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Saudosas patentes
O mundo anda muito evoludo em matria de tecnologia. Exemplo: voc compra um celular de R$ 300,00 em trs vezes de R$ 100,00 e na ltima parcela o aparelho j custa s R$ 100,00 ou j saiu de linha ou est fora de moda. Isso me remeteu ao passado, quando invenes simples poderiam ser preservadas, como por exemplo, as patentes, ou latrinas, ou casinhas, seja l qual for o nome. Para quem no sabe, aquele pequeno recinto com uma escavao no solo, utilizado para dejees - leia-se cagar, ou mijar tambm, ou os dois.
Digo isso porque no tempo das patentes a vida parecia ser mais saudvel, e sem sombra de dvidas, mais engraada tambm. Quem morava na cidade e no tinha terreno grande obrigatoriamente tinha que contratar o servio do Seu Felarmino, que era o homem da prefeitura responsvel por levar os cubos cheios e trazer cubos limpos. A propsito, cubos, para quem no sabe, uma coisa parecida com aquela coisa de madeira que a mulher do Leite Moa tem em cima da cabea, s que ia bosta dentro e no leite. Agora isso me suscitou uma dvida: ser que era mesmo leite que a Moa carregava na cabea? No teria ela trabalhado no servio de limpeza de patentes de alguma cidade e algum marketeiro desavisado pegou a foto por engano para fazer a propaganda do Leite Moa? V saber.
J quem morava no interior, ou mesmo tivesse um terreno grande aos fundos da casa, podia simplesmente tirar a casinha de cima do buraco, colocar um pouco de terra por cima, fazer outro buraco e colocar a casinha em cima; e plantar salsa e cebolinha em cima do outro buraco, hehehe!
Em relao economia, seu Felarmino dava lio. Levava os cubos ao rio, decerto cercado de lambaris bem alimentados, e no devia gastar mais do que 10 litros para limpar um cubo. Hoje, uma descarga de hidra gasta 20 litros, mais ou menos. Se bem que hoje todo o coc produzido pela cidade vai igual para o rio, s que se mistura com outros dejetos e o que sai l na ponta do cano, ningum sabe.
As patentes s tinham visitantes temporrios, mas tambm moradores, como os marimbondos e abelhas, responsveis pela polinizao das flores. Coisa incrvel como os marimbondos e abelhas gostavam de patentes, decerto porque no tm nariz. Volta e meia a gente ia fazer as necessidades e os bichos j estavam na lida pra construir seus ninhos e criar os filhotes (sic). Seguido tinha gente s voltas com um chumao de qualquer coisa embebido em leo para botar fogo nos p-vermelho e vrias patentes acabaram incendiadas por esta causa. (Lembram do versinho? Marimbondo, bicho feio, p redondo e u vermelho. Faltou uma letra, mas isso aqui j t descambando pro ridculo e no sou eu quem vai colocar, hehehe!)
O pessoal tambm usava as patentes para outras coisas, como alvo para ver se os cartuchos das armas estavam bem carregados. Lembro de uma vez, no sei quem, estava feliz da vida contando os gros de milho na patente - sim, no tinha jornal para ler na patente e a palha do milho e o sabugo eram utilizados para outros fins - e algum resolveu apontar uma espingarda para a patente. Nunca vi tamanha rapidez em se vestir e tanto palavro! Depois da palha e do sabugo de milho a coisa evoluiu para o papel higinico, hora de colocar um prego grande na parede para enfiar o rolinho.
Bem mais interessante do que ficar no computador jogando Tbia ou Colheita Feliz ou Caf Mania era a brincadeira de derrubar a patente com gente dentro. O pessoal at ficava meio nervosinho com isso, e depois ficava na espreita para se vingar. Por isso a patente l de casa foi construda com frestas nos dois lados, na frente e atrs, pois permitia ver a aproximao do inimigo querendo vingana.
So tantas, mas tantas histrias criadas nos tempos das patentes que daria pra escrever bem mais, pena que o hbito no se perpetuou e, hoje, raramente se v alguma patente por a. Mas hora de encerrar a coluna, pedindo desculpas aos leitores pelo assunto ter descambado para o lado da escatologia. Se bem que tenho certeza de que coisa muito pior vocs tm ouvido durante o espao poltico gratuito. o legtimo horrio em que nossos ouvidos viram patente de tanta bosta que se escuta.