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O envelope
Os jornais locais em suas edições do dia 25 último trazem uma notícia interessante. Um fala que “na quinta-feira um pacote contendo documentos importantes foi parar na mesa da presidente da comissão”. Logo adiante já se refere a um envelope, que teria sido colocado embaixo da porta da Câmara de Vereadores por uma pessoa não identificada.
O outro jornal, sobre o mesmo assunto, diz “na manhã de quarta-feira, um envelope endereçado à CPI foi deixado sob a porta do legislativo.” Acrescenta que o relator não teria revelado seu conteúdo, mas teria garantido que estaria recheado de documentos que apontariam irregularidades em relação a processo licitatório.
Desde logo, verificam-se contradições na notícia. Um, refere-se a quinta-feira, o outro, à manhã de quarta-feira. Afinal, quando o fato aconteceu mesmo? Da mesma forma, um fala em pacote, para em seguida tratar de envelope, como se tudo fosse a mesma coisa.
A partir daí, cabe uma série de questionamentos. Quem encontrou o pacote ou envelope e o colocou na mesa da presidente? Se era um pacote, como passou debaixo da porta? Será que o tal desconhecido tinha chave da porta? Tratando-se de um pacote, o mesmo não poderia conter uma bomba? Foi acionada a polícia, ou não houve essa cautela? Mas partindo do pressuposto de que tenha sido apenas um envelope e a confusão tenha sido do jornal, que ainda não distingue as duas coisas, houve registro fotográfico do fato? Foi chamada a imprensa para documentar a ocorrência? Com certeza, essas providências foram tomadas, para que tudo, amanhã, não seja visto apenas como um blefe.
Isto posto, ao ver aquele envelope em cima da mesa, qual teria sido a reação de integrantes da Comissão? Muitas podem ser as ilações. Será que seriam novas denúncias sobre:
• a ponte do Corredor dos Siqueiras, que embora apenas iniciada, foi dada como concluída?
• a ponte da Sesmaria do Pinhal, que teria sido feita pelos servidores do Município, sendo o pagamento pela obra feito a um terceiro?
• as verbas passadas para o Asilo, em 2003 e 2004, visando a construção de uma enfermaria? Lembra-se que a tal enfermaria foi construída apenas em 2005, com recursos de outras fontes;
• a liberação de licenciamento de táxis, inclusive na campanha eleitoral e ainda em 28-12-2004, quando no início de 2002 já havia um grande excesso desses licenciamentos?
• a doação de terrenos em área verde e no Cemitério Municipal, sendo que a doação do terreno do Cemitério teria sido efetuada quando seu autor já não era mais prefeito?
• a liberação de incentivos para empresa com atividade comercial, quando a legislação vigente previa apenas esse benefício para indústria de transformação?
Ou ainda seriam denúncias recheadas sobre:
• a compra de enorme quantidade de carne, pão, carvão e demais ingredientes de um supermercado então muito ligado à Prefeitura? Você, caro leitor, foi convidado para essa festança?
• a remessa de duas cargas de canos para uma empresa de Santa Cruz do Sul, onde a Prefeitura não tinha nenhuma obra, e a retirada de canos por diversos particulares, não sendo praxe fornecer esse material a pessoas estranhas à Prefeitura, tudo autorizado pelo então titular da Pasta?
• o desastrado levantamento cadastral de 70 quadras da cidade, desdobrado em 2001 e 2002, respectivamente em 50 e 20 quadras, possivelmente para burlar a lei das licitações?
• a compra da área onde será o futuro parque de eventos? Convém lembrar que foram comprados e pagos 25 hectares, mas somente existiriam 15.
O tal envelope também não poderia conter uma reclamação de uma pessoa não identificada revelando sua total inconformidade por nunca ter sido constituída uma CPI sobre todas essas possíveis irregularidades, a maioria já encaminhada ao Ministério Público? Também, não poderia conter uma recomendação ao relator que em uma CPI séria não se antecipa nenhuma decisão ou parecer, como fez o mesmo na sessão da Câmara do dia 28, ao se referir ao Prefeito e Vice e como também já estão adiantando alguns vereadores por aí? Aliás, parece que antecipar decisões já não é mais novidade por parte de vereadores de um certo partido.
Diante de tudo isso, fica bem claro o objetivo da tal CPI. É querer atingir a imagem de um governo reconhecidamente sério e bem sucedido. É também uma tentativa de vingança daqueles que tiveram seus interesses contrariados e dos que ainda não assimilaram a derrota na última eleição. Mas, é preciso ter muito cuidado. Nossa população já não mais está acostumada com uma administração nebulosa e, com certeza, está a par e acompanhando o rumo que aquela Comissão está tomando.
Enio Alfredo Hübner
Vice-Prefeito