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Professor, o melhor amigo da famlia
Entre as lembranas mais marcantes da infncia certamente esto as do primeiro educador. Isto se justifica plenamente pela importncia do processo de alfabetizao. o professor, com a ajuda dos pais, quem ensina s crianas as primeiras letras e estimula a formao das primeiras palavras, frases, textos. , enfim, quem abre as portas de um mundo novo e que torna o aluno independente. Embora o convvio em sala de aula seja de algumas horas dirias, no mais do que trs ou quatro, muitos profissionais conseguem fortalecer a relao de amizade com seus aprendizes. Por este motivo, so respeitados como mestres e amigos.
Mais do que isso, so vistos como pessoas prximas famlia porque no se limitam a ensinar apenas no espao escolar. Do contrrio, deixam lies para toda vida. este exemplo que a pedagoga ps-graduada em superviso escolar Rosane Las Beise, 48 anos, vai deixar para duas geraes. H trs dcadas no magistrio, ela j educou milhares de crianas. Uma delas foi o agricultor Ricardo Beise, hoje com 41 anos, que frequentou sua primeira turma, em meados de 1981, na extinta escola Estcio Pessoa de Oliveira, no Quilombo. Na poca ele era estudante da 4 srie. Foi um ano de convvio em sala de aula e o incio de uma longa amizade. Os anos se passaram, mas eles no se afastaram porque o destino os uniu na mesma famlia (Ricardo primo do marido de Rosane). E no para por a. Rosane foi madrinha de casamento de seu ex-aluno e atualmente professora do filho dele, o pequeno Gustavo, de 10 anos, que est no 5 ano da escola Afonso Beise, que, por sinal, leva o nome do seu tio-av.
Tal experincia, conforme Rosane, muito prazerosa. "No me vejo fora da sala de aula. A relao com as crianas e as famlias muito importante. Com o Gustavo tem sido excelente. Ele um aluno dedicado demais, atencioso demais; a criana que qualquer professor gostaria de ter em sala de aula", destaca. "Ele no tem muita semelhana com o pai na escola. O Ricardo era um pouco desatento, mas em compensao um pai muito presente e que est sempre envolvido nas tarefas escolares", afirma.
FAMLIA - A presena da famlia, alis, interfere positivamente no aprendizado da criana. "O professor percebe rpido quando a famlia no d muita ateno para a aprendizagem da criana. Isso se v, por exemplo, no cuidado com o material. O aluno que progride aquele que realmente tem acompanhamento do pai e da me em casa", assegura. E faz um alerta: "se os pais no ajudam no aprendizado, quem vai ajudar? O professor acompanha a criana umas quatro horas por dia, mas e nas outras 20, como ele fica?". Por isso, Rosane ressalta que busca, seguidamente, a aproximao com a famlia. "Procuro reunir os pais em atividades na escola porque assim que se conhece a realidade de cada aluno. Como o professor vai exigir algo da criana se no souber, de fato, o que acontece na casa dela?", explica. Os pais de Gustavo, Ricardo e Jaqueline, consideram melhor manter o filho na escola multisseriada porque, assim, ele segue perto da famlia. "Percebemos que o desempenho escolar do nosso filho satisfatrio", afirmam.
ROTINA - Rosane, a exemplo de muitos outros educadores, divide o tempo para atender dois educandrios. Atualmente trabalha na cidade, pela manh, como bibliotecria da escola estadual Professor Penedo, e tarde na escola Afonso Beise, no Quilombo, onde leciona para uma turma multisseriada (1 ao 5 ano). O intervalo de almoo de apenas 20 minutos entre um turno e outro, mas ela no reclama. "Sempre gostei e me imaginei em sala de aula. No me vejo fazendo outra coisa", garante. Ela ingressou na profisso motivada pelos pais Otmar e Orlanda Abeling, quando ainda tinha 16 anos. "Eles tinham o sonho de ver as trs filhas formadas como professoras. Naquela poca, a profisso representava status", acrescenta ao lembrar que pelo fato de ser de origem humilde o ofcio, ento, lhe proporcionaria segurana financeira.
Independente das dificuldades, como a desvalorizao que a classe vem enfrentando nos ltimos anos, Rosane sabe o prazer que a arte de educar proporciona.
Avaliando os resultados
"Voc vai ser professor? E de Matemtica? Est louco!". Desde que iniciei a graduao tenho ouvido vrias vezes interrogaes semelhantes. Sempre me pergunto: qual o problema? Pois a Matemtica constitui tanto um patrimnio cultural da humanidade como um modo de pensar. Ela no responde apenas como cincia, mas tambm como prtica fundamental para o desenvolvimento humano. No entanto, apesar do avano tecnolgico efetivado nos ltimos anos, as pesquisas tm mostrado a permanncia de prticas ainda conservadoras, limitadas a contabilizar os erros e acertos dos alunos. De modo geral, fica visvel o carter seletivo e autoritrio que tem marcado o ensino, especialmente o ensino de Matemtica, o que se torna motivo de grande apreenso para a comunidade educacional brasileira, uma vez que as estatsticas divulgadas apontam a Matemtica como uma das disciplinas que mais reprovam e excluem os alunos. Como disciplina escolar, a Matemtica tornou-se um mito impregnado de rejeio por parte dos alunos. Porm, ao contrrio dessa situao, essa cincia exata tem contribudo significativamente para o avano cientfico e tecnolgico nos ltimos sculos.
Nessa mesma linha, cabem os questionamentos: por que somente alguns alunos aprendem Matemtica? Por que grande parte dos alunos demonstra averso Matemtica? Como propor um trabalho de sala de aula que promova o aprendizado da Matemtica? Estas so questes fundamentais na reflexo sobre a aprendizagem em geral e como se processa a avaliao dessas aprendizagens.
Sabemos que ao final do Ensino Mdio espera-se que os alunos saibam usar a Matemtica como ferramenta indispensvel para suas vidas, mas tambm sabemos que isso no acontece. Mais uma vez as pesquisas mostram que os alunos no sabem para que serve essa disciplina e, para muitos, no ter sucesso nela desconhecer contedos bsicos, ou at mesmo no conseguir aplicar regras e frmulas conforme determinadas situaes. Pensar que esse ramo do conhecimento no tem aplicaes e que impossvel usar idias e representaes matemticas para lidar com situaes no dia-a-dia , talvez, o aspecto mais negativo de todo o processo de aprendizagem dessa disciplina.
A Matemtica no Ensino Mdio tem se portado como uma disciplina isolada, em que o professor no trabalha com aplicaes ou ligaes; normalmente ele demonstra um exemplo que logo aps seguido de uma lista de exerccios. No h nenhuma contextualizao.
Dentro deste contexto, como esto sendo conduzidas as aprendizagens matemticas? Como se est avaliando o educando? Os professores esto evoluindo? Talvez seja oportuno que os prprios professores avaliem os resultados de seu desempenho. Perguntem-se, ento, professores.
Charles Bruno da Silva Melo
Acadmico do 5 semestre de Matemtica da Ulbra (Universidade Luterana do Brasil) Cachoeira do Sul