Por: Arthur Lersch Mallmann
Trabalho da colheita do arroz se intensifica em Candelária
Contudo, segundo o Irga, ainda não é possível definir quanto da área semeada de 4.412 hectares será efetivamente colhida
A colheita de arroz irrigado, iniciada nas últimas semanas, começa a se intensificar em Candelária e região. Nesta safra, a área destinada à orizicultura foi consideravelmente menor do que em outros anos. Segundo números do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), em Candelária foram semeados 4.412 hectares de arroz irrigado. Na safra 2019/2020, por exemplo, ainda de acordo com dados do Irga, a área semeada no município foi de 7 mil hectares – uma redução de 37%.
Este ano, a Folha já realizou uma reportagem analisando a tendência de crescimento da soja em rotação com o arroz. A prática é inclusive incentivada por especialistas, uma vez que a sequência de anos com o fenômeno climático La Niña tem causado verões atipicamente secos no Sul do Brasil. Dessa forma, o plantio da soja em rotação com o arroz torna-se viável em terras de várzea, que são propícias à inundação. Este rodízio garante ao produtor um melhor retorno financeiro e um controle facilitado de ervas daninhas do arroz.
Com a redução da área do arroz irrigado, há mais possibilidade dos produtores garantirem o desenvolvimento dos grãos com suas próprias reservas hídricas, sem depender tanto de um regime de chuvas favorável. É o caso, por exemplo, dos irmãos Everton Dumke, 37 anos, e Josiel Dumke, 31, que possuem terras na localidade de Linha Palmeira, em Candelária, e em Cachoeira do Sul.
Estiagem
Apesar da forte estiagem, a expectativa é que os irmãos façam uma boa colheita de arroz. O principal motivo, segundo eles, foi o planejamento e a distribuição das culturas. “Nas partes que dependem do Rio Botucaraí nós plantamos soja; de resto, plantamos a quantidade de arroz que conseguimos garantir com o nosso reservatório. Como tínhamos água de açude estocada, não tivemos muitos problemas com a estiagem. Já quem dependia do rio teve muitas dificuldades”, avalia Everton.
Em Linha Palmeira e Rebentona, duas localidades em que a presença do arroz irrigado é mais expressiva, a estiagem foi problemática. Segundo Marcos Streck, engenheiro agrônomo e assistente técnico da Agrican, apesar da redução na área cultivada, a dificuldade na irrigação do arroz ficou evidente. “A Rebentona é totalmente dependente do manancial hídrico do Rio Pardo, que já havia se esgotado em meados de dezembro. Esta situação provocou irrigações intermitentes nas lavouras. Por sua vez, na Linha Palmeira, o Rio Botucaraí esgotou seu manancial já em final de novembro, também causando perdas”, aponta. Conforme o engenheiro agrônomo do Irga de Candelária, José Fernando Rech de Andrade, ainda não é possível definir quanto das áreas cultivadas teve perda total.
Gerações no arroz
Os irmãos Dumke são a terceira geração de uma família arrozeira. Sempre que podiam, Everton e Josiel acompanhavam o pai no trator e, com o tempo, foram pegando gosto pela atividade. “Eu me criei dentro de uma lavoura de arroz. Hoje, meu pai se ‘aposentou’, digamos assim, e eu e meu irmão Josiel tocamos o trabalho”, conta Everton. “Quando eu era criança, eu fazia minhas lavourinhas em casa e carregava a água de balde para irrigar elas”, conta, enquanto o riso da boa memória acompanha sua fala.
Nem as frustrações dos últimos anos, sobretudo com o aumento do custo de produção, fizeram diminuir o amor da família pelo arroz. De acordo com os Dumke, é algo que vai muito além do trabalho. “Olha, se tem uma coisa que é difícil de entender é o vício em plantar em arroz. Dando lucro ou não, eu não consigo me ver em uma vida sem plantar arroz”, conclui.