Por: Luciano Mallmann
Laura H. Tessari Braz: contemplando estrelas e planejando o futuro
Estudante da 8ª série do Medianeira fala de sua paixão por astronomia e revela um pouco da diferença que a leitura faz na realidade de um aluno
Uma das muitas definições possíveis para uma noite de céu estrelado consiste em ser uma espécie de museu ao ar livre, constituindo, de certa maneira, a mais democrática das exposições. Pois, em horários diversos, as mesmas constelações podem ser vistas em todos os locais do planeta, em condições que variam conforme a época do ano. O firmamento, com seus corpos celestes radiosos e iluminados, constitui um espetáculo que costuma ser interpretado, por diferentes povos, das mais diferentes maneiras. A ciência, porém, que estudou, analisou, comparou e fez descobertas que incluem incontáveis astros, além de especulações sobre um sem-número de galáxias, consiste em um ramo do conhecimento cujos ensinamentos são dominados por muito poucos, e, por essa razão, os astrônomos, os cosmólogos e os astrofísicos continuam a ser os únicos cientistas que são capazes de ler esse vasto panorama oferecido pelo universo com a facilidade e o deslumbramento de quem lê uma página escrita num livro raro. É assim que parece ser para Laura Hübner Tessari Braz, de 12 anos, aluna da 8ª série do Colégio Medianeira, que recebeu a reportagem da Folha na manhã de quarta, 26, para uma rápida entrevista, acompanhada do professor de Geografia Daniel Felipe Schroeder.
Interrogada sobre a origem de seu interesse em astronomia, Laura responde que sempre admirou a figura de Stephen Hawking, físico teórico e cosmólogo britânico nascido em 1942, que inspirou a cinebiografia A teoria de tudo, de 2014. Antes de qualquer coisa, porém, Laura atribui o seu interesse específico em astronomia ao fato de ter tido uma oportunidade e por ter sido estimulada a se aprofundar no assunto. Segundo suas palavras, haveria muito mais jovens interessados, nas mais diversas áreas, caso não houvesse hoje em dia tanta falta de estímulo, além da quase inexistência de divulgação científica. A respeito da disciplina que leciona, o professor Daniel exemplifica a Geografia como sendo a parte ínfima de um todo muito mais vasto, sendo algo que, com estímulo, partirá do aluno a vontade de aprofundar o que aprende.
Sobre a maneira de ampliar seu próprio conhecimento, Laura afirma não terem faltado meios de conhecer sempre mais. Citou como exemplo a série Cosmos: uma viagem pessoal, do astrofísico, cosmólogo, astrônomo e escritor mundialmente conhecido Carl Sagan (1934 – 1996). Questionada sobre a sua maneira de definir a astronomia, Laura (que no último fim de semana esteve participando do 2º Enastro – Encontro Rio-Grandense de Astronomia, em Canoas) define ao mesmo tempo, talvez sem perceber, seu conceito de paixão pelo conhecimento: “Eu diria que é ver a conexão do universo conosco e, por outro lado, uma forma de ver o quanto somos pequenos no universo. Olhar para um pedaço do céu e ter consciência de que podemos estar vendo 10 mil galáxias nos leva a questionar sobre o nosso papel no universo”, afirma. Ela prossegue dizendo que a astronomia, como ciência, “nos diz o quanto devemos conhecer a nós mesmos e que devemos conhecer uns aos outros. Ela é um instrumento de busca. Cada um vê essa ciência de uma forma diferente, mas quando a pessoa realmente entender, perceberá o que ela quer dizer”, resume, e acrescenta uma frase que parece ser característica a todos os ramos não apenas do conhecimento, mas também das artes: “Quanto mais se pesquisa, mais se tem vontade de aprender”, sentencia.
Para Laura, a evolução da ciência e o ocaso de mitos pode trazer uma certa tristeza. Porém, isso não é visto de modo negativo por ela: “Existem coisas na ciência cuja comprovação pode trazer tanta beleza, ou mais, que a mitologia”. Também sobre as constelações e seus nomes ligados a temas mitológicos a estudante tem uma palavra: “Os mitos eram o modo dos antigos de explicar as grandes questões do universo. Sendo assim, a mitologia, representada pelas constelações, era a sua maneira de praticar a astronomia”.
Questionada sobre o futuro, a jovem diz que pretende seguir uma carreira acadêmica rumo à Física, Física Teórica e Astrofísica. A experiência pessoal de seu aprofundamento, porém, já trouxe a Laura uma grata surpresa, algo de que ela própria duvidava.
Conta que, no ano de 2016, estava lendo Bilhões e Bilhões, obra em que Carl Sagan trabalhava e veio a falecer sem que chegasse a terminar. O livro foi concluído por sua viúva, Ann Druyan. Mais ou menos por essa época, a professora Rejâne Costa desenvolveu um projeto em que cada aluno deveria escrever uma carta. Laura, emocionada pela obra de Sagan e de sua viúva, perguntou à professora se a carta poderia ser hipotética, ou seja, escrita e não enviada. Rejâne concordou. Finalizado o texto, porém, a professora incentivou a aluna a remeter a carta e Laura aceitou o desafio, porém sabedora, em seu pensamento, de que jamais receberia resposta. Ela mesma traduziu sua carta para o inglês e pôs-se a procurar um e-mail que chegasse à viúva de Sagan, Ann Druyan. Feito isso tudo, enviou seu e-mail. Mais uma vez, Laura reiterou que nunca esperaria por uma resposta. Todavia, e para todas as surpresas, esse “nunca” durou breves três dias: uma assistente, que havia lido o e-mail de Laura, respondeu prometendo colocar Laura em contato com Ann.
O conteúdo do depoimento expressava a gratidão de uma discípula por seu mestre, no caso, de Laura em relação a Carl Sagan, pelo fato de este ter apresentado a ciência como algo que podia de fato interessar vivamente não apenas uma, mas milhões de pessoas, por mais de uma geração. E também por apresentar o universo com uma beleza que, como se sabe, é indizível, mas que, nem por isso, o impede de ser descrito e experienciado. “É por isso que o pensamento dele é passado adiante até hoje”, resume, timidamente, a hoje estudante Laura Hübner Tessari Braz.