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Fumo: negociaes devem ser retomadas
Os debates em torno do preo do fumo para a safra 2009/2010 iniciaram dias 7 e 8 de dezembro, em Santa Cruz do Sul, e seguiram dias 13 e 14 de janeiro, em Porto Alegre. Em nenhuma destas ocasies houve avanos. A representao dos agricultores - formada pela Associao dos Fumicultores do Brasil (Afubra), Federaes dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (Fetag/RS), Santa Catarina (Fetaesc) e Paran (Fetaep) e Federaes da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul), Santa Catarina (Faesc) e Paran (Faep) - saiu na frente e cobrou 19,5% de aumento. "Ao contrrio dos outros anos, ns apresentamos a oferta para a indstria. Tivemos muita segurana ao pedir este ndice porque fizemos um estudo completo para elaborar novos coeficientes tcnicos que indicaram o custo de produo da safra", adiantou Bencio Werner, presidente da Afubra.
Em entrevista Folha, ele disse que o percentual apresentado pelas fumageiras (6,10% Souza Cruz; 7,5% Universal Leaf; 10% grupo JTI - comprador da Kannenberg e KBH&C; e 10,2% Alliance One) no tido como definitivo. "No entendemos como ndice final porque est bem abaixo do que esperamos", pontuou. "As duas partes interessadas fizeam suas propostas; a negociao deve comear agora", acrescentou. A expectativa de que o prximo encontro entre as representaes acontea depois do feriado de Carnaval. Isto porque no dia 12 ainda acontece reunio na Fetag/RS, com dirigentes dos sindicatos das regionais, na qual ser concludo relatrio sobre as perspectivas dos agricultores quanto comercializao. "Precisamos saber quais so os anseios dos produtores e o que eles esperam da indstria para negociarmos outra vez o preo", afirmou Werner.
ESPERA - Por enquanto, a comercializao est adiantada no litoral de Santa Catarina. Na regio do Vale do Rio Pardo, conforme informaes da Afubra, ainda no chega a 5% o volume entregue indstria em vista da indefinio do preo. Ao que tudo indica, o produtor est mantendo o fumo estocado na tentativa de obter melhor classificao. isto, alis, o que recomendam as entidades representativas. O alerta para que o agricultor analise, na hora da venda, se vai obter o preo mdio do tipo TO2, que de R$ 5,68 o quilo. Alm disso, esta a poca em que praticamente todos os produtores esto envolvidos no plantio de outras culturas, como o milho, por exemplo, que cultivado logo depois da colheita do fumo. Por isso, a classificao tarda e o volume a ser vendido aumenta a partir do ms de maro.
Com menos fumo, valorizao aumenta
A lei da oferta e da procura deve prevalecer na safra 2009/2010. As perdas ocasionadas em funo dos temporais e enchentes vo refletir tambm na hora da compra pela indstria, quando o produto tende a ser valorizado. Levantamento feito pela Federao da Agricultura do Rio Grande do Sul (Farsul) na regio Sul - Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paran - aponta reduo de 20% no volume a ser comercializado. Das 750 mil toneladas estimadas cerca de 600 mil devero ser vendidas. Isto representa a perda de R$ 1,2 bilho. Em torno de 80% deste prejuzo ser registrado no Rio Grande do Sul.
De acordo com o presidente da comisso do tabaco da Farsul e do Sindicato Rural de Candelria, Mauro Flores, em vista dessa diminuio a indstria poder pagar mais pela produo. "O ganho ser registrado na hora da compra; no preo no acredito que v interferir", resumiu. Procurado pela reportagem da Folha, ele disse que, de modo geral, os produtores tm registrado satisfao com a classificao. "Por enquanto no houve reclamaes. Quem vendeu se disse satisfeito com a indstria", destacou.
At agora, foram vendidos 12% do total produzido na regio Sul. Este ndice menor do que o comercializado, em igual perodo, na safra anterior. "O produtor est esperando para conseguir melhor cotao", adiantou Flores. Quem est nesta situao o agricultor Derli Rodrigues, 38 anos, que mora s margens da RS 400, nas proximidades do bairro Ewaldo Prass, em Candelria. Os 60 mil ps cultivados nesta safra ainda seguem estocados. "Terminei de colher faz uns 20 dias e no vendi nada para indstria. No fim deste ms vou vender um pouco e depois vou esperar o preo melhorar", explicou. Sobre o reajuste da tabela, ele no se mostrou otimista. "Creio que no vai aumentar mais do que 12% porque as indstrias ofereceram em torno de 10% apenas", lamentou.
DIMINUIO - Foi justamente por estar desesperanoso que Derli reduziu a quantidade produzida. Na edio do dia 5 de junho de 2009, a reportagem da Folha j havia conversado com ele e registrado o descontentamento quanto valorizao da produo. Naquela ocasio, chegou a relatar que reduziria a rea plantada em pelo menos 15 mil ps. Entretanto, a reduo foi de cinco mil ps. E para a safra seguinte - 2010/2011 - deve ocorrer o mesmo. "Planejo plantar uns 40 mil ps na prxima", disse. A deciso se justifica, tambm, pelo alto custo de produo e pela falta de mo-de-obra, tendo em vista que o trabalho feito por ele e a esposa Odlia.
A exemplo de outros agricultores, Derli foi prejudicado pelo excesso de chuvas. "Nas primeiras fornadas o fumo secou escuro. Se no tivesse chovido tanto tambm teramos colhido antes", ressaltou.