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Opinião 08/10/2020 21:05
Por: Redação

Minha neta: você é a inspiração

Nunca pensei que iria amar uma “pessoinha” tão jovem; um amor incondicional e infinito

Mas é assim e foi assim desde o princípio quando você chegou a esse mundo de forma um tanto brutal, apressada. Quis vir antes e talvez você não tenha noção, mas nós começamos a te amar antes de você nascer, quando você estava na barriga da sua mamãe, nossa amada filha Carolina. Quando soubemos que em breve você estaria com a gente, a alegria tomou conta de nossas vidas, a espera por te ver foi longa e acho que de alguma forma você ficou sabendo disso e apressou sua estreia nesse mundo, três meses antes do, digamos, normal.

Confesso, minha neta amada, que meu coração parou naquele dia 8 de outubro, 5 horas da manhã, quando teu papai me ligou e disse que você estava querendo vir ao mundo, bem antes, e que você e sua mãe corriam sério risco de morte. Gelei...mas, nessas horas Papai do céu me dá forças e, assustado e de sobressalto, acordei a vovó e dei a noticia, pedindo pra ela se arrumar, que estávamos indo ao teu encontro. Mais ou menos 40 minutos de viagem até Cachoeira do Sul, coração apertado, sem noticias, até chegarmos ao hospital e enfrentarmos momentos que foram cruciais pra você e sua mãe. A luta entre a vida e a morte estava ali, ao nosso alcance. E sem noticias, para amenizar, teus avós paternos, os queridos Julio e Ivane, vieram pra se consolar e nos consolar. A longa espera para sabermos de sua mãe e de você foram horas longas, muito longas.

Quando enfim teu pai apareceu trazendo notícias, foi alentador e ao mesmo tempo preocupante: sua mãe estava bem, apesar de tudo, e você estava viva!!! Uma alegria imensa pra nós, mas inspirava muitos cuidados. Eu já tinha ouvido falar de crianças prematuras, mas isso lá longe, distante de mim. De pertinho assim não teve nenhum caso na família, ao menos que eu soubesse. Então era tudo novidade. Passamos o dia em frente ao hospital, ansiosos por notícias, suas e de sua mãe, longas horas novamente.

Aprendi, minha neta, desde aquele dia, o poder de uma oração. De volta pra nossa casa, ainda assustados, orei muito, clamando a Deus que tivesse piedade e que permitisse que você continuasse entre nós. Ele permitiu, mas acho que Deus testou a minha fé e da tua vó Miriam, pois foram três longos meses.

Depois de tudo, fui para a internet fazer um longo e profundo estudo sobre bebês prematuros. Fiquei “expert” no assunto, mas a frase que mais me marcou de tudo que li e reli, e que lembrei muito nos três meses seguintes foi: ter um bebê prematuro é uma montanha russa de emoções. Deus sabe quantas vezes lembrei essa frase, centenas ou milhares de vezes, porque recebíamos noticias diárias de você. Um dia uma noticia boa, que você havia ganho 100g de peso. E, no dia seguinte, perdia 200g. E uma vez por semana tínhamos o direito de ficar na UTI neonatal do Hospital de Cachoeira do Sul, por 15 minutos apenas. Lembro de orar muitas vezes ao lado da incubadora, de chorar, de pedir e oferecer minha vida em troca da tua. As vezes você estava dormindo, as vezes agitada, puxava os tubos de alimentação e respiração, o que me assustava muito. E, as vezes, você também chorava, um choro silencioso que meu coração assustado escutava, e olhava com olhos arregalados os monitores que eram ligados a você. Um dia, novamente teu pai ligou dizendo que você estava com pneumonia. Lembra que falei da montanha russa? Pois é, mais um susto enorme, eu e tua avó passamos a noite em claro orando por você, sabedores que você estava recebendo os remédios necessários, mas sem nenhuma garantia. Lembro que você começou a reagir próximo ao meio dia do dia seguinte. Confesso que quando soube que você reagiu positivamente, eu chorei muito de alegria, de alivio e de agradecimento a todos que cuidaram de você, das orações que nossos amigos e familiares fizeram em corrente conosco, e especialmente a Deus.

A partir dali eu percebi que você era muito forte! Uma verdadeira guerreira, que lutou muito para estar aqui, com a gente e, a partir dali, também teve inicio a nossa esperança e vontade de você ir pra sua casa. Você já podia sair da “incubadora” e ficar no colinho da mamãe e do papai, e nossa expectativa melhorou muito, chegando perto do Natal, e de que talvez você pudesse passar o Natal em casa. Mas não deu. Você ainda não tinha o peso suficiente, teríamos que ter a paciência de esperar um pouco mais. Ano novo? Não também e aprendemos a esperar a tua hora, porque você soube dosar essa tua força.

Finalmente, no dia 4 de janeiro de 2019, você saiu do hospital e foi pra casa. Uma festa. Alegria que não tenho como descrever. Você não só sobreviveu como também se mostrou uma fortaleza. E passaram-se dois anos. Você me impressiona todas as vezes que nos vemos, com tuas risadas, o teu dom de sorrir com os olhos, tua beleza, tua força, tua meiguice e até mesmo tuas brabezas. Você sabe que sempre terá tudo do vovô e da vovó e tenho certeza que o vovô Julio e vovó Ivane também pensam assim. O dindo e tio Ricardo sempre carinhoso contigo... você é demais.

Meu anjo: nós te amamos muito, não tem como medir. Obrigado por nos trazer essa alegria que você nos trás. Ana Julia, no futuro, quando você puder entender esse texto, quero que você saiba que você é o presente que Deus nos deu para amar, sermos felizes e sermos vovôs e vovós com muito orgulho e amor. Te amamos Ana Julia, minha neta e parabéns pelo teu aniversário.

Erni Bender