Nova obra de escritório de advocacia terá inspiração missioneira

Quem caminha pelas redondezas da Rua Botucaraí e se depara com uma obra inspirada nas ruínas das Missões Jesuíticas possivelmente ficará curioso, talvez surpreso, mas jamais imaginaria o simbolismo que está por trás do projeto arquitetônico. A escolha do design da futura sede dos escritórios de advocacia das irmãs Jane e Ana Berwanger, é preciso destacar, está longe de ser por acaso.

Ana Berwanger conta que ela e a irmã, Jane, nasceram em uma pequena cidade do noroeste gaúcho chamada Roque Gonzales, na localidade de Linha Poço Preto. As irmãs trabalhavam ao longo do dia na lavoura e, à noite, faziam seus estudos em uma escola pública da região. Mesmo com as dificuldades eventuais que os pais tinham em prover o sustento da família, Jane, a irmã mais velha, conseguiu se formar em Direito na cidade de Erechim. Em pouco tempo, ela foi convidada para ser advogada da Federação dos Trabalhadores na Agricultura no Rio Grande do Sul (FETAG).

A partir daí, Jane se dedicou com afinco à área da previdência rural. Ela seguiu se especializando no assunto e, em certo momento, recebeu o convite para prestar assessoria jurídica ao Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Candelária. Uma vez no município, acabou por se estabelecer, montando um escritório de advocacia na cidade junto com Ana, que seguiu os passos da irmã. “Este foi o início. Hoje, nós temos escritórios em Santa Cruz e Porto Alegre, atendendo cerca de 120 municípios”, conta Ana.

A relação das irmãs Berwanger com as ruínas das Missões não as conectam apenas com sua querência, mas também as inspira para as batalhas da vida e da advocacia. “Quando eu estou naquela terra, parece que eu ganho uma energia extra. Nossa vida envolveu muita luta e dificuldade e tanto eu quanto minha irmã buscamos na história das Missões Guaraníticas uma fonte de inspiração”, conta Ana. “Um amigo nosso brinca que, em vez dos irmãos coragem, somos as irmãs missioneiras”, brinca.

Por essa história de identificação, a advogada conta que no escritório, em vez de darem brindes de Natal aos parceiros e colaboradores, as irmãs bancam uma viagem às Missões. Mais do que um passeio turístico, o local representaria um norte para todos os advogados do grupo. "Você lutar por um ideal, como Sepé Tiaraju lutou, mesmo em condições desiguais, pela liberdade dos índios, é inspirador. Não tem algo que dê mais garra para brigar pelo direito do agricultor, pelo direito de alguém que está doente e não consegue um benefício", explica Ana.

A ideia por trás da fachada não partiu das ‘irmãs missioneiras’, mas da arquiteta e amiga Lorena Gazalle. Ana conta que levou Lorena para um evento de balonismo na região das Missões e o sobrevoo pode transmitir o encantamento que nutre pelo lugar. Um dia, Lorena convocou as advogadas para mostrar o projeto. "Quando ela abriu a tela e mostrou a inspiração nas ruínas das Missões, eu e a Jane ficamos tomadas de emoção. Ela disse que seria impossível não levar as Missões para dentro do escritório de uma forma mais definitiva”, revela.

Por : Arthur Lersch Mallmann