Por: Arthur Mallmann
Encenação pascal traz emoção e fé aos pés do Botucaraí
Tradição também levou romeiros a subirem o morro em cumprimento de promessas
A manhã da Sexta-Feira Santa, 18 de abril, foi marcada por
um profundo momento de fé e espiritualidade no tradicional Morro Botucaraí, em
Candelária. Centenas de fiéis participaram da já consagrada encenação da Paixão
de Cristo, vivenciando com intensidade os últimos momentos de Jesus.
Desde as primeiras horas do dia, o movimento já era intenso
no entorno do Santo Cerro. Antes mesmo das 8h, o estacionamento ao pé do morro
estava tomado por veículos. No caminho, romeiros destemidos seguiam a pé desde
o asfalto, cumprindo promessas, expressando pedidos ou simplesmente mantendo
viva a tradição de subir o morro nesta data simbólica. Muitos pararam para beber
ou se banhar na água da vertente local, considerada santa desde o tempo da
passagem do Monge João Maria pela região, entre 1845 e 1848. Outros, em
silêncio, acendiam velas e faziam suas orações.
Às 9h, o pároco da Igreja Católica local realizou uma breve
cerimônia religiosa e abençoou os presentes com água benta retirada da própria
fonte do morro. Logo após, teve início a aguardada encenação da Paixão de
Cristo, apresentada pelo grupo de teatro Cara e CorAgem, sob a
coordenação de Lilian Schünke.
Como de costume, a apresentação emocionou o público, que
acompanhou em silêncio respeitoso os momentos mais intensos da história,
culminando em um efusivo aplauso ao final. A atuação comovente e respeitosa dos
atores deu vida à narrativa bíblica de forma tocante e inspiradora.
Segundo Lilian, que participa da encenação desde 2003, o
maior desafio de cada ano é oferecer uma nova perspectiva sobre a mesma
história. Em 2025, a encenação trouxe destaque para a figura de Maria de
Betânia, irmã de Lázaro. “Ela deu o que tinha de melhor a Jesus ao ungi-lo
com nardo puro. Essa é a mensagem que queríamos deixar na Páscoa: que todos
tirem um tempinho para ouvir a sua espiritualidade e se tornem um pouquinho
melhores como seres humanos”, explicou a diretora.
O grupo Cara e CorAgem é formado por 24 atores fixos e diversos figurantes, todos naturais de Candelária. “Somos todos candelarienses. É talento nosso”, destacou Lilian, orgulhosa.
Fé renovada e emoção à flor da pele
Entre os fiéis presentes, estava Janaína Schena, 33
anos, professora de Sinimbu, que voltou ao morro após 12 anos. Ao lado do
marido, da filha e da mãe, ela assistiu à encenação como um momento de
renovação espiritual. “Viemos para renovar a fé e refletir sobre o propósito da
vida”, contou.
Visivelmente emocionada durante a apresentação, Janaína se disse profundamente tocada pela história encenada. “O teatro é muito emocionante. De arrepiar mesmo. Nos colocamos no lugar do sofrimento dos personagens. Eu acredito que não há quem seja mãe que não se coloque no lugar de Maria".
(Fotos: Arthur Lersch Mallmann | Folha de Candelária)