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Resgatando a autoestima
Convidado, fui Expocande. Chovia. Levei medo. que eu havia passado por l em maro/abril deste ano e constatado a fragilidade estrutural do solo. A ex-lavoura de arroz vertia gua a cada escavao feita pelos operrios. O lenol fretico praticamente aflorava junto superfcie. Fazer naquele lamaal um parque de eventos seria, mais do que uma aventura, um desafio.
Em estadas anteriores na cidade, em duas oportunidades de cem dias cada uma, convivi com candelarienses e aprendi a entend-los. A gente se reunia com frequncia em grupos temticos para projetar uma Candelria melhor. Nessas reunies cansei de ouvir expresses desanimadoras do tipo "isso no vai dar certo", ou "no adianta tentar", ou ainda " tempo perdido, vamos desistir", etc. Havia um magnfico exerccio de desalento regado de apatia a banhar o bero da esperana de uma comunidade inteira. E entendi que esse negativismo dos que se dispunham a pensar o amanh era reflexo da prpria comunidade.
Eu no posso afirmar porque nada ouvi, mas a iniciativa de transformar a tal ex-lavoura de arroz em um parque de eventos deve ter sido bombardeada j no seu nascedouro, tanto na cidade quanto na serra e no campo. Bombardeio no por maldade, mas por hbito pessimista de um povo j descrente ante tantos infortnios.
Em junho deste ano voltei ex-lavoura de arroz para ver o andamento das obras. Deparei-me com o ronco de mquinas, de tratores e de escavadeiras e testemunhei o empenho de dezenas de candelarienses entregues empreitada com afinco. Homens, com botas de borracha e capacetes de fibra, que suavam na testa, apesar do frio do inverno. Homens de vergonha e de brio, que no davam muita conversa para os visitantes, no por descortesia, mas por responsabilidade. O compromisso de transformar uma ex-lavoura de arroz num parque de eventos para abrigar a Expocande j em novembro.
Pois . Agora em novembro, mesmo com chuva e com medo, convidado, fui Expocande. Parecia um milagre. A ex-lavoura de arroz virou um jardim florido. O atoleiro de gua lodacenta virou ilha e ancoradouro de restaurante de alto nvel. O terreno pantanoso foi substitudo por vias pavimentadas. A rea agreste e baldia serviu de alicerce que sustenta um ginsio de esportes para milhares de entusiastas. Pavilhes de alvenaria exibem no seu ventre toda a pujana de um povo. E a principal mudana: onde no inverno de junho suavam homens sisudos, calados com botas de borracha e protegidos por capacetes de fibra, na primavera de novembro desfilam mulheres bonitas, alegres, joviais, perfumadas e homens elegantes, todos de cabea erguida, altivos, orgulhosos, animados.
Candelria est mudando. O entusiasmo voltou, e isso me faz lembrar do lema que levou Barack Obama a conduzir os destinos da mais poderosa nao do mundo. Barack Obama, um senador negro e at ento inexpressivo no contexto americano, chegou ao apogeu da glria impulsionado por uma frase aglutinadora: "Yes, we can" (sim, ns podemos). O povo entendeu e pintou os Estados Unidos de "yes, we can" por todos os lados. Obama despertou a autoestima dos americanos que cerraram os punhos e ergueram o queixo, tudo protagonizado por um lema.
O Parque de Eventos pode cristalizar o alento de uma comunidade e faz-la cerrar o punho e erguer o queixo para afirmar: sim, ns podemos.
Engenheiro Civil