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Geral 18/04/2025 17:59
Por: Arthur Mallmann

Encenação pascal traz emoção e fé aos pés do Botucaraí

Tradição também levou romeiros a subirem o morro em cumprimento de promessas

  • Janaína, de Sinimbu, com a família: de arrepiar

A manhã da Sexta-Feira Santa, 18 de abril, foi marcada por um profundo momento de fé e espiritualidade no tradicional Morro Botucaraí, em Candelária. Centenas de fiéis participaram da já consagrada encenação da Paixão de Cristo, vivenciando com intensidade os últimos momentos de Jesus.

Desde as primeiras horas do dia, o movimento já era intenso no entorno do Santo Cerro. Antes mesmo das 8h, o estacionamento ao pé do morro estava tomado por veículos. No caminho, romeiros destemidos seguiam a pé desde o asfalto, cumprindo promessas, expressando pedidos ou simplesmente mantendo viva a tradição de subir o morro nesta data simbólica. Muitos pararam para beber ou se banhar na água da vertente local, considerada santa desde o tempo da passagem do Monge João Maria pela região, entre 1845 e 1848. Outros, em silêncio, acendiam velas e faziam suas orações.

Às 9h, o pároco da Igreja Católica local realizou uma breve cerimônia religiosa e abençoou os presentes com água benta retirada da própria fonte do morro. Logo após, teve início a aguardada encenação da Paixão de Cristo, apresentada pelo grupo de teatro Cara e CorAgem, sob a coordenação de Lilian Schünke.

Como de costume, a apresentação emocionou o público, que acompanhou em silêncio respeitoso os momentos mais intensos da história, culminando em um efusivo aplauso ao final. A atuação comovente e respeitosa dos atores deu vida à narrativa bíblica de forma tocante e inspiradora.

Segundo Lilian, que participa da encenação desde 2003, o maior desafio de cada ano é oferecer uma nova perspectiva sobre a mesma história. Em 2025, a encenação trouxe destaque para a figura de Maria de Betânia, irmã de Lázaro. “Ela deu o que tinha de melhor a Jesus ao ungi-lo com nardo puro. Essa é a mensagem que queríamos deixar na Páscoa: que todos tirem um tempinho para ouvir a sua espiritualidade e se tornem um pouquinho melhores como seres humanos”, explicou a diretora.

O grupo Cara e CorAgem é formado por 24 atores fixos e diversos figurantes, todos naturais de Candelária. “Somos todos candelarienses. É talento nosso”, destacou Lilian, orgulhosa. 

 


Fé renovada e emoção à flor da pele

Entre os fiéis presentes, estava Janaína Schena, 33 anos, professora de Sinimbu, que voltou ao morro após 12 anos. Ao lado do marido, da filha e da mãe, ela assistiu à encenação como um momento de renovação espiritual. “Viemos para renovar a fé e refletir sobre o propósito da vida”, contou.

Visivelmente emocionada durante a apresentação, Janaína se disse profundamente tocada pela história encenada. “O teatro é muito emocionante. De arrepiar mesmo. Nos colocamos no lugar do sofrimento dos personagens. Eu acredito que não há quem seja mãe que não se coloque no lugar de Maria".

(Fotos: Arthur Lersch Mallmann | Folha de Candelária)