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Centro Social revela exemplos de superao
Aos 19 anos, a candelariense Jssica Rodrigues j sabe que seu futuro no ser reflexo do meio em que vive, mas do esforo feito para realizar os sonhos. Ex-integrante do antigo grupo Tupam (Trabalhando Unidos Partilhando Amor), hoje Centro Social Amigo da Criana, ela vislumbrou um destino promissor depois de longa caminhada. Por durante uma dcada, conviveu com crianas, adolescentes e professores dos mais diversos meios e aprendeu o quanto importante no desistir de si mesmo.
Este aprendizado lhe rendeu uma profisso - o Magistrio - e aumentou sua vontade de buscar ainda mais qualificao. Ela tinha seis anos quando comeou a frequentar o Tupam por incentivo da me, Bernadete Rodrigues. Foi uma escolha acertada, j que se mantinha ocupada enquanto os pais trabalhavam. Pela manh era assistida no grupo e tarde ia para a escola. A partir dali, ela iniciou um importante processo de socializao e de superao. Isto porque por durante quase toda infncia e adolescncia recebeu estmulo e incentivo de professoras e monitoras.
Com a expanso do servio de atendimento s crianas e adolescentes em situao de vulnerabilidade social no municpio, em meados da dcada de 1990, o Tupam recebeu maior suporte do poder pblico e passou a funcionar em local mais amplo (atual endereo prximo escola Christiano Graeff, na Vila Ewaldo Prass). Jssica igualmente foi beneficiada por essa mudana e seguiu dividindo seu tempo entre o Tupam e a escola.
ATIVIDADES - Mas foi a partir de outubro de 2004 que ela iniciou uma verdadeira transformao interior. Com a contratao da atual coordenadora, Vera Becker, Jssica e os colegas comearam a aproveitar melhor o turno inverso ao da escola. que a primeira providncia de Vera foi implantar oficinas para estimular os alunos (confira box). Naquela poca a denominao Tupam foi substituda por Centro Social Amigo da Criana. Mais do que tornar o local atrativo, a coordenadora foi grande incentivadora e amiga das crianas. Jssica, em especial, se espelhou no exemplo de Vera e mudou por completo seu comportamento. "Ela era muito revoltada, no aceitava crticas ou conselhos, mas com o passar do tempo aprendeu a ser tolerante e respeitar a opinio das outras pessoas. A Jssica mudou completamente os valores e aprendeu que sempre possvel correr atrs dos sonhos e realizar o que se quer independente das dificuldades", disse Vera. "Sempre tentei repassar a ela que as oportunidades surgem quando as pessoas lutam pelo que querem", completou.
PROFISSO - Uma das maiores conquistas de Jssica, na avaliao de Vera, foi a profisso. Depois de completar 16 anos - idade mxima para permanecer no Centro Social -, ela comeou a cursar Magistrio no Colgio Medianeira. A nova etapa, outra vez, foi intermediada pela coordenadora. "Consegui uma bolsa de estudos para a Jssica e ela seguiu os estudos. Hoje isso tambm serve de estmulo para outras meninas do Centro Social", observou Vera. Neste aspecto, citou o exemplo da jovem Camila da Rosa Folmer, que tambm iniciou os estudos no Medianeira este ano, depois de concluir o perodo de permanncia no Centro Social. A formatura de Jssica ocorreu no ltimo dia 15 de outubro. E ela no pretende parar por a. "Agora estou me preparando para o vestibular. Quero cursar Pedagogia e, quem sabe um dia, Matemtica", disse com entusiasmo. "No estgio as crianas me mostraram o quanto posso aprender e ensinar. Quero fazer aos outros tudo que fizeram por mim", afirmou.
MAIS - De todas as lies recebidas durante a infncia e a adolescncia, Jssica destacou, em primeiro lugar, a atitude da me. "Ela me manteve ocupada enquanto trabalhava. Ao invs de me deixar em casa ou pela rua, me deixou num ambiente em que eu seria bem cuidada", reiterou. Alm disso, considerou a convivncia com pessoas de diferentes meios e o apoio recebido mesmo nos momentos em que se mostrava resistente. "O que mais me marcou foi o fato de no terem desistido de mim em momento algum", concluiu.
Saiba mais
> O Tupam (Trabalhando Unidas Partilhando Amor) foi idealizado pelo grupo de jovens da Igreja Catlica em novembro de 1985. Uma das integrantes, Rosani Moura, conta que naquela poca havia grande nmero de crianas nas ruas. Segundo ela, os primeiros atendimentos foram realizados numa pequena sala da comunidade Catlica, onde se montou uma cozinha com doaes. s crianas e aos adolescentes eram disponibilizadas refeies e assessoramento aos estudos, j que maioria dos voluntrios era ligada ao Magistrio. O padre Alfredo Lenz foi um dos grandes incentivadores e colaboradores. Algum tempo depois, o Tupam passou a atender junto sede do Centro Esprita "Em busca da Luz". De acordo com Rosani, nessa fase o poder pblico deu maior suporte disponibilizando alimentao e dois profissionais para cuidar das crianas. Tambm eram desenvolvidos eventos beneficentes para arrecadar recursos, passeios de recreao e encaminhados alguns meninos para o mercado de trabalho na condio de aprendizes. Todavia, certo tempo depois, houve novas mudanas de local - para o prdio da antiga Schmidt Irmos e, por fim, para o atual endereo na rua Botucara.
> O Centro Social Amigo da Criana foi a nova denominao dada para o Tupam em 2004. Atualmente atende crianas e adolescentes, de seis a 16 anos, que estejam participando do Peti (Programa de Erradicao do Trabalho Infantil) e Asema (Apoio scio-educativo em meio aberto) - mantidos, respectivamente, com auxlio do governo federal e estadual. Oferece atendimento no turno inverso s aulas, durante manh e tarde, para cerca de 90 alunos. Alm de reforo escolar, as crianas tm oficinas de dana, artesanato e atividades esportivas. No local so servidas trs refeies: caf, almoo e lanche (alunos da manh recebem caf e almoo e os da tarde, almoo e lanche). A equipe formada por duas cozinheiras, duas servios-gerais, uma monitora, trs professoras de reforo escolar, uma professora de artes e por uma coordenadora.