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Rural 26/08/2022 09:29
Por: Odete Jochims

Trigo, produtores apostam na cultura para diversificar a produção

Celso Gewehr, da Vila União, está na terceira safra de trigo; além de ter colhido um produto com bom pH, também se beneficia da versatilidade da planta

  • Plantação de trigo na Vila União
  • Sanderlei Pereira: diversificação dá equilíbrio ao produtor

A cultura do trigo vem ganhando espaço entre os produtores nos últimos anos. No ano de 2022, um levantamento da Emater/RS apontou que o estado terá a maior área cultivada de trigo dos últimos 42 anos. E Candelária não foge a essa tendência. Celso Renato Gewehr, 47 anos, morador da Vila União, região serrana de Candelária, começou a plantar trigo há três anos atrás. O plantio em sua propriedade foi feito no começo de junho e a expectativa de colheita é entre outubro e novembro.

Quando decidiu dar início ao plantio, o agricultor sequer conseguiu financiamento em bancos e cooperativas. “Eles me falavam que a nossa região não produzia trigo. Então plantei por minha própria conta e risco. Na primeira safra, mesmo com uma produtividade não tão grande, produzimos um trigo com bom pH, atingindo o ponto para fazer farinha. Mostrei o resultado a eles e, nos últimos dois anos, consegui financiamento”, conta.

O produtor rural explica que o trigo é uma cultura sensível e o resultado pode variar bastante em cada ano. “Na minha primeira safra, o pH foi bom; no segundo ano, minha plantação contraiu doenças; este ano também está sendo um pouco complicado, pois estamos tendo chuvas excessivas na fase de desenvolvimento da planta. Vamos ver o que acontece de agora em diante”, pontua.

Ainda que o preço médio do trigo tenha subido consideravelmente nos últimos dois anos, o agricultor da Vila União ressalta que o custo de produção seguiu o mesmo trajeto. “A ureia e o glifosato subiram muito. E isso num intervalo de dois anos”, destaca. Segundo dados do CEPEA, da USP, a ureia de janeiro de 2018 a junho de 2022 teve uma alta de 345,4%. O glifosato, por sua vez, conforme levantamento feito pelo FAESP/SENAR, de São Paulo, teve um aumento de 375,12% entre janeiro de 2021 e janeiro de 2022.

Apesar dos desafios que o trigo apresenta, Celso acredita que o plantio do cereal é uma excelente forma de apostar na diversificação da produção. Mesmo que o resultado da safra deixe a desejar, a palhada do trigo pode ser empregada como cobertura do solo para a plantação seguinte. “Como dizem por aí: ‘quando plantamos trigo, nós plantamos o pão de cada dia’”, finaliza.

Município poderia cultivar até cinco vezes mais trigo

Sanderlei Pereira, técnico agrícola da Emater, explica que o trigo tem se popularizado em razão da valorização do seu preço de mercado, da sua utilidade como cobertura vegetal para o solo e também como alimento para animais. Somado a isso, a Embrapa vem conseguindo bons resultados no melhoramento genético destes cultivares. Exemplo disso é o caso do trigo de duplo propósito, que serve tanto para o pastejo dos animais quanto para a produção de grãos.

O desenvolvimento do cereal requer um clima mais seco e frio. “Por esse motivo, uma parte de Candelária realmente não tem as condições ideais para o plantio do trigo. Quando subimos para localidades como a Vila União, por exemplo, há um microclima mais favorável”, explica. Contudo, o técnico agrícola ressalta que mesmo em áreas mais baixas, consideradas desfavoráveis para o trigo com qualidade para farinha, é possível cultivar triguilho, que serve como cobertura vegetal para o solo e alimento para animais.

Segundo o Escritório Municipal da Emater/RS, a área destinada ao cultivo de trigo em Candelária para essa safra é de aproximadamente 1.100 hectares. Entretanto, essa área poderia ser expandida consideravelmente. “Na próxima safra, Candelária vai cultivar 20 mil hectares de soja; destes, no mínimo 5 mil hectares poderiam ser cultivados juntamente com o trigo. Seria bom não apenas pelo trigo, mas também por aumentar a produtividade da soja”, finaliza. ( Por Arthur Malmann)