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23/10/2009 11:32
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Colheita do fumo inicia com perspectiva de quebra na safra de quem plantou cedo

Estimativas da Afubra (Associao dos Fumicultores do Brasil) apontam que, a pelo menos quatro anos, o fumo tem sido transplantado cada vez mais cedo. Isto se explica por dois motivos: a planta precisa estar desenvolvida para enfrentar o rigor do frio e pronta para ser colhida antes do perodo de estiagem - meados de dezembro e janeiro. De acordo com o presidente da entidade, Bencio Werner, nas microrregies de Santa Cruz, Cachoeira e Venncio Aires j foram colhidos em torno de 5% da safra 2009/2010. Embora mnimo, o percentual maior do que o verificado em igual perodo anterior. Em entrevista Folha, ele destacou que o volume estocado s no maior porque alguns municpios pertencentes a estas microrregies ficam na parte serrana, onde tradicionalmente as lavouras so preparadas no tarde. "O Estado que est mais adiantado Santa Catarina. Na regio de Ararangu e Tubaro j foram colhidos em torno de 30% e 15%, respectivamente", afirma. Em Candelria, a colheita deve ser intensificada a partir de novembro, quando maioria das lavouras estiver desenvolvida. O volume armazenado, at agora, praticamente inexpressivo. EXPECTATIVAS - Quem apressou o plantio dever registrar quebra de produtividade em funo do excesso de chuvas. "Aqueles que esto colhendo perderam muito no peso do fumo, mas os que esto iniciando a colheita e fizeram a adubao de cobertura ainda podem recuperar o prejuzo", avalia o dirigente da Afubra. "Mas preciso tambm que o solo esteja mido e que faam mais dias de calor para assegurar o desenvolvimento da planta", considera. Werner explica que as precipitaes, acima da mdia, causaram a lixiviao dos fertilizantes, ou seja, diluram a adubao que fortaleceria a planta. Isto fez com que os produtores tivessem gastos extras para conduzir as lavouras. Um deles - e que j comeou a colher - Valdomiro Lopes, da Linha Boa Vista. Depois de ter replantado aproximadamente 8.500 ps (perdidos em funo da geada), ele teve que comprar 1.800 quilos de adubo e de salitre a mais para fortificar a plantao. "Lavou tudo com a chuva. Tive que adubar de novo antes de colher", ressalta. "Foi um gasto extra, que no era esperado", lamenta. Dos 35 mil ps plantados, 3.400 ainda esto em fase de desenvolvimento na propriedade de Lopes. Ele iniciou a colheita no dia 10 e, at ento, estocou duas fornadas. "A primeira secou bem na comparao com o ano passado. Assim que comear a compra, vou vender", adianta. A previso de que esteja tudo colhido em meados de janeiro. MERCADO - Na avaliao do integrante da comisso do fumo da Fetag/RS (Federao dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul) e presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Candelria, Juarez Cndido, apesar da queda de produtividade, o fumo deve apresentar qualidade. "Vamos ter prejuzo na produo, mas em compensao o produto tende a ter a qualidade que o mercado exige. Em ano chuvoso, a planta no encorpada e, por isso, apresenta baixos teores de nicotina", relata. O presidente da Afubra confirma esta previso, mas diz que no d para garantir que a qualidade v se sobrepor diminuio do peso. " difcil mensurar se vai superar a baixa do peso. Vo faltar quilos e isso vai implicar diretamente no valor a ser obtido", conclui. Negociaes podem atrasar Os debates em torno do reajuste da tabela de classificao para a safra 2009/2010 possivelmente sero adiados. A previso de que isto se confirme em funo da demora na concluso do custo de produo. A partir de agora, a representao dos produtores ter novos coeficientes tcnicos para a base de clculo. At ento, era considerado o formato definido ainda em 1989. De acordo com o integrante da comisso do fumo da Fetag/RS (Federao dos Trabalhadores na Agricultura do Rio Grande do Sul), Juarez Cndido, a mudana se justifica pelas significativas alteraes verificadas na preparao das lavouras nas ltimas dcadas. Ele cita como exemplo o plantio direto e o cultivo mnimo - hoje predominantes; a mecanizao das lavouras; a modernizao das estufas - de convencional para eltrica; e o sistema de bandejas, que tem substitudo os canteiros. Cndido acrescenta que o atraso ser ocasionado pela necessidade de fazer novos acompanhamentos junto a lavouras do Paran. "A Federao Patronal do Paran alega no ter participado de um levantamento feito pela representao da Afubra e das indstrias numa determinada regio. Por isso, ainda no assinou o termo de concordncia", diz. "Agora ser preciso fazer um novo levantamento de dados e isso vai tardar a finalizao do trabalho", resume. Alm disso, preciso reunir informaes sobre as despesas com lenha e mo-de-obra para finalizar o clculo que ser apresentado indstria. NOVIDADE - O novo custo de produo, segundo Juarez Cndido, aponta reduo no nmero de horas ou dias trabalhados (por hectare). O motivo a modernizao da produo. Tambm indica um custo mais alto, em funo da tecnologia, e mo-de-obra mais qualificada. A estimativa parcial j mostra acrscimo de 12% no custo de produo. Prejuzo com temporal passa de R$ 11 mi O valor corresponde a levantamento feito at o ltimo dia 17 nos trs estados do Sul. De acordo com o presidente da Afubra, Bencio Werner, as perdas j somam R$ 11,8 milhes. No ano passado, o prejuzo foi de R$ 5,3 milhes - praticamente a metade. Segundo ele, os produtores atingidos - e que esto em dia com o seguro mtuo - recebero a indenizao em meados de maro ou abril. "O pagamento feito sempre no incio da comercializao. Isto ocorre desde 1956. nesta poca, tambm, que os agricultores pagam o seguro da lavoura", explica. O temporal de granizo atingiu 10.665 lavouras do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paran. "Aumentou em 150% se analisarmos o nmero registrado no ano passado (4.270)", diz. "A expectativa de que o tempo se firme de agora em diante, j que houve a troca de estao", acrescenta.