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Geral 11/03/2019 13:49
Por: Luciano Mallmann

Marilei: “Se as mulheres estivessem mais presentes na política, as coisas melhorariam”

O Dia Internacional da Mulher já passou, mas ainda é tempo para homenagens. Com a palavra, Marilei Reinheimer, presidente da Liga Feminina de Combate ao Câncer

Ela se autodefine, antes de qualquer coisa, como uma mulher muito simples, que ama “sorrir para a vida”, pois, segundo o seu modo de ver, a vida é um presente de Deus.” E complementa: “Por isso, precisamos viver intensamente: esse é o meu lema.” Alguém poderá perguntar sobre como se pode ser simples levando em consideração o fato de ela ser presidente de uma entidade tão respeitada na comunidade. É de se interrogar se o fato de fazer jus aos compromissos do cargo, além da necessidade de comparecer a tantos eventos, levando a causa que representa com tamanha responsabilidade, se isso tudo permite manter esse jeito simples de ser. Porém, quem conhece Marilei Reinheimer, à frente da Liga Feminina de Combate já há quatro anos, concordará que as duas coisas são perfeitamente compatíveis: o papel de líder e, ao mesmo tempo, esse predicado que a acompanha em todas as ocasiões, que é o seu jeito de mulher humilde e simples.

Observando a biografia de Marilei, percebe-se que a mencionada característica das coisas despojadas marcou diferentes momentos de sua vida, sendo que alguns deles acabaram interferindo de modo decisivo nos atributos mais representativos de sua personalidade. Há cerca de quatro anos, por exemplo, ela estava diante do leito de morte de seu pai, quando, sabendo que às vezes ele se culpava, no íntimo, por não ter tido oportunidade de dar aos filhos uma infância e adolescência materialmente mais dignas, Marilei fez a ele um agradecimento por lhe ter permitido viver em uma família muito pobre e humilde. Segundo ela, o reconhecimento dessa importância se deu porque, segundo ela, a pobreza e, em especial, a humildade – que nunca a abandonou – permitiram que se tornasse “uma pessoa guerreira.” Marilei conta ter percebido que, através desse gesto ao mesmo tempo simples e magnânimo, um peso bastante grande foi removido dos ombros e do coração de seu pai. Poucos dias depois, ele faleceu. E, certamente, alcançou infinita paz.

“Diante das dificuldades, se vê com facilidade o que existe de realmente importante”

Nascida no município de Crissiumal, Marilei Reinheimer é filha de Eracy e Edvino Zwirter. A partir dos 12 anos, enquanto ainda frequentava a escola, começou a trabalhar no comércio da cidade, no turno inverso ao das aulas. Os cursos que frequentou, tais como pintura e sobre assuntos voltados à espiritualidade, bem como a disposição em aprender sempre, tornaram a jovem Marilei apta a extrair sabedoria das diferentes situações com que ela se deparou ao longo da vida. Um desses momentos que deixaram lições hoje sempre em mente aconteceu no período em que ela cuidava de uma criança, filha de um gerente de banco. Levando em consideração o que acreditava ser o seu lugar, Marilei fazia as refeições na cozinha, separada da família. Certo dia, o seu patrão a chamou pelo seu nome e se dirigiu a ela nos seguintes termos: “A partir de hoje, você passa a comer em nossa mesa. Porque ninguém é mais que ninguém”. Ainda hoje, essas palavras repercutem em sua memória e em sua rotina, buscando passar essa lição a quem pode. Porque, segundo afirma, “Essa noção faz crescer e leva a pessoa a ver a vida com outros olhos. Ajuda-nos a nos tornarmos pessoas mais fortes”, resume.

Integrante da Liga há nove anos, a esposa de Osmar Reinheimer e mãe de Fernando (“meu bem maior”), Marilei, sobre o seu trabalho na entidade, se diz realizada. Afirma que sempre, ao longo da vida, teve um expressivo sentimento de empatia, sentimento que só aumentou com o contato com os doentes. “Diante de doenças graves e do risco de vida, se vê com grande facilidade o que existe de realmente importante”, sintetiza. Interrogada sobre o que considera necessário para exercer o cargo de presidente da Liga Feminina de Combate ao Câncer, ela não hesita na resposta: “Para dar apoio psicológico é preciso, antes de tudo, estar bem. Consigo mesmo e com os outros”, destaca. Confessa que o seu jeito simples, sincero e discreto muitas vezes leva as pessoas a desacreditarem no seu trabalho. “Mas isso é uma coisa com que tenho de conviver”, explica.

O seu amparo em todos os momentos, afirma Marilei, provém da fé e da espiritualidade: “Na fé está tudo.” Por outro lado, o que muitas vezes a decepciona são a falsidade e as promessas não cumpridas: “São palavras que não fazem parte da minha vida”, explicita.

sobre o papel da mulher na sociedade atual, Marilei diz acreditar que o outrora chamado “segundo sexo” deveria participar mais da política, em todas as esferas. “Se isso ocorresse, as coisas melhorariam”, opina. A respeito da intensidade com que vive seus dias e desempenha os muitos papéis que a vida lhe apresentou, Marilei é enfática: “No momento, eu só tenho um dia de vida. Esse dia, eu o tenho para fazer tudo certo e bem”, finaliza.