Logo Folha de Candelária
Polícia 20/09/2024 18:16
Por: Diego Foppa

Fotos: pessoas resgatadas de condições análogas à escravidão recebiam R$ 200,00 por ano

Operação conjunta da inspeção do trabalho encontrou trabalhadores em situação degradante em uma propriedade na Picada Karnopp, no interior de Candelária

Uma força-tarefa integrada por representantes do Ministério Público do Trabalho do Rio Grande do Sul (MPT-RS), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Polícia Federal, Polícia Civil, contando ainda com o apoio da Brigada Militar, Assistência Social e Conselho Tutelar resgatou seis pessoas em situação análoga à de escravo. A ação foi desencadeada na tarde da última terça, 17, em uma propriedade rural na Picada Karnopp, interior de Candelária. Os trabalhadores, uma mulher de 33 anos e dois homens, de 43 e 22 anos, viviam junto com dois adolescentes, de 11 e 15 anos, e um bebê de 1 ano. A operação de fiscalização identificou diversas irregularidades no galpão de madeira em que os trabalhadores estavam alojados, tais como falta de instalação sanitária e água encanada. Sem banheiro, eles faziam suas necessidades em área aberta, no mato próximo da casa. A água consumida era proveniente de uma cacimba, sem condições de potabilidade. Os trabalhadores laboravam em serviços gerais, trato de animais, atividades de limpeza da propriedade e de lavouras, e de veículos do empregador, em troca de moradia, alimentação e pequenos valores em dinheiro. Os trabalhadores foram acolhidos e estão em local protegido. Conforme o delegado titular da Delegacia de Polícia Civil de Candelária, Tiago Bittencourt, a polícia chegou até o local por meio de denúncia. “Recebemos a denúncia via Ministério Público. Após confirmarmos que o crime realmente existia, acionamos a Polícia Federal, pelo fato do crime ser federal, e realizamos o cumprimento do mandado de busca e apreensão”, comenta. No local, foram apreendidos pelas forças policiais um fuzil 762, uma espingarda de caça, dois revólveres calibre 38 e 33 munições calibre 38. Os agentes ainda encontraram dois cachorros que sofriam maus-tratos. Os animais foram recolhidos para uma ONG do município. Segundo Bittencourt, a polícia apurou que uma das famílias estaria vivendo no local por ao menos quatro anos, enquanto a outra estaria por aproximadamente há um ano e oito meses. O empregador foi preso em flagrante e conduzido à Delegacia de Polícia Federal de Santa Cruz do Sul. Em nota, a Polícia Federal afirmou que a Justiça Federal deferiu o pedido de medida cautelar diversa da prisão para que o conduzido se abstenha de manter contato com os trabalhadores resgatados, sob pena de conversão em prisão preventiva. O empregador ainda foi notificado a efetuar o pagamento das verbas salariais e rescisórias dos três trabalhadores. O Ministério do Trabalho e Emprego emitiu o seguro-desemprego do trabalhador resgatado, que corresponde a três parcelas de um salário mínimo. A questão segue sendo acompanhada pelo MPT em Santa Cruz do Sul, que estuda como cobrar estes valores. 


R$ 200,00 POR ANO - Ainda conforme apurado pela investigação, as vítimas estavam impedidas de deixar a propriedade, sob alegação de que tinham dívidas com o empregador. Um dos trabalhadores chegoua vender um ano inteiro de trabalho por R$ 200,00.