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30/10/2009 11:30
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Finados: um dia de saudades

"As lembranas tm mais poesia que as esperanas, assim como as runas so muito mais poticas que as etapas de construo de um edifcio". (Jacinto Benavente) A celebrao do dia de Finados, em 2 de novembro, , sobretudo, uma oportunidade para refletir sobre a vida. Ela terminar para todos neste mundo, apenas uma questo de tempo. Alm disso, para a eternidade no se leva nada de material - pregao comum em todas as crenas -, apenas o bem que cada um fez para si mesmo e para os outros. Logo, deve ser uma tomada de conscincia de que ser feliz e viver bem no significa acumular tesouros, prazeres ou glrias, mas fazer o bem e preparar uma vida eterna com Deus. Mas embora todos os postulados e credos da f crist no cansem de afirmar que a morte um encontro com Deus, muitas pessoas, por razes de fragilidade de crena, temores psicolgicos, traumas de infncia, carncias ou alguns complexos de culpa, tm medo de morrer, rejeitando, no subconsciente a ideia da morte como uma comunho definitiva. A histria diz que os primeiros indcios de celebraes em memria dos mortos so encontrados em Sevilha, na Espanha, no sculo VII, e em Fulda, na Alemanha, no sculo IX. O verdadeiro fundador da data, porm, Santo Odilon, abade de Cluny, da Frana. A iniciativa propagou-se rapidamente por todo estado francs e pelos pases nrdicos e o dia 2 de novembro foi escolhido para ficar perto da comemorao a Todos os Santos, celebrada em honra de todos os santos e mrtires, no dia 1 de novembro . No entanto, muitos documentos dos primeiros sculos da Igreja j fundamenvatam esta prtica. Por exemplo, a Didaqu - ou Doutrina dos 12 Apstolos -, do ano 100, j mandava "oferecer oraes pelos mortos". Nas Catacumbas de Roma os cristos rezavam sobre o tmulo dos mrtires suplicando a sua intercesso diante de Deus. Tertuliano, Bispo de Cartago, afirmava que "a esposa roga pela alma de seu esposo e pede para ele refrigrio, e que volte a reunir-se com ele na ressurreio; oferece sufrgio todos os dias do aniversrio de sua morte". PREPARAO - Com a tradio que se perpetua, desde o incio da semana grande a movimentao no Cemitrio Municipal de Candelria. L, uma equipe da secretaria de Obras est realizando a limpeza para receber os milhares de parentes que iro reverenciar a memria dos entes que j partiram. Segundonio Rohde, que coordena a pasta das Obras, neste ano um nmero maior de pessoas deve visitar o cemitrio em razo do feriado da Reforma Luterana, comemorado amanh, 31. Segundo ele, as famlias tambm se mobilizaram durante a semana para limpar os jazigos e levar flores, adiantando-se correria de ltima hora. Para dar suporte a quem for ao cemitrio no sbado, domingo e na segunda-feira, a prefeitura colocar um funcionrio de planto. Apesar dos preparativos e da limpeza nos cemitrios, a prefeitura aponta que um dos principais problemas enfrentados - e que s perde lugar para a superlotao - o abandono dos tmulos por parte das famlias. Isso porque, a partir do momento que os parentes adquirem terrenos para enterrar seus entes, cabe a eles a manuteno dos jazigos. Assim, sobra para a prefeitura fazer os necessrios reparos e manter pelo menos limpos os tmulos abandonados sorte do tempo. Sobre tmulos e bitos No existe informao sobre o nmero de pessoas que esto enterradas no cemitrio de Candelria e tampouco quantos so os tmulos que compem o campo-santo da cidade. Da mesma forma, em relao aos bitos, no se pode precisar quantos candelarienses j morreram. Em pesquisa junto ao Cartrio de Registros Pblicos, a reportagem da Folha apurou que foram registradas oficialmente desde 1889 at quarta-feira 13.594 mortes. O nmero, porm, no reflete a realidade, conforme explicou o registrador pblico Luiz da Rosa Gomes. Segundo ele, so trs os livros que registram as mortes em Candelria. Entre 1889 e 1927, foram 81 bitos, entre 1928 e 1975 mais 6.285 e de 1976 a 2009 7.228 bitos. Os casos de mortes de candelarienses em outros municpios, principalmente em hospitais, no fazem parte do levantamento, pois os registros so realizados na cidade em que ocorreu o falecimento. Alm disso, a morte em Candelria de pessoas de outros lugares colaboram para deixar ainda mais imprecisa a estatstica.