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25/08/2009 16:56
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Trigo: nutritivo, mas de baixa lucratividade

O plantio de trigo não é recomendado para quem pretende ter ganhos significativos na lavoura. Isto porque a cultura gera pouca renda e precisa necessariamente de um clima favorável para se desenvolver (ameno e sem excesso de chuvas). São por fatores como estes que a área plantada no município tem reduzido nos últimos anos. Embora haja potencial para cultivar entre quatro e cinco mil hectares com o cereal, o que se observa é a diminuição acentuada do plantio. Segundo informações da Agrican, escritório de planejamento agrícola e de consultoria, de Candelária, maioria dos agricultores aposta nas pastagens de inverno, já que a lucratividade é maior trabalhando com a pecuária de corte. Na edição de hoje, 18, a série “Riquezas da Nossa Terra” descreve estas e outras particularidades do trigo.
Na última terça, 11, o leitor conferiu o potencial produtivo do fumo, que mantém expressiva participação nos rendimentos da agricultura familiar. Foi descrito que a atividade envolve pelo menos quatro mil famílias em Candelária e que ocupa uma área de quase 10 mil hectares. Estimativas recentes, divulgadas pelo Sindicato Rural, indicam que o fumicultor obteve, em média, R$ 6,20 pelo quilo do produto, o equivalente a R$ 93,00 por arroba, na safra 2008/2009. Na comparação com o valor praticado sobre o custo de produção, representa um índice de lucratividade de 26%. Foi exposto, ainda, que a planta é uma das mais resistentes aos rigores do inverno e do verão e que sobrevive em maioria das propriedades apesar da diversificação estar em pleno desenvolvimento.
Em situação contrária, portanto, estão os trigais. Conforme o engenheiro agrônomo Adalton Siqueira, da Agrican, na safra 2008/2009 foram cultivados cerca de 450 hectares com o cereal em Candelária. Para a de 2009/2010, iniciada recentemente, a projeção é de 350 hectares. Percebe-se aí a diminuição da área. Este decréscimo, embora lento, é expressivo. Em 2007, por exemplo, quando o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou as últimas projeções do Censo Agropecuário, Candelária tinha 600 hectares ocupados com trigo. Na avaliação de Siqueira, este desestímulo se justifica pela baixa lucratividade. “É uma cultura de inverno secundária que apresenta pouca renda, embora seja importante para a alimentação humana e animal. Também é considerada de alto risco em função do clima. Por isso, os produtores da região do campo preferem ocupar a terra com pastagens de inverno, que são mais resistentes e apresentam retorno com a pecuária”, explica.
Sobre a rentabilidade, ele destaca que é praticamente semelhante ao custo de produção. “Na safra passada houve um empate. Foram colhidos 35 sacos por hectare; mesma quantia do custo. Para este ano a previsão é de que a despesa seja de uns 30 sacos por hectare porque houve redução no valor do adubo e da uréia”, acrescenta. Em números, segundo ele, são gastos até R$ 900,00 por hectare. “Este cálculo também é muito variável em função do clima. Se houver muito sol ou muita chuva é preciso mudar a tecnologia (manejo)”, conclui. A considerada média, por exemplo, requer - por hectare - até 150 quilos de adubo, 80 quilos de uréia, duas aplicações de fungicida e sementes de boa qualidade (certificadas).

SOLO - Conforme o engenheiro agrônomo Adalton Siqueira, maioria dos solos de Candelária não é propícia para o desenvolvimento do trigo. O ideal são áreas de altitude elevada e que não possuam umidade - oposto do que se observa no município. Quanto ao tamanho da lavoura, ele esclarece que não necessita ser de grande porte. “A área vai variar de acordo com o interesse do produtor, de plantar mais ou menos”, diz. As variedades mais cultivadas são a Guamirin, Pampeano e Abalone. A produção abastece as cooperativas da região.

Cultivo permite rotação nas lavouras
Foi apostando nos benefícios da rotatividade de culturas que o agricultor Jéferson Kappaun, 25 anos, da Linha do Sul, aderiu ao plantio de trigo no ano passado. Ele ocupa as lavouras com o cereal antes da preparação da safra de soja. “Já plantava milho e soja. Sabia um pouco sobre trigo porque participei de algumas palestras e meu avô também plantava há alguns anos. Optei pela cultura porque possuía a área e a tecnologia necessárias para o cultivo. É uma planta fácil de cuidar”, conta.
Antes disso, ele mantinha pastagens de inverno, como o azevém. “O trigo me permite um retorno durante o inverno, no intervalo até a colheita da soja”, resume. A primeira safra, prossegue, apresentou bons rendimentos. “Colhi em torno de 33 sacos por hectare e vendi, em média, a R$ 24,00. A produção foi boa, o clima ajudou, mas o preço podia ter sido melhor”, diz. Para a safra 2009/2010 ele ressalta que ainda não há projeções. “Plantei no fim de maio e devo colher no fim de outubro ou meados de novembro; é um ciclo de aproximadamente 120 dias. A lavoura está se desenvolvendo agora e ainda não tem como lançar uma estimativa de produtividade”, avalia.
Assim que colher o trigo, Kappaun inicia o preparo das lavouras para o plantio de soja, possivelmente a partir da primeira quinzena de novembro. Atualmente, ele ocupa 10 dos 15 hectares que possui com trigais.