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Geral 24/07/2020 14:58
Por: Redação

Colono: vida difícil, desde os primeiros tempos

Em muitos municípios de origem alemã, ainda é possível encontrar pessoas que falam somente o alemão e ainda carregam no dia a dia os costumes herdados de seus antepassados

Grandes transformações marcaram a vida dos primeiros colonizadores que abriram picadas pelo Rio Grande adentro, ao longo das décadas, chegando aos dias de hoje. Porém, mesmo acrescida de inúmeras inovações tecnológicas, o dia a dia dos colonos permanece repleta de desafios. Apesar da luz elétrica, tratores, colheitadeiras, televisão, entre outros confortos da vida moderna, o modo de vida, porém, pouco mudou. Telmo Lauro Müller, em sua obra Colônia alemã, histórias e memórias, registra com precisão o dia a dia dos colonos de antigamente. Fazia parte dessa rotina “levantar-se às seis, lavar-se e pentear-se, já que a escova de dentes era objeto raro; chimarrão; café; tratar os animais caseiros. Depois, a roça até o meio-dia, marcado pelo sino da igreja. Almoço. Sesta. Roça até o último raio de sol. A volta para casa. O trato das vacas, galinhas e porcos. Higiene: uma boa lavada geral, numa gamela cheia d’água, que incluía pescoço e braços, pernas até o joelho. Uma camisa limpa. Chinelos ou tamancos. A roda de chimarrão com os filhos. Os pequenos, à luz do lampião, fazem alguma lição ou pedem ajuda. A janta. O relógio já está em torno das 21h. Os filhos, com a cabeça apoiada na mesa ou no colo da mãe. São levados assim, como estão, para a cama”.

BANDINHAS - Pelo fato de serem vidas quase que exclusivamente dedicadas ao trabalho e à sobrevivência, o tempo destinado ao lazer era muito pouco. As distrações, em casa, limitavam-se às conversas à luz do lampião e à leitura dos “Kalender”, ou seja, dos almanaques, que, por muito tempo, foram o alimento espiritual da colônia. Essas publicações traziam muita leitura instrutiva, descrições de viagens e informações sobre o meio rural. Além disso, a vida na colônia tinha também uma intensa vida social, marcada em especial pelas bandinhas. Pelo fato de não haver rádio ou toca-discos ou outros aparelhos tão comuns nos dias de hoje, as bandinhas tinham lugar garantido em festas, quermesses, casamentos e festas em geral. Inicialmente formadas quase exclusivamente por instrumentos de sopro, essas formações musicais foram acrescidas posteriormente por violinos e os rabecões. Mais tarde vieram se juntar a eles os tambores, ou seja, a bateria. Importante tradição desse período voltada à música foram as sociedades de canto, que, duas ou três vezes ao ano, faziam apresentações. Em Candelária, algumas dessas sociedades sobreviveram por muito tempo. Uma delas é a Sociedade de Canto Orfeu, criada na Linha Facão em 1889.

 

Os ditos populares retratam a alma dos colonos

Cada povo e cada cultura cria e propaga seus ditos populares. Na colônia alemã não era diferente. Apresentamos, a seguir, um apanhado de ditados em alemão (com a posterior tradição) registrados no livro “Colônia Alemã”.

“Keh Sind ohne Stroof” (Não há pecado sem castigo)

“Wamme’m Deiwel dea Finger gebt, will ea die ganz Hand” (Quando se dá o dedo, o diabo quer a mão)

“Me soll dea Tag net voa dea Nacht lowe (Não se deve louvar o dia antes da noite)

“Was net iss, kann noch werre” (O que eu não sei não me aflige)

“So wie mes macht, so hot mes (Assim como se faz, assim a gente tem)

“Me sieht de Leit uff die Sten awwe net ins Gehen” (A gente vê a testa mas não vê o cérebro)

“Hingel wo viel gakst le wenig Eise” (Galinha que muito cacareja põe pouco ovo).

“Junge Faulenze gibt em alde Beddle” (Jovem preguiçoso dá um velho esmoleiro)

“Klein Kinne Klein Sorje, grose Kinne grose Sorje” (Filhos pequenos, pequenas preocupações. Filhos grandes, grandes preocupações).

“Dem Arme sei Reichtum sin sei kinne” (A riqueza do pobre são seus filhos)

“Arm mis kei Schann, awwe’s dut weh” (Pobreza não é vergonha, mas dói)

(Confira outras matérias e mensagens alusivas ao colono e motorista no suplemento especial da edição impressa da Folha de sexta, 24 de julho).

Crédito:

A imagem que ilustra esta matéria é de um quadro pintado pela artista plástica Ione Pohl