Logo Folha de Candelária
Crônica 22/04/2024 16:27
Por: Odete Jochims

O Espírito Dominante

No século XVIII, o termo "Zeitgeist" era empregado para descrever o modo de ser coletivo de uma era, refletindo o pensamento em vigor. Ele representava uma força dominadora que moldava um fluxo ideológico sem reflexão, um “Espírito Dominante”. Hoje, presenciamos uma dinâmica semelhante, influenciada pelo "Cientificismo", uma corrente que exalta a ciência, porém, equivocadamente, se posiciona como árbitro supremo do conhecimento, relegando outras formas de sabedoria ao segundo plano. Este paradigma, embora fundamentado na busca pela verdade objetiva pode, paradoxalmente, obstruir a própria evolução científica.

Esse processo se manifesta de forma evidente na área da saúde. Pesquisas preventivas, apesar de seu potencial para salvar vidas, muitas vezes são marginalizadas em favor de abordagens terapêuticas. O imperativo comercial, discretamente, tende a priorizar a lucratividade sobre o bem-estar, visualizando o indivíduo como consumidor, repelindo intervenções que não geram retorno financeiro imediato. 

Essa mentalidade de “remediar” não só perpetua o status quo, para alguns zona de conforto, mas também cria uma espécie de rigidez científica, onde questionar o dogma estabelecido é considerado heresia intelectual. Assim como a Igreja medieval uma vez excomungou os dissidentes, o sistema contemporâneo de saúde muitas vezes exclui aqueles que desafiam a narrativa predominante. O medo do banimento profissional e do cancelamento social sufoca a criatividade e a inovação, criando uma cultura de conformidade intelectual. 

Desafiar o "Espírito Dominante" requer coragem e comprometimento com a verdade, mesmo que isso signifique enfrentar a oposição de interesses estabelecidos. É somente através da abertura para novas perspectivas e da disposição para questionar a imutabilidade que podemos verdadeiramente avançar como sociedade. O futuro do conhecimento e da saúde depende da nossa capacidade de resistir à complacência intelectual e abraçar uma visão mais ampla e inclusiva do mundo.

Mauro Falcão – Escritor brasileiro