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Colunista 25/09/2018 15:05
Por: Ângelo Savi

Como não aprender

Em nome do racionalismo, a Revolução Francesa impôs a adoção do Sistema Métrico, que, por ter uma base decimal, é lógico e simples, ao contrário dos sistemas arbitrários tradicionais. O mundo inteiro adotou o metro, menos os americanos que continuam a medir distâncias em polegadas, pés e milhas; volume em galões, barris e bushels; pesos em onças e libras e superfície em acres. São medidas que não são fáceis de dividir e multiplicar e transferidas para o padrão decimal não dão resultados exatos. Os americanos não se atrasaram, como se sabe, por adotar um sistema de medição complicado e difícil.

O mesmo para a escrita. Os japoneses e chineses escrevem em ideogramas, desenhos que representam ideias. Para escrever “casa”, por exemplo, desenha-se uma casa estilizada e assim para todo o resto. Para se escrever de forma minimamente inteligível, devem ser decorados três mil ideogramas. Eles são como os sinais de trânsito, que representam “pare”, “siga”, “proibido estacionar” e assim por diante. E os orientais também não são atrasados por usarem uma escrita tão difícil de ser aprendida porque é preciso um enorme esforço de memória para decorar apenas o básico. Ninguém tem pena das crianças que têm que trabalhar duro para aprender. Eu até suspeito que o empenho que eles têm que fazer para ler e escrever é uma das causas de serem tão inteligentes.

O Sistema Métrico e a escrita dos orientais comprovam que a simplificação e a economia de trabalho, quando se trata de exercitar a inteligência, não são, necessariamente, o melhor que se pode fazer. Um professor japonês ou chinês mostra para a criança que um determinado símbolo significa uma ideia, mas quem tem que fazer o trabalho de decorá-lo é o aluno. E se esforçando, a criança exercita o cérebro, que vai se acostumando a trabalhar e não a ficar ocioso.

O consenso generalizado entre nós de que o “professor ensina” está errado. O objetivo deveria ser o de que o “aluno aprende”, como os chineses fazem, o que exige que deixemos a leniência no ensino de lado. Entre outras muitas bobagens, o MEC recomenda que não se reprove alunos nas séries iniciais. Tem a ver com o espírito politicamente correto imperante, que abomina a evidência de que há diferenças entre as pessoas, e que há crianças que simplesmente são burras. Para igualar os burros e os inteligentes opta-se por desqualificar o ensino, desestimulando os melhores e também os piores, que acabam não tendo motivo para superar suas dificuldades.

Ensinando às crianças que a consequência em aprender ou não aprender é a mesma, é óbvio que ela não irá se esforçar e nem mesmo terá curiosidade em saber como é que se lê ou se faz contas, porque a mensagem implícita na política de não reprovação é a de que aprender não tem importância.

Logo, se o objetivo da educação é o de que os alunos aprendam, gastar dinheiro com ela, como vivem prometendo os políticos, é um desperdício. Antes, é preciso ensinar o aluno a querer e saber como aprender.