viva pela última vez. Exatamente aos 33 minutos do dia 30, meu telefone tocou e um enfermeiro pedia minha presença no Hospital. Eles não me chamariam por nada e fui na certeza de ter que ouvir o pior. Ao chegar, a confirmação: “Fizemos tudo o que podíamos, mas infelizmente ela foi a óbito”, disse ele.
Ao lado de seu Alberi, peguei o telefone e tratei de fazer o que era preciso. Às 5 da madrugada o carro da Funerária Freitas – empresa a qual agradeço imensamente pela eficiência da equipe, especialmente ao Marcos –, já estava a postos em Bagé para trazermos a mãe à sua terra. Me despedi dos amigos de Bagé e durante o dia recebemos o carinho de familiares e amigos; prefiro não citar nomes para não incorrer no erro de esquecer alguém. Às 16h30, meu amigo Pastor Júlio Bauer nos dirigia palavras de consolo e, ao entardecer daquele melancólico dia 30, nos despedimos de dona Dorilda, que agora descansa em paz junto ao meu pai.
Agora, o barco da vida segue seu rumo, diante da certeza de que fiz tudo o que estava ao meu alcance para, se não aplacar o sofrimento, pelo menos demonstrar meu carinho e gratidão de filho. Se Deus quis assim, sou muito pequeno para contestar suas razões, e certamente ele as deve ter. Porém uma dúvida vai me acompanhar para sempre: será que alguém não poderia ter feito algo mais? Acredito que esta resposta nunca será obtida. E não me resta nada senão pedir a Deus para dar à minha mãe o descanso eterno e a paz de espírito aos que merecem. Valeu muito, dona Dorilda! Obrigado!